Sobre os estudos que envolvem o povoamento das Am�ricas � importante ressaltar algumas considera��es:
a) A preocupa��o sobre os habitantes das Am�ricas pr�-colombianas s� come�aram da aceita��o pelos europeus que os ind�genas possu�am alma e, portanto, eram considerados seres humanos. Isso ocorreu por volta de 1540 ap�s a publica��o de uma bula papal, a qual confirmava esta afirmativa, baseada no argumento que um dos ap�stolos esteve na Am�rica anteriormente.
Esta bula resolvia quest�es surgidas pelo contato com os amer�ndios os quais desconheciam a exist�ncia de Jesus Cristo, contrariando a ordem deste aos ap�stolos, de espalhar os ensinamentos do Novo Evangelho a todos os povos, conseq�entemente, colocando em perigo toda a doutrina crist�.
A solu��o foi encontrar algo que comprovasse a estada de um ap�stolo na Am�rica repassando os ensinamentos de Cristo. Comparando a semelhan�a do nome do principal deus de algumas tribos ind�genas (ZUM�), chegaram a conclus�o que o ap�stolo em quest�o, seria o S�o Tom�, n�o s� pelo nome, mas tamb�m pelo fato deste, ter sido o �nico ap�stolo a duvidar da ressurrei��o de Jesus e por isso, recebeu como puni��o ensinar a �boa nova� aos povos mais long�nquos e �primitivos�. Isso tamb�m demonstrava a facilidade de aceita��o dos ensinamentos crist�os aos ind�genas da �poca.
b) Os estudos feitos sobre o povoamento americano fundamentam-se, principalmente, de achados arqueol�gicos. Sob esta �tica, salienta-se que a Arqueologia � uma ci�ncia de raras certezas, mas n�o gosta de especula��es e que, al�m dos restos arqueol�gicos, suas conclus�es tamb�m se baseiam em observa��es comparativas comportamentais e culturais de �povos vivos�, os quais conservam caracter�sticas ainda �primitivas�. Outro ponto importante a ressaltar � que descobertas arqueol�gicas futuras, podem for�ar a novas reconsidera��es consideradas corretas at� o presente momento, atrav�s de novas inova��es tecnol�gicas e/ou novas pesquisas e achados nesta �rea de interesse.
c) As t�cnicas de data��o mais utilizadas pelos pesquisadores e dispon�veis atualmente s�o:
- CARBONO-14: A utiliza��o desta t�cnica � mais ou menos precisa na an�lise de materiais com at� 50 mil�nios (com margem de erro abrangendo menos de 20 ou mais que 5000 anos). O carbono-14 � um elemento presente em todos os organismos vivos, se desintegrando em uma taxa constante ap�s a morte. Esta taxa corresponde que, a cada 5730 anos a quantidade dos �tomos radioativos de carbono cai pela metade, fen�meno conhecido como meia-vida. Um aparelho chamado acelerador espectr�metro de massa, conta os �tomos de carbono-14 da mat�ria org�nica analisada, determinando assim sua idade.
- URANO-T�RIO: � empregado no estudo de objetos com milh�es de anos. Funciona pelo mesmo princ�pio do m�todo carbono-14, mas toma por base as meias-vidas do ur�nio 238 e do t�rio 230, mais longas.
- TERMOLUMINESC�NCIA: Esta t�cnica � confi�vel no exame de achados com poucos milhares de anos. N�o se det�m na radioatividade dos materiais, mas em uma emiss�o de luz. Assim, o f�ssil � aquecido e libera, em forma de luz, energias que capturou e reteve em sua estrutura cristalina. Considerando o ambiente em que o material foi encontrado e a quantidade de energia existente nas diversas �pocas, � estabelecida sua idade.
