Para
n�s, o que a Hist�ria tem de fascinante � esta incomensur�vel possibilidade
oferecida de sermos eternos viajantes do tempo a povos e lugares que, de algum
modo, captaram a nossa aten��o. Mas esta visita ao castelo da Bela Adormecida
n�o � finita. A historiografia permite-nos sempre, com os seus avan�os, um
�revisitar� do mesmo �local� para nos apercebermos de novas pedras neste
mosaico maravilhoso que � o conhecimento hist�rico. Este despretensioso ensaio
sobre a civiliza��o hebraica significou exatamente isto para mim. De fato, a
�hist�ria de Israel� est� mudando e a seq��ncia apresentada neste ensaio
tem sido j� questionada. Todavia pensamos que a solu��o tem de ser de
consenso. Pois se � bem verdade que o texto b�blico n�o pode continuar a ser
tido como verdade absoluta, se � verdade que tem que ser confrontado com as
fontes arqueol�gicas e que tem que ser tida em conta a hist�ria dos povos
circundantes para a constru��o de uma hist�ria de Israel que seja cada vez
mais �hist�rica� e n�o somente �b�blica�, n�o podemos de forma
alguma descurar a import�ncia dos escritos b�blicos.
Tendo como pressuposto o que atr�s anunciamos, o texto que oferecemos ao leitor
� uma vis�o da hist�ria de Israel.
Nos desertos vizinhos ao Tigre e ao Eufrates deambulavam povos n�mades,
sustentados por numerosos rebanhos, acampando em tendas. Organizavam-se em
tribos, cada uma constitu�da por numerosas fam�lias descendentes de um
antepassado comum. Algumas dessas tribos instalavam-se por per�odos longos
perto das zonas cultivadas ou pr�ximas de �gua, passando a um modo de vida
semin�made. Entre estas tribos, origin�rias, segundo se cr�, da
Mesopot�mia, encontrava-se o povo hebreu, de origem semita, que era chefiado
por patriarcas. Abra�o, patriarca dos Hebreus, conduziu o seu povo da cidade
de Ur para Cana�, a Terra Prometida (Palestina e parte da Fen�cia).
Chegando
� Palestina , regi�o compreendida entre a Mesopot�mia e o Egito, Abra�o e
o seu povo, encontraram a� a oposi��o de outros povos . Esta regi�o era a
liga��o terrestre por onde eram transportadas mercadorias entre as
supracitadas, e ricas, civiliza��es. Por l� passaram tamb�m ex�rcitos
poderosos como o mesopot�mico, o eg�pcio, o grego ou o romano. Este fato
geogr�fico determinou o curso da hist�ria hebraica.
Cerca
de 1700 a.C. v�timas da fome provocada pelas secas, deslocaram-se para o
Egito sob o comando de Jac�. De fato, este reino fornecia melhores condi��es
de sobreviv�ncia e a� viveram, segundo o relato b�blico, sobre a prote��o
de (hebreu que havia conquistado as gra�as do fara� pelo seu dom adivinhat�rio
e de interpreta��o de sonhos, mas tamb�m pela sua capacidade
administrativa). Este homem era um dos filhos de Jac� que, tendo sido vendido
como escravo pelos irm�os, acabaria, depois de muitas vicissitudes, ministro
do fara�. Todavia a multiplica��o do povo judeu foi t�o significativa que
o fara� reinante come�ou a temer que este se tornasse uma amea�a. Assim,
estando h� cinco s�culos no pa�s eg�pcio, no reinado de Rams�s II
(1301-1235 a.C.) , os Hebreus foram reduzidos � escravatura e
transformaram-se nos verdadeiros obreiros de grandes obras dos fara�s.
Existindo ainda nos dias de hoje pinturas murais que comprovam este fato. Este
povo libertar-se-ia sob o comando de Mois�s. Este epis�dio � narrado na B�blia
no Livro do �xodo. Este l�der, segundo o texto sagrado, tinha sido criado
desde pequenino com um pr�ncipe, pela filha do fara�. Ap�s a sa�da do
Egito a miss�o deste era conduzir os hebreus novamente � Terra Prometida.
Depois de ultrapassadas as dificuldades em obter autoriza��o para sair do pa�s
dominador, fizeram a dura travessia do deserto do Sinai que duraria cerca de
quarenta anos. No Monte Sinai, Mois�s recebeu de Jeov� as T�buas da Lei,
onde foram inscritos os Dez Mandamentos. Todavia, a B�blia diz-nos que Mois�s
morre antes de entrar na Palestina.
