Vit�ria de Pyrro
 

Jos� Geraldo Vidigal de Carvalho
 
Pyrro, rei do Epiro, antiga regi�o da Gr�cia, ficou c�lebre pelas suas lutas frente aos Romanos. Dirigiu uma expedi��o contra a It�lia apesar dos conselhos de C�neas, seu ministro. Venceu em Heracl�a e em Asculum no ano de 279. Esta �ltima vit�ria custou-lhe t�o caro que, �s felicita��es dos seus generais, o monarca respondeu: �Ainda outra vit�ria como esta e estou perdido�.


O governo federal exultou pelo fato de ter o Supremo Tribunal Federal (STF) legitimado, dia 28 de junho, por oito votos a dois, as sobretaxas de 50% a 200% e os cortes de energia el�trica para quem n�o cumprir as metas do programa de racionamento. Isto significa que os consumidores que excederam suas metas podem ser penalizados desde o in�cio do antip�tico programa. Sobretaxa e corte de luz! Pobre cidad�o brasileiro que vai ser punido gra�as � incompet�ncia daquele que foi �surpreendido� com a situa��o energ�tica do pa�s, que ele deveria administrar melhor. As liminares que estavam em curso ficaram derrubadas, mas eram uma prova inconteste do protesto da popula��o contra as medidas do racionamento.


Garantida a legalidade da Medida Provis�ria 2.152-2, o mandat�rio da na��o conheceu, na verdade, uma vit�ria de Pyrro, pois as elei��es se aproximam e � preciso novos rumos para a p�tria bem amada. Pelo n�mero exorbitante de medidas provis�rias se percebe que o Poder Legislativo do Brasil precisa acordar e exercer suas prerrogativas, pois, como j� observaram tantos analistas sociais, vivemos um parlamentarismo �s avessas, o que faz lembrar o que ocorreu no tempo de Pedro II. A aprova��o da constitucionalidade da MP referida n�o se deu por unanimidade e os argumentos dos dois Ministros contr�rios � aprova��o eram consistentes e foram defendidas com sabedoria, pois cumpria estar ao lado do povo sofrido deste pa�s. Energia � um servi�o essencial e, por isto, deve ser ininterrupto, conforme reza a Constitui��o Federal, mais uma vez arranhada.


Multiplicam-se, al�m disto, no Brasil as incoer�ncias. Uma delas poder� ser a multiplica��o dos feriados por for�a mesmo do apag�o. Assim, a governadora do Maranh�o, j� decretou ponto facultativo no Estado em todas as segundas-feiras de julho, como forma de garantir a redu��o do consumo de energia e afastar a possibilidade de inclus�o no plano de racionamento que j� atinge as regi�es Sudeste, Centro-Oeste e a maior parte do Nordeste. A ado��o de feriados, �s segundas ou sextas-feiras, � uma das hip�teses com as quais trabalha a C�mara de Gest�o da Crise de Energia El�trica (GCE), caso o racionamento n�o atinja os resultados esperados.


Deixando-se de lado as considera��es sobre os efeitos perversos que tudo isto j� tem trazido para a economia brasileira, � de se lembrar que sempre houve uma luta, ora surda, ora aberta, contra os feriados religiosos, os quais se d�o por for�a do profundo significado de determinada festividade. Agora, mais um feriado semanal pode se estender por todo o territ�rio nacional e alguns acham isto normal�ssimo. N�o foi f�cil criar uma mentalidade de amor ao trabalho em plagas bras�licas. Hoje est� inteiramente superado o dito cunhado por certo brasilianista: �No Brasil, plantando d�; n�o plantando, d�o�, querendo mostrar o comodismo ent�o reinante. V�lida a advert�ncia de um dos presidenci�veis: �A situa��o � muito mais