- TESTES DE DNA: Atrav�s do mapeamento gen�tico, j� � poss�vel determinar parentescos e outras caracter�sticas. Para os pr�ximos anos ser� a grande ferramenta para a solu��o de variadas quest�es.
d) H� algumas semelhan�as f�sicas e culturais em todos os habitantes pr�-colombianos. Dentre as semelhan�as f�sicas pode-se ressaltar: todos possuem pele de tez bronzeada ou acobreada; todos possuem cabelos pretos e muito lisos; todos possuem olhos castanhos ou pretos, geralmente de forma amendoada. As semelhan�as culturais ser�o analisadas detalhadamente na apresenta��o do trabalho, por�m destaca-se algumas: a r�pida difus�o do horizonte cultural paleo�ndio de pontas de proj�til, como pe�a diagn�stico; a religi�o polite�sta; o uso da cer�mica; padr�o de subsist�ncia de ca�adores-coletores; o ferro n�o era trabalhado, com exce��o dos Esquim�s, que o importavam da Sib�ria por volta de 1000 d.C.; e nas sociedades construtoras: a liteira como s�mbolo de status social, cabe�as humanas como trof�us; o significado ritual dos felinos, como o homem-leopardo ou jaguar e o homem-p�ssaro e ainda, a serpente aparecendo em diversas manifesta��es art�sticas.
e) O Novo Mundo � um excelente laborat�rio de pesquisa para o estudo do homem, tanto antropologicamente, quanto no relacionamento adaptativo dele com o ambiente natural.
Sob o ponto de vista geogr�fico, a Am�rica � uma �rea compacta e mais integrada que o Velho Mundo. As barreiras naturais s�o menos marcadas por todo o continente, facilitando a transponibilidade e as �reas transicionais s�o menos abruptas, al�m de ambas as costas fornecerem um habitat excelente para moluscos, peixes e cret�ceos, principalmente na costa canadense.
O continente possui uma �espinha dorsal� hemisf�rica que percorre o Norte e o Sul, inclusive ela podendo ter propiciado uma canaliza��o dos movimentos migrat�rios da fauna e do homem. No lado oeste, as cordilheiras s�o jovens sendo: as Montanhas Rochosas na Am�rica do Norte convertendo-se em Sierras Madres no M�xico e Am�rica Central, as quais se unem com os Andes da Am�rica do Sul. No lado leste, as cordilheiras s�o mais antigas e mais baixas e suaves seguindo toda a costa atl�ntica de norte a sul. No centro, tanto para o norte, quanto para o sul do Equador est�o gigantescas plan�cies drenadas por enormes bacias fluviais. A plan�cie costeira do Pac�fico, confinada com a cordilheira de montanhas � estreita em toda a sua extens�o, desaparecendo em certos trechos.
� o �nico trecho do planeta que possui todos os tipos clim�ticos; isto porque, seccionado ao meio pelo Equador, fornece similaridade de clima e vegeta��o em ambos os hemisf�rios, com pequenas varia��es produzidas pela altitude e pluviosidade, por exemplo. Este ambiente natural influenciou, tamb�m, o desenvolvimento cultural do homem pr�-hist�rico. No sentido das adapta��es de subsist�ncia, o amer�ndio p�de espalhar-se por longa �reas, sem mudan�as radicais no seu modus-vivendi. Quanto � cultura, o ambiente similar facilitou a intera��o em algumas regi�es, estimulou desenvolvimentos paralelos em outras e somente em poucas, deixou em isolamento.
Quando as geleiras recuaram pela �ltima vez para o norte, mudan�as clim�ticas e ecol�gicas alteraram a ordem imposta anteriormente, causando, inclusive, a extin��o de v�rias esp�cies da fauna, as quais faziam parte da principal dieta dos grupos, modificando os padr�es de subsist�ncia, povoamento e tecnologia, ocorrendo assim, uma diversidade vari�vel na cultura americana que obrigou os americanos a inova��es adaptativas.
Embora essas mudan�as n�o tenham ocorrido em todo o continente, persistindo em algumas �reas os antigos modelos de ca�a e coleta, dois tipos adicionais apareceram como resposta as transforma��es: a explora��o de moluscos ao longo das costas, surgindo a cultura dos sambaquis e a coleta de sementes em regi�es �ridas.