O
embargo do Canad� � carne brasileira foi um ensejo para as mais diversas
manifesta��es. As mais variadas correntes j� se pronunciaram com todos os
matizes de xenofobismo, mas tamb�m de sadio patriotismo. Analistas de prol que
militam na gloriosa imprensa nacional foram mais ao fundo do problema e
diagnosticaram aspectos pol�ticos na quest�o de fundo econ�mico, mostrando as
implic�ncias do caso Bombardier/Embraer atinente � venda de avi�es, e tamb�m
pin�aram as conseq��ncias das inconseq��ncias da atual pol�tica
neo-liberal em fun��o da qual vive o pa�s.
Quando n�o h� uma l�gica absoluta no modo de ser e agir dentro e fora das
fronteiras p�trias o imbr�glio � inevit�vel. Seja como for, �no fritar dos
ovos�, prevaleceu uma postura que o Brasil sempre teve no sentido de
salvaguardar sua soberania. Assim, por exemplo, um dos epis�dios gloriosos do
Segundo Reinado que muito honrou o longo governo de Pedro II foi exatamente a
firmeza do Imperador na c�lebre Quest�o Christie. Esta culminou com o
rompimento de rela��es com a todo-poderosa Inglaterra. A arrog�ncia do
embaixador ingl�s William Christie recebeu um duro golpe ao exigir uma elevad�ssima
indeniza��o por uma carga desaparecida do navio que naufragara nas costas do
Rio Grande do Sul e ao querer o castigo de policiais brasileiros que prenderam
tr�s oficiais da Marinha da Inglaterra que estavam � paisana e embriagados
pelas ruas do Rio de Janeiro. N�o menor, ent�o, a ousadia inglesa em mandar
embarca��es de guerra ao litoral brasileiro, aprisionando tr�s navios da
nossa Marinha Mercante. �rbitro da quest�o, Leopoldo I, soberano da B�lgica,
foi favor�vel ao Brasil que, antes, com muita arg�cia, j� havia ressarcido os
ingleses quanto � carga do navio. O rei belga determinou que a Inglaterra se
desculpasse por ter ofendido a na��o brasileira. N�o tendo os ingleses
acatado a decis�o, D. Pedro II rompeu rela��es diplom�ticas com aquele pa�s.
Em 1865 o governo ingl�s apresentou desculpas oficiais ao Imp�rio Brasileiro e
o affaire foi sanado.
Not�vel a afirma��o da soberania nacional brasileira, n�o tendo o Brasil
se curvado perante o poderio daquela potencia mundial. Alienar a pr�pria
soberania, seria admitir uma subservi�ncia inaceit�vel. A tese,
internacionalmente reconhecida, da autodetermina��o dos povos, na pr�tica,
sucumbe diante de colonialismo sub-rept�cio e ganha dimens�es graves por for�a
da atual globaliza��o da economia. Esta, orientada pelas leis do mercado, as
quais s�o aplicadas de acordo com os interesses dos donos do poder, trazem
profundos resultados negativos. Entre eles a subservi�ncia que coloca em
risco a independ�ncia nacional. Se se leva em conta a d�vida externa
brasileira com as elevadas taxas de juros, fruto de pol�ticas financeiras
especulativas, se percebe que o perigo �, de fato, real e n�o imagin�rio.O
pagamento de juros constitui uma desgra�a para a economia das na��es
pobres, como o Brasil, privando os governantes da disponibilidade das verbas
necess�rias ao desenvolvimento social, � educa��o, � sa�de e � institui��o
de um fundo gerador de empregos. Ao afetar o desenvolvimento interno, as
chances de riscos para a soberania p�tria assustadoramente aumentam.
A
verdade � que a situa��o econ�mica brasileira, apesar de toda a propaganda
governamental dizer o contr�rio, � extremamente preocupante. Isto � porta
aberta para uma s�rie de contratempos no que diz respeito � independ�ncia
nacional sob muitos aspectos. As queixas sobre o que internamente tem ocorrido
no Brasil de hoje s�o muitas. Cumpre firmar o primado da pessoa, a preval�ncia
do humano e do social sobre o econ�mico e o financeiro, uma mais justa
distribui��o das riquezas e bens produzidos, sal�rios mais condizentes com
a dignidade do trabalhador. Reverter esta situa��o estando sob o jugo do
capital estrangeiro � extremamente complicado, para n�o se dizer imposs�vel.
Seja como for, defender a soberania nacional nesta ou naquela ocasi�o, por um
ou outro prisma, � saud�vel, porque firma princ�pios e abre um leque de
reflex�es que, sem d�vida, aclaram os caminhos do porvir.