Qual
a sensa��o que voc� sente ao ouvir algu�m pronunciar o termo marxismo? A
imagem que muito provavelmente vem � sua cabe�a � de, por exemplo, a URSS e a
sua terr�vel ditadura, como representa��o m�xima do Muro de Berlim, ou
�muro da vergonha�; ainda poderia surgir Cuba, com a pesad�ssima m�o de
Fidel Castro, esmagando o povo cubano; provavelmente Mao Ts� Thung, com a sua
filosofia de �cada andorinha que come um gr�o, � um chin�s que passa
fome�, dentre outros mais.
Pois
bem, motivos n�o faltam para acreditarmos que o marxismo, ou melhor dizendo,
Karl Marx, fosse o precursor de uma filosofia que tende � uma perversa
ditadura, repressora, no qual covardemente roubava a propriedade privada, com o
discurso da coletiviza��o. Lutas terr�veis foram travadas contra este dem�nio
que assombrava a vida de qualquer indiv�duo das sociedades capitalistas. Marx j�
prenunciava, em 1848: �Um espectro ronda a Europa � o espectro do comunismo.
Todas as pot�ncias da velha Europa uniram-se numa santa ca�ada a esse
espectro: o papa, o czar, Metternich e Guizot, radicais franceses e policiais
alem�es�. O marxismo sempre foi um motivo para a preocupa��o geral, pois
atacava diretamente a liberdade de cada um: a liberdade de ir e de vir, a
liberdade de pensar, a liberdade de compra. Esta �ltima seria sim, o grande
estandarte dos governos capitalistas contra os famigerados e pervertidos
comunistas, que possu�am como dieta b�sica o h�bito de comer criancinhas...
Nascido
em Treves, prov�ncia alem�, em 05 de maio no ano de 1818, Karl Marx foi o
fil�sofo mais importante e influente do s�culo XIX, trazendo uma concep��o
de hist�ria diferenciada e inovadora de muitos de seus antecessores e
contempor�neos; Hegel, Kant, Conte, Feuerbach, etc. O marxismo �
pronunciado e utilizado por diversos indiv�duos da filosofia e da pol�tica,
independente de seus posicionamentos e ideais e do que fizeram com suas id�ias.
Isso nos mostra a import�ncia do legado filos�fico e cultural deixado por
Marx, tornando-se assim uma das personagens mais importantes de nossa era.
Morreu em 14 de mar�o, em Londres, no ano de 1883.
Um
dos mais importantes momentos de sua vida foi quando conheceu Friederich Engels,
filho de um industrial ingl�s que traria uma vis�o mais cr�tica e realista da
situa��o social dos oper�rios. Por vezes, Engels ajudou Marx financeiramente,
ainda trabalhando em conjunto para a publica��o de A Ideologia Alem�
(1845/46) e o Manifesto do Partido Comunista (1848), e O Capital (1867) vindo a
responsabilidade recair sobre Engels para o t�rmino da obra, pois Marx havia
morrido antes de o fazer. Respectivamente estas obras representam, a
profundidade do pensamento de Marx, o panfleto da convocat�ria popular:
�Proletariado do mundo, uni-vos�, e um dos maiores tratados econ�micos
do mundo.
Para
a compreens�o deste abstrato fragmento da Hist�ria �recente� (digo
recente pois este mundo que conhecemos j� fora vislumbrado pela genialidade
da filosofia de Marx) da humanidade, devemos entender o quadro s�cio, pol�tico
e econ�mico da Europa a partir da Revolu��o Industrial no s�culo XVIII, at�
o s�culo XIX.
Relembremos:
A Revolu��o Industrial aconteceu na Inglaterra, marcando o surgimento e a
ascens�o das ind�strias, gerando assim, uma nova mentalidade econ�mica. O que
o pequeno artes�o produzia em uma semana, a f�brica o fazia em um dia
inteiro de trabalho, por um pre�o muito mais acess�vel, assim, este indiv�duo
n�o conseguia fazer frente ao poderio das f�bricas, sendo ele obrigado a
vender a sua for�a de trabalho para essas empresas, ou seja, o surgimento da
mais-valia. Surge ent�o, uma nova classe dentro da sociedade europ�ia: o
operariado. As p�ssimas condi��es de trabalho, somados aos baixos sal�rios,
faziam com que as diferen�as sociais, t�picas do capitalismo, estivessem
latentes, nesta nova fase econ�mica do mundo. O n�mero constantemente alto
de desempregados faziam com que as lutas sociais se agravassem cada dia mais.