A
fixa��o na Palestina � vista de forma diferente pelos autores. De fato, a
conquista deste territ�rio pelas doze tribos de Israel, comandadas por
Josu�, como � contada no livro que leva o seu nome, tem o suporte de
testemunhos arqueol�gicos respeit�veis (por exemplo, a destrui��o de
importantes cidades de Cana� na segunda metade do s�c. XIII a.C.) que a
consideram uma s�rie de conquistas lideradas por ju�zes (chefes militares) e
por reis. Todavia, alguns autores a preferem cont�-la como sendo pac�fica e
progressiva.
Na
�poca dos ju�zes, os israelitas organizaram-se numa confedera��o de doze
cl�s independentes unidas por um fator religioso, o pacto entre Deus e os
homens ocorrido durante o �xodo. "Foi um per�odo de adapta��o e
consolida��o (s�culos XII-XI a. C.), sem coes�o pol�tica, estrutura
estatal, ex�rcito, nem governos comuns, mantendo-se o antigo car�ter
patriarcal.(...). A confedera��o tribal debilitada pelas for�as que a
acossavam e pelas pr�prias disputas internas, dificilmente sobreviveu neste
per�odo. A crise perante o ataque dos filisteus evidenciou a necessidade de
uma unidade pol�tica sob a id�ia mon�rquica."(1)
O
primeiro rei foi Saul que gozou de grande popularidade, embora penasse de
grande instabilidade emocional. Ao querer usurpar fun��es sacerdotais, faz
com que Davi seja ungido. Ap�s vicissitudes v�rias Davi encontra-se no trono
e procura assegurar a independ�ncia do seu povo. Mandou tamb�m realizar
censos com fins fiscais. Fac��es havia pouco afeitas a esta id�ia de
monarquia. Com o passar do tempo foi a vez de Davi lidar com rebeli�es.
Salom�o,
apoiado pelas tropas mercen�rias daquele e pelo profeta Nathan, lutou durante
longos anos at� vencer por completo os seus opositores. Conhecido pela sua
grande sabedoria, Salom�o pautou sua a��o governativa pelos seguintes
aspectos: organiza��o econ�mica do reino, fortifica��o de cidades
(nomeadamente Jerusal�m), ativa a��o diplom�tica com outros Estados,
constitui��o de alian�as atrav�s de matrim�nios. Neste reinado chega ao
fim o per�odo tribal para emergir e solidificar-se a monarquia. Contudo,
cresceram tamb�m as diferen�as sociais e uma economia mercantil e
industrial. O com�rcio era monop�lio do rei, importando-se metais preciosos,
madeiras finas, marfim. A agricultura n�o foi esquecida tendo-se incrementado
a produ��o com a introdu��o do uso do arado de ferro. Deve-se a Salom�o o
engalanar da cidade de Jerusal�m com um pal�cio e edif�cios administrativos
e a constru��o do Templo. Neste desenvolveram-se a m�sica e a atividade
liter�ria.
Morto
Salom�o, abriu-se claramente uma crise. Dez tribos revoltaram-se contra o
herdeiro leg�timo do trono, Robo�o, e fundaram a norte o reino de Israel que
teve Samaria como capital. As tribos fi�is, de Benjamim e de Jud�, fundaram
outro reino que guardou Jerusal�m como o principal centro. Com esta cis�o os
Hebreus enfraqueceram, tendo sido primeiro invadidos pelos ass�rios, pelos babil�nios,
pelos persas, pelos gregos e, mais tarde, foram incorporados no Imp�rio
Romano.
Sem
terra, iniciaram a Di�spora, espalhando-se pelo mundo em comunidades
judaicas, tendo o seu Estado sido restabelecido somente no s�culo passado
(1948, Estado de Israel). Atualmente Jerusal�m encontra-se dividida entre �rabes
(a parte antiga da cidade) e a rep�blica de Israel (a parte nova). Esta � a
cidade santa dos crist�os, dos judeus e dos mu�ulmanos. A maior influ�ncia
sobre a esperan�a e o destino do g�nero humano, infelizmente demasiado
flagelada por conflitos .
Notas de refer�ncia
(1)TOR�BIO,
Manuel Cuenca (dir.). Hist�ria Universal, vol.1, Edi��es Oceano:
Lisboa, 1992, p. 126.