Com exce��o dos incas, n�o conhecemos
uma civiliza��o sem escrita. E os cretenses tamb�m possu�ram a sua. Arthur
Evans j� chamava a aten��o para esse aspecto durante seu trabalho: �O
grande descobrimento foram os enormes dep�sitos de tabuinhas de argila,
inteiras ou fragment�rias, an�logas �s babil�nicas, por�m com inscri��es
pr�-hist�ricas de Creta. Devo ter umas setecentas pe�as�(Apud
GIORDANI, 1967, p.42).
Em suas escava��es Evans descobriu tr�s
tipos de escrita em Creta, batizadas por ele como: Hierogl�fica, Linear A e
Linear B.
O sistema mais antigo era pictogr�fico,
que Evans chamou de Hierogl�fica, por uma analogia com a escrita eg�pcia. No
entanto, as duas escritas n�o podem ser confundidas.
Essa escrita foi encontrada em tabletes de
barro e em sinetes de pedra, mas sua quantidade de exemplares � reduzid�ssima,
vindo de Cnossos, Festos e M�lia. Usada na primeira metade do 2� mil�nio a.C.
por cerca de 500 ou 550 anos, os hier�glifos cretenses n�o foram decifrados at� hoje,
exceto os numerais que indicam o uso de um sistema decimal pelos min�icos.
Hoje, se tem quase certeza que o idioma dos hier�glifos n�o � o grego e
provavelmente nenhum idioma conhecido at� hoje.
A escrita denominada Linear A � sil�bica,
sendo usada a partir de 1600 a.C., ou at� um pouco mais antiga. Tamb�m chamada
de proto-linear, a Linear A foi usada at� a ocupa��o de Cnossos pelos mic�nicos
por volta de 1450 a.C. Segundo Finley (1990, p.41),
a Linear A foi inventada para a l�ngua
utilizada pelos min�icos que atingiram a idade �urea de Creta e ela com
certeza n�o era o grego.
A Linear A foi difundida por toda ilha.
Exemplos dela foram encontrados em vilas e arquivos de pal�cios em mais de 20
locais em Creta e em tr�s locais no exterior, em Aia, Filacopi e Acrotiri,
respectivamente nas ilhas de Keos, Melos e Tera.
Tablete com a Linear A,
ainda indecifrada
Os exemplares de textos foram encontrados
em v�rios objetos diferentes, principalmente nas tabuinhas de argila. Em H�gia
Tr�ada e C�nia est�o a maior parte dos exemplares em argila, mas tamb�m
foram encontradas em Arcanes, Cnossos, M�lia, Festos e Cato Zacro. Al�m das
tabuinhas de argila, essa escrita foi encontrada em seis mesas de pedra para
liba��o, em moldes para colher, em um batente de porta, um anel de ouro, um
machado de ouro de miniatura, em alfinetes de prata e ouro, em um tablete de
bronze, em um n�mero pequeno de lingotes de bronze e em um tinteiro de barro.
No entanto, n�o foram encontrados sinetes com a Linear A.
Antes de falarmos da Linear B � importante
registrarmos o enigm�tico Disco de Festos. O disco � de barro assado, coberto
com inscri��es em ambas as faces. Os sinais foram impressos em um caminho
espiralado e o encaixe perfeito dos s�mbolos sugere que houve um planejamento
antes de sua execu��o.
Descoberto na ala norte do pal�cio de
Festos em 1908, o disco continua um enigma para os estudiosos, j� que n�o
existe em nenhum outro lugar do mundo, um exemplar com esses s�mbolos. Entre os
sinais impressos � poss�vel visualizar pessoas, objetos e caracteres lineares.
Acredita-se que os s�mbolos faziam parte de um silab�rio e que a leitura era
feita da parte exterior para a interior.
As duas faces do
Disco de Festos
Tablete com a Linear B
Infelizmente, o �nico sistema decifrado
foi a escrita Linear B. Sua decifra��o come�ou em 1952/53 com os trabalhos do
arquiteto Michael Ventris e do ling�ista John Chadwick que descobriram que a a l�ngua da Linear
B era um
grego arcaico. Esse sistema derivado da Linear A, est�
associado � ocupa��o de Cnossos pelos mic�nicos em 1450 a.C. Seu n�mero de
exemplares � muito superior se comparado aos hier�glifos e a Linear A. A
propor��o entre Linear B e Linear A em Creta � de 10 para 1.
As principais inscri��es da Linear B s�o
as tabuinhas de argila usadas para registros palacianos. S� em Cnossos, o n�mero
supera 3 mil. S�o encontradas tamb�m em cer�micas, sinetes de pedra, mesas de
liba��o e alguns outros objetos. Finley (1990,
p.40) acredita que a cera e o papiro eg�pcio
podem ter sido usados, mas n�o resistiram ao tempo.Tamb�m podemos incluir
o uso de pergaminhos.
A sobreviv�ncia das tabuinhas ocorreu por
um golpe do acaso. Quando os pal�cios em Creta foram destru�dos
definitivamente, por volta de 1400 a.C, os inc�ndios acabaram assando as t�buas
e preservando-as. As pesquisas realizadas indicam que os min�icos e os mic�nicos
usavam as tabuinhas enquanto estavam �midas, sendo guardadas por um ano e
depois descartadas quando sua utilidade esgotava-se. Por isso, a destrui��o
dos pal�cios acabou preservando as �ltimas tabuinhas registradas.
A Linear B foi encontrada na Gr�cia e em
Creta. Na ilha, as tabuinhas s� foram encontradas em Cnossos e C�nia. Elas
eram registros governamentais como listas de pessoal, de gado, produtos agr�colas,
tecidos, vasos, m�veis, objetos de metal, tributos, oferendas rituais e informa��es
sobre propriedade e uso da terra.
A diversidade de informa��es das
tabuinhas pode dar uma falsa impress�o. As milhares de t�buas apresentam de tr�s
ou quatro palavras at� 150, mas as senten�as curtas s�o as mais comuns.
Infelizmente, n�o foram encontrados acordos, normas administrativas, leis ou
decis�es judiciais e n�o existem palavras traduz�veis com seguran�a para
comprar, vender, emprestar ou pagar um sal�rio.
Mesmo com as 630 palavras conhecidas do
idioma da Linear B, as tabuinhas s�o mudas sobre as transa��es entre
particulares, sobre o com�rcio exterior e sobre a organiza��o ou execu��o
das opera��es necess�rias ao com�rcio. Quest�es como a exist�ncia de uma
classe de comerciantes executora dessas fun��es, ou se era o pal�cio quem as
realizava, ou se havia uma concess�o do Estado para alguns comerciantes
privilegiados ficam sem resposta. Estudiosos acham que essa lacuna sobre o com�rcio
exterior existe porque esse tipo de registro foi feito em objetos perec�veis
como papiro ou pergaminho.
A aus�ncia de textos liter�rios,
religiosos e cient�ficos em Creta, nos levam a relacionar o surgimento da
escrita em Creta com as necessidades da administra��o palaciana. �De fato,
pode-se argumentar que as necessidades de uma administra��o centralizada
constitu�ram um est�mulo bem maior para o desenvolvimento da escrita, tanto
para os sum�rios (cuneiforme) como em Creta, do que as necessidades
intelectuais e espirituais.�(FINLEY, 1990, p.41).