A Igreja Cat�lica Apost�lica Romana se constitui como uma das institui��es religiosas mais importantes do mundo. � fato que para a organiza��o de uma estrutura t�o complexa, temos um elaborado sistema hier�rquico que enfatiza a unidade e a autoridade.
Apesar do objetivo supra-racional da Igreja Cat�lica (a salva��o das almas), esta, como uma institui��o, desenvolve interesses e objetivos que necessitam de um instrumental pr�tico para sua realiza��o. Assim, nascem preocupa��es como a constru��o de sua unidade, n�mero de adeptos, situa��o financeira, posi��o em rela��o a outras religi�es e outras preocupa��es que se fazem necess�rias para sua preserva��o.
Com o compromisso de validar a salva��o universal, a Igreja Cat�lica se
prop�e incluir em suas fileiras todas a classes sociais, o que explica o car�ter cauteloso e conservador do Vaticano no que se refere a evitar polariza��es e mudan�as radicais.
As a��es da
Igreja, como em qualquer outra institui��o, s�o influenciadas pelas mudan�as na sociedade em geral, que se refletem em conflitos internos referentes aos v�rios grupos politizados existentes em sua composi��o, como mostra Scott
Mainwaring (1989, p.19): �Dentro da Igreja h� muitas vis�es conflitantes com os leg�timos interesses da institui��o e como alcan��-los. Dependendo do modelo que se tenha da Igreja, a ado��o de um determinado prop�sito pode ser visto como absolutamente essencial ou como err�neo�.
Assim, apesar da Igreja n�o promover um ou outro interesse de setores conflitantes,
ela repensa seu instrumental de acordo com os conflitos das diferentes concep��es de f�. Esses conflitos geralmente n�o s�o antag�nicos, nem totalmente consciente � a busca pela hegemonia dentro da Igreja. Mas estes processos ocorrem quando os setores eclesi�sticos tentam estabelecer sua percep��o da miss�o da Igreja como verdadeira e correta.
Tentando se enquadrar no contexto contempor�neo, a Igreja Cat�lica iniciou uma s�rie de procedimentos
modernizantes no Papado de Jo�o XXIII (1958-1963).Contudo, n�o se distanciou de suas caracter�sticas conservadoras e hier�rquicas, mesmo quando iniciou seu apoio aos grupos leigos e populares.
Os movimentos de car�ter n�o institucional acabam por movimentar mudan�as importantes dentro da Igreja, mas � importante frisar que estes mesmos movimentos s� conseguiram for�a de a��o com a receptividade e o suporte da hierarquia eclesi�stica. Quando determinado movimento n�o se enquadra nos objetivos principais da Igreja, acaba por permanecer relativamente isolado e se torna incapaz de modificar as tend�ncias dominantes.
� ineg�vel a import�ncia dos movimentos leigos e populares no Brasil, principalmente ap�s a Segunda Guerra Mundial, quando podemos perceber uma grave crise na Igreja Cat�lica brasileira. Neste per�odo, h� uma mudan�a na mentalidade pol�tica, agora direcionada principalmente para a preocupa��o com os pobres e com a justi�a social. Os grupos que movimentavam esta preocupa��o estavam dispostos a abandonar os costumes tradicionais em nome da sua nova concep��o de f�: �As manifesta��es da crise inclu�am uma resist�ncia a seculariza��o, o alarmante crescimento do protecionismo e do espiritismo, menor comparecimento � missa, uma crise de voca��es, o crescimento da esquerda, e uma perda na influencia entre as classes dominantes e entre a classe oper�ria
urbana�(MAINWARING,1989, p.33).
Atualmente, ap�s um per�odo de �banimento� do sentimento religioso, consagrado em nome da racionalidade e da autonomia
cient�fica, podemos perceber uma nova ressacraliza��o da sociedade e uma tempestuosa e inquietante busca pelo divino.
Recarregada com um novo ardor contemplativo, a Igreja se v� obrigada a se adaptar �s novas caracter�sticas religiosas e utiliza-se do poder de articula��o dos movimentos laicos a fim de recriar uma via de acesso que agregue a grande massa que hoje se v� a merc� de um fragmentado mercado religioso, sem, no entanto, modificar profundamente suas bases hier�rquicas e conservadoras.
Como
resultado desta nova pol�tica de agrega��o, podemos ver a manifesta��o de
uma corrente neoconservadora, expressa em movimentos laicos como a Renova��o
Carism�tica Cat�lica (RCC), Communione e Liberazione, Neocatecumenato, entre
outras.
Dentre
destas, o chamado Caminho Neocatecumenal se destaca pela sua singularidade em
rela��o aos movimentos leigos que atuam hoje em dia. Com caracter�sticas
�nicas, como o estilo dos c�nticos, a arquitetura e decora��o de suas
celebra��es, a forma��o de um corpo eclesi�stico pr�prio e a
fundamenta��o em uma �Igreja Primitiva� advinda de um per�odo anterior
a uma �Doutrina Escol�stica�, o movimento Neocatecumenal cresce de
maneira eloq�ente em v�rios pa�ses, tanto da Am�rica como na Europa,
�frica e �sia, e causa uma s�rie de pol�micas dentro do corpo sacerdotal
cat�lico.
Apesar
de ser apoiado pelo Vaticano e contar com a profunda integra��o do Papa
Jo�o Paulo II, o movimento n�o se isenta de severas acusa��es e por vezes
s�o identificados por alguns como um movimento independente e her�tico, como
cita o Padre Enrico Zoffoli, em seu livro intitulado �As heresias do
Movimento NeoCatecumenal� (MAINWARING,1989, p.33).
N�o
obstante ser um movimento recente, o Caminho Neocatecumenal j� mant�m uma
relativa bibliografia anal�tica acerca de sua legitimidade e de sua
adequa��o aos moldes do direito can�nico. Entretanto, este trabalho de
estudo do Caminho Neocatecumenal, que hora � apoiado, hora � condenado,
sempre foi concebido sob a cr�tica de te�logos e pessoas ligadas
oficialmente ao clero ou de indiv�duos ligados a um ou a outro movimento
laico.
O
Caminho Neocatecumenal �,com certeza, um dos movimentos que mais cresce no
mundo. Esse crescimento � visualizado na quantidade de comunidades
catecumenais que se iniciam em v�rios Estados brasileiros e em v�rios
pa�ses do mundo, al�m da crescente simpatia demonstrada ao movimento pelo
Papa Jo�o Paulo II, o que confirma sua credibilidade diante ao alto clero. �
de extrema relev�ncia um estudo que enfoque a maneira como o Caminho
Neocatecumenal interage com seus membros e com o Vaticano. O estudo da
cria��o e consolida��o de sua identidade em um momento de clara expans�o,
com certeza se mostrar� necess�rio para uma maior compreens�o desta nova
movimenta��o cat�lica dentro da Am�rica Latina.
Bibliografia
MAINWARING, Scott. Igreja Cat�lica e Pol�tica no
Brasil (1916/1985). S�o Paulo: Editora Brasiliense, 1989.