Muito se fala da banalidade do mal: a maioria dos carrascos nazistas, em suas casas, pareciam vov�s bondosos, encontrados em quaisquer fam�lias. Em 1959, o jornalista alem�o Norbert Lebert resolveu investigar as rela��es familiares na Alemanha do Terceiro Reich. O resultado est� em �Tu carregas meu nome�, reportagem que conquistou intelectuais do calibre de Eric Hobsbawm: �� um livro fascinante�.
A partir do final da d�cada de 50, Norbert come�ou a coletar depoimentos de filhos de proeminentes oficiais nazistas. Jovens com sobrenomes como Himmler, Hess, Bormann e G�ering. Rapazes e mo�as que, em sua maioria, faziam parte da Juventude do Reino, criada por Baldur von Schirach para exaltar a dita supremacia ariana. O jornalista tamb�m entrevistou os filhos de Hans Frank, governador-geral da Pol�nia ocupada.
Quarenta anos ap�s a morte de Norbert, seu filho, Stephan, tamb�m jornalista, descobriu as entrevistas nos guardados do pai e resolveu continuar o projeto. Stephan fez mais perguntas aos agora cidad�os de meia-idade. E embora alguns tenham se recusado a colaborar, a maioria aceitou retomar as conversas.
�Tu carregas meu nome� mostra a imagem que as crian�as tinham dos pais e as conseq��ncias dos nomes no seu futuro profissional e afetivo. Um retrato fiel e extraordin�rio de como um indiv�duo � capaz de lidar com uma heran�a t�o terr�vel. O livro traz, ainda, os fatos por tr�s do processo de crescimento: a queda do prest�gio antes associado ao pr�prio nome, o julgamento dos pais em Nuremberg, as senten�as de morte por enforcamento e o suic�dio de muitos oficiais.
As hist�rias em �Tu carregas meu nome� fascinam, surpreendem e, muitas vezes, incomodam. Uma delas apresenta o jovem que se recusa a prestar servi�o militar, e consegue seu intento baseado no argumento de seu pai ter sido prisioneiro do estado, condenado como um criminoso de guerra nazista. Mostra o processo da educa��o de um garoto que aprende os princ�pios do fascismo, forma-se num internato cat�lico e se torna um mission�rio na �frica. Investiga como a mulher que n�o consegue emprego, pois se recusa a mudar de sobrenome, consegue sobreviver em um sub�rbio com o nome do marido, e mant�m uma teia de contatos secretos com outros nazistas nost�lgicos.
Um dos casos focaliza um jornalista da revista Stern, autor de um artigo responsabilizando o pai por dois milh�es de mortes, que recebe uma montanha de cartas de alem�es ultrajados: �n�o importa o que o seu pai tenha feito, pais devem ser honrados�, argumentaram ent�o os leitores germ�nicos.
�Tu carregas meu nome� � uma not�vel e esclarecedora contribui��o para nossa compreens�o do mundo do nazismo. E como esse passado ainda assombra o presente de pessoas, filhos presos num julgamento moral dos feitos de seus pais.
Stephan Lebert nasceu em 1961. Formado na Escola Alem� de Jornalismo em Munique, trabalhou para o S�ddeutsche Zeitung e Der Spiegel, antes de tornar-se editor do Berliner Tagesspiegel. Recebeu o pr�mio Egon Erwin Kisch. Norbert Lebert (1929-1993) foi rep�rter e jornalista free lance, autor de v�rios livros publicados na Alemanha.