Os bairros oper�rios cresciam de maneira desenfreada. Surgiram ent�o as
primeiras manifesta��es oper�rias, caracterizadas pelas greves, e em situa��es
mais radicais, na destrui��o das f�bricas e das m�quinas pelos pr�prios
oper�rios. Este embrion�rio modo de fazer economia j� estava destinado a viver em uma constante luta contra ele mesmo. Enquanto a filosofia do trabalho
vigorava, o sistema capitalista, contraditoriamente, exclu�a este mesmo indiv�duo
da for�a de produ��o.
�
neste quadro ca�tico vivenciado pela Europa nos s�culos XVIII e XIX, que
temos as primeiras produ��es de �certo car�ter socialista�. Ser�o
intitulados, posteriormente, de socialistas ut�picos, pois n�o haviam
definido �cientificamente� como que o proletariado poderia, algum dia,
chegar a inverter este quadro. Pior, n�o haviam analisado o capitalismo de um
ponto de vista hist�rico. �Assim, a primeira coisa a fazer em qualquer
concep��o de hist�ria � observar este fato fundamental em todo o seu
significado e em toda a sua dimens�o, e atribuir-lhe a import�ncia que lhe
� devida�. N�o estudaram as origens do capitalismo, como sendo uma
resposta a uma necessidade. Uma revolu��o. Como diria Marx, �A revolu��o
traz o novo�. A antiga sociedade feudal n�o conseguia mais suprir suas
necessidades. Precisava de algo mais para sua sustenta��o, para sua
liberta��o rumo a uma nova condi��o econ�mica: �[...] n�o � poss�vel
conseguir uma liberta��o real a n�o ser no mundo real e com meios reais; de
que n�o se pode abolir a escravatura sem a m�quina a vapor e a mule-jenny,
nem a servid�o sem uma agricultura aperfei�oada, de que de modo nenhum se
pode libertar os homens enquanto estes estiverem em condi��es de adquirir
comida e bebida, habita��o e vestu�rio na qualidade e na quantidade
perfeitas�.
Observamos,
ent�o, que estamos tratando de hist�ria propriamente dita: a concep��o
marxista de hist�ria com o conceito de pr�xis, como ele vai analisar os modos
de produ��o, como que este modo de produ��o vai interferir nas rela��es
sociais, gerando assim a luta de classes.
Esta
concep��o traz a hist�ria como portadora do novo, transformadora e em
constante movimento, sendo o primeiro ato hist�rico da humanidade a pr�xis,
ou seja, a transforma��o da natureza pelo homem. Esta transforma��o age
simultaneamente com o indiv�duo, onde fica latente o materialismo dial�tico
da concep��o marxista. A pr�xis �, portanto, a a��o concreta do homem,
onde sujeito e objeto est�o incondicionalmente unidos. Ent�o, Marx contrap�e
a sugest�o de Kant, que o sujeito e o objeto est�o separados. Ao unir
objeto e sujeito Marx, assume o conceito de que ambos est�o ligados desde o
princ�pio, e desde ent�o, o homem tem que modificar a natureza para atender
suas necessidades, mas num movimento dial�tico isso cria novas necessidades,
fazendo o homem buscar mais solu��es e t�cnicas diversificadas. �A hist�ria
de toda a sociedade � a hist�ria de lutas de classes. Homem Livre e escravo,
patr�cio e plebeu, bar�o e servo, mestres e companheiros...�. Ao observar
estas palavras, notamos que o motor da hist�ria � a luta de classes, nas
suas diversas rela��es. Aqui, encontramos uma contraposi��o a Hegel, que
diz que �a raz�o � o motor da hist�ria�. Marx comprova, que o que
impulsiona a hist�ria s�o as diferen�as sociais entre os homens, sendo tudo
fruto destas rela��es sociais conflitantes e que s�o determinadas pelo modo
que estes est�o produzindo, que acaba por causar as diferen�as que
impulsionam as mudan�as das estruturas. Estes modos de produ��o pertencem
� infra-estrutura. Estes est�o sendo transformados conforme a necessidade da �poca
em que o indiv�duo est� inserido: modo de produ��o primitivo coletivo, asi�tico,
feudal, escravista, capitalista, etc. Infra-estrutura, ent�o, � a base
material de um modo de produ��o, como os recursos naturais, meios e rela��es
de produ��o, determinando, ent�o, a superestrutura, que s�o as
normas determinadas pela sociedade: direito, religi�o, cultura.
Marx
n�o lida apenas com o aparato econ�mico da hist�ria: ele apresenta
cientificamente todos os processos acima, num movimento constante, t�nue e
ardiloso, propondo uma nova maneira de estudarmos a humanidade atrav�s das
suas constru��es. Enquanto os historiadores do XIX discutiam os feitos do
aristocrata, Marx estudava como que as rela��es sociais se deram para um
determinado indiv�duo ser um aristocrata, e como se dava as rela��es dele
com as demais camadas formadoras de determinada sociedade.
Sendo
assim, percebemos que ao convocarmos o termo �marxismo� estamos lidando
com uma das filosofias mais avan�adas do s�culo XIX, ao passo de que sua
leitura nos dias de hoje, apresenta-se extremamente atual.
N�o
podemos nos esquecer de que esta filosofia foi uma cria��o humana, estando
� merc� de interpreta��es: L�nin, Stalin, Mao, Poe-Pout, Fidel. Arrisca-se
aqui uma compara��o com o Cristianismo, e com as v�rias interpreta��es
existentes da filosofia crist�, da b�blia e as correntes que da� surgiram:
catolicismo, protestantismo, ortodoxos. Acredito que tanto Cristo quanto Marx
lamentariam a maneira de como foram interpretadas suas filosofias.
Apresentaram solu��es, n�o as impuseram. Indicaram os caminhos para a
implanta��o das mesmas, por�m, o fator humano de seus sucessores e
receptores estava presente. Al�m do pr�prio fator humano de Marx e Cristo
deve ser levado em considera��o. N�o foi poss�vel materializar a ideologia
e a filosofia e faz�-la governar.
N�o
temos agora um comunismo puro, como pensado por Marx. A Uni�o das Rep�blicas
Socialistas Sovi�ticas fragmentou-se tragicamente, devido � corrup��o e aos
seus tiranos governantes; a China � um pais de car�ter comunista, por�m est�
abrindo suas portas para o mercado internacional; n�o sabemos o que vai
acontecer com Cuba no futuro com a morte de Fidel Castro e, com a visita
de v�rios presidentes da Am�rica e de um governador norte-americano,
tornou-se ainda mais turva qualquer previs�o que se possa fazer.
Nenhum
dos dois sistemas pol�ticos sobreviventes no p�s-guerra apresentou uma solu��o
plaus�vel para os diversos problemas que rodeiam o mundo proveniente do
capitalismo e do comunismo. A classe oper�ria dentro da URSS. foi t�o ou
mais oprimida que nos pa�ses capitalistas com sua terr�vel explora��o da
mais-valia.
O
marxismo tem que ser repensado sim. Tem que se adequar ao mundo atual, que �
diferente do s�culo XIX. O capitalismo mudou nestes �ltimos 151 anos, por�m,
a cada mudan�a, se torna mais feroz e violento, gerando cada vez mais
riqueza, mas para poucos, ou seja, aumentando a popula��o que se
encontra no limiar da pobreza. Os sobreviventes precisam se adequar, pois
sempre haver�o crises dentro do capitalismo e enquanto o comunismo n�o for
revisto, ser� sempre pensado como um sistema pol�tico morto e descartado,
devido ao seu insucesso na URSS.
Nos
�ltimos anos, estamos assistindo a constantes altos e baixos do sistema
atual. Assim, se faz cada vez mais necess�rio, pensarmos uma solu��o para as
contradi��es latentes do capitalismo. Por�m, s�o vis�veis os debates e
quest�es que est�o sendo levantadas n�o somente ao marxismo, mas tamb�m ao
mundo como um todo, neste quase s�culo XXI. Acredito que, dentro em breve,
estaremos assistindo o surgimento do Neo-marxismo. Quem sabe, afinal, acredito
que o marxismo n�o aconteceu em sua verdadeira e ampla proposta.