Observada retrospectivamente, a Quarta Rep�blica (1945-1964) pode ser caracterizada como um dos per�odos mais turbulentos - por�m n�o menos rico - da hist�ria do Brasil. Dos quatro presidentes do per�odo (Eurico Dutra, Get�lio Vargas, Juscelino Kubitschek e J�nio Quadros), dois n�o completaram o mandato. Dos dois vice-presidentes eleitos e que assumiram a Presid�ncia (Caf� Filho e Jo�o Goulart), nenhum conseguiu transmitir a faixa presidencial ao sucessor. Al�m disso, o per�odo � marcado por uma constante participa��o militar na pol�tica, que resultou no Golpe Militar de 64 e na extin��o da experi�ncia democr�tica pela qual o pa�s vivia, iniciando uma ditadura com dura��o de 21 anos.
Excetuando-se o governo do general Eurico Dutra (1945-1951), que mais parece um entreato da Era Vargas, o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) emerge dessa turbulenta experi�ncia democr�tica que foi a Quarta Rep�blica, como um per�odo at�pico de desenvolvimento econ�mico e estabilidade pol�tica, no meio de dois governos problem�ticos: o de Get�lio Vargas (1951-1954), que terminou com o seu suic�dio e o de J�nio Quadros (1961), encerrado com sua ren�ncia. A for�a dessa imagem de desenvolvimento econ�mico e estabilidade pol�tica � t�o poderosa, que muitos chamam esse governo de �Era JK� ou de �Anos Dourados�.
Em seu governo, Juscelino Kubitschek encontrou uma conjuntura que se apresentava como uma das mais sombrias que poderia existir para um pol�tico recentemente eleito.
No terreno econ�mico, a revers�o de uma tend�ncia de crescimento que se manifestara positivamente desde 1954; no campo ideol�gico, o pa�s assistia a uma verdadeira conflagra��o, com os debates pol�ticos travados nos termos da maior viol�ncia e em clima de enorme emocionalidade; socialmente, havia profunda inquieta��o, resultante quer dos problemas econ�micos, especialmente atrav�s das suas conseq��ncias inflacion�rias, quer das quest�es de ordem ideol�gico-pol�tica.� (CARDOSO, 1977, p.185)
No entanto, o governo Kubitschek conseguiu reverter essas tend�ncias - pelo menos temporariamente - tornando-se num modelo almejado por pol�ticos brasileiros de uma ampla gama de partidos, que sempre tentam associar sua imagem a de JK. E esse � o grande problema. Quando transformamos uma pessoa em um modelo, deslocamo-la do mundo real, com suas limita��es de personalidade e de contexto hist�rico e passamos a v�-la como uma pessoa que caminha livre, que atua �nica e exclusivamente por seus desejos e a��es, sem quaisquer condicionamentos, exceto sua pr�pria vontade. Com isso, perdemos a dimens�o humana dessa pessoa e ela se torna um her�i, �nica pessoa capaz de modificar uma dada situa��o.
Poder�amos abordar v�rios aspectos do governo JK neste texto, no entanto nos concentraremos apenas na quest�o da estabilidade pol�tica dos anos JK. Para sermos mais precisos, nos deteremos a estudar a influ�ncia e as limita��es da personalidade de JK na estabilidade pol�tica de seu governo at� o final de seu mandato, algo que somente um outro presidente da Quarta Rep�blica conseguiu.