O Primeiro Imp�rio
 

Gilson Gustavo de Paiva Oliveira
 


1. As guerras de independ�ncia

Raramente ouvimos falar das lutas por nossa independ�ncia. Parece que tudo ocorreu de forma pac�fica, e o pior, sem a participa��o do povo. � verdade, que o Partido Brasileiro foi muito h�bil em conduzir nossa independ�ncia, sem a participa��o popular nas principais decis�es. � verdade, que mesmo ficando independente de Portugal, nosso governante seria o filho do rei dessa mesma na��o. E � verdade tamb�m, que as lutas por nossa independ�ncia n�o foram t�o violentas e longas como aconteceram com os nossos vizinhos latino-americanos, mas n�o podemos deixar de lado, a participa��o da popula��o brasileira, mesmo quando essa independ�ncia n�o tenha significado liberdade e igualdade sociais para a maioria do povo brasileiro.


Desde a transfer�ncia da Corte portuguesa para o Brasil em 1808, o clima nas for�as militares era de competi��o. No Ex�rcito, enquanto os portugueses ocupavam os postos mais altos, os brasileiros ficavam com os mais baixos. Acusa��es ocorriam dos dois lados: os brasileiros acusavam os portugueses de autorit�rios e arrogantes e os mesmos acusavam os brasileiros de despreparados. Na Marinha a situa��o era pior, pois praticamente todos os postos eram ocupados por portugueses.


Quando a Revolu��o do Porto aconteceu e mostrou seus reais interesses em rela��o ao Brasil e D. Jo�o teve que voltar a Portugal, a insubordina��o explodiu, com os brasileiros n�o aceitando as ordens dos oficiais portugueses, e estes se recusando a aceitar as ordens do pr�ncipe-regente D. Pedro. Ap�s o Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822, iniciou-se a forma��o de um Ex�rcito brasileiro, mas a desconfian�a na qualifica��o militar e na sua lealdade provocaram a contrata��o de mercen�rios para ajudar nas lutas de terra e mar. Rapidamente chegaram os oficiais estrangeiros com seus comandados. Entre eles, os ingleses Cochrane, John Taylor e John Grenfell; o franc�s Pedro Labatut e o portugu�s Carlos Lecor. Ap�s o 7 de Setembro, as lutas pela independ�ncia ocorreram onde a presen�a lusitana era maior: Bahia, Gr�o-Par�, Maranh�o e Cisplatina.



Bahia

Com a Revolu��o do Porto, a popula��o da Bahia dividiu-se e os conflitos entre brasileiros (contra a recoloniza��o) e portugueses (a favor da recoloniza��o) aumentaram. Quando as Cortes portuguesas nomearam o general portugu�s, Madeira de Melo, para governar a prov�ncia os conflitos armados tiveram in�cio. A partir de 14 de fevereiro de 1822, "A cidade vira um grande campo de batalha. Brasileiros e portugueses buscam controlar seus pontos estrat�gicos, usando de extrema viol�ncia. Na persegui��o a um grupo de brasileiros, soldados portugueses invadem o convento da Lapa, assassinando a abadessa Joana Ang�lica, que heroicamente o defendia"(SILVA, 1995, p.151). Ap�s cinco dias de combate, os portugueses anunciaram o controle de Salvador, enquanto os brasileiros comandados por Manuel Pedro se refugiaram na regi�o do Rec�ncavo Baiano.


Com o apoio de latifundi�rios, organizaram-se os batalh�es patri�ticos, formados por combatentes da capital e do interior da Bahia. Destacou-se ent�o, a baiana Maria Quit�ria, que se alistou nos batalh�es patri�ticos. Lutando corajosamente contra o machismo existente na �poca e os portugueses, obteve o posto de cadete e ap�s a guerra recebeu das m�os do imperador a comenda da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul.


Em 22 de setembro de 1822, teve in�cio a reviravolta. Na C�mara Municipal de Cachoeira foi proclamada a independ�ncia, instalando-se um governo paralelo. Os brasileiros foram auxiliados pelos enviados de D. Pedro, o general Labatut e o almirante Lord Cochrane, que cercaram a cidade de Salvador, impossibilitando-a de receber alimentos e muni��es. Em abril de 1823, a situa��o de Salvador era dram�tica, faltavam alimentos e as doen�as matavam os mais fracos. Em 2 de julho de 1823, o general Madeira de Melo entregou sua rendi��o. Os brasileiros haviam libertado a Bahia e garantiam a independ�ncia.



Gr�o-Par�

A Revolu��o do Porto tamb�m provocou rea��es contradit�rias na prov�ncia do Gr�o-Par�. Inicialmente, portugueses e brasileiros se uniram com a decis�o das Cortes de criar uma monarquia constitucional, por�m, quando as Cortes decidiram recolonizar o Brasil, o padr�o de rea��o se repetiu: brasileiros contra as decis�es das Cortes, de um lado, e portugueses, a favor das Cortes, de outro. Em abril de 1823, chegou de Portugal, o brigadeiro Jos� Maria de Moura para governar a prov�ncia. Em 1� de mar�o, os primeiros combates tiveram in�cio, por�m as tropas portuguesas reagiram com viol�ncia. V�rias pessoas morreram e foram feridas e 267 foram presas.


Em agosto de 1823, D. Pedro I enviou a Bel�m, um navio comandado por Grenfell. Usando de ast�cia, anunciou que uma grande esquadra estaria chegando a Bel�m e que, qualquer resist�ncia por parte dos portugueses seria in�til. Com medo da amea�a, os portugueses n�o reagiram e a prov�ncia de Gr�o-Par� se incorporou ao Imp�rio do Brasil em 12 de outubro de 1823. Contudo a mentira n�o durou muito. Como a esquadra n�o chegava, os portugueses reiniciaram as persegui��es aos simpatizantes da independ�ncia. A viol�ncia iniciada pelos portugueses foi revidada com mais viol�ncia pelos brasileiros. Grenfell resolveu agir para acabar com os confrontos e convocou a popula��o para uma reuni�o em frente ao pal�cio do governo. Com a popula��o reunida, escolheu cinco soldados ao acaso, e mandou execut�-los. Depois prendeu 256 militares no por�o de um navio, onde morreram sem ar e sem �gua. Assim, Grenfell apaziguou a prov�ncia.



Maranh�o

A prov�ncia do Maranh�o era tamb�m uma regi�o com forte presen�a de portugueses. Por isso, ao saber da independ�ncia, se colocou contr�ria a ela. Apesar disso, lentamente os brasileiros foram conquistando o apoio de v�rias cidades e povoados maranhenses e os portugueses foram ficando isolados. No entanto, a capital, S�o Lu�s, permanecia controlada pelos portugueses. Enviada pelo Rio de Janeiro, uma frota comandada por Lord Cochrane aproximou-se de S�o Lu�s fingindo ser um refor�o portugu�s. Cochrane conseguiu desembarcar seus homens e aprisionou alguns chefes militares portugueses. Usando-os como ref�ns, conseguiu conquistar o controle da cidade. No final de agosto de 1823, o Maranh�o se incorporava ao Imp�rio.



Cisplatina

Ocupada desde 1816 pelas for�as de D. Jo�o, a Banda Oriental foi rebatizada como Cisplatina. Ap�s a independ�ncia, a disputa entre tropas brasileiras e portuguesas pela posse da regi�o come�ou. Comandadas pelo portugu�s Carlos Lecor, que resolveu apoiar D. Pedro, as tropas brasileiras tiveram que recuar para o Rio Grande do Sul, pois os portugueses, chefiados por D. �lvaro da Costa, conseguiram controlar Montevid�u, capital da prov�ncia. Reunindo 1800 homens, Lecor contra-atacou. Cercando Montevid�u, as tropas portuguesas, formadas por 2 mil homens resistiram bravamente, mas a chegada de tr�s navios, comandados por David Jewett, come�aram a desequilibrar as a��es. Em 18 de novembro de 1823, os brasileiros tomaram a cidade e mantiveram a Cisplatina unida ao Imp�rio.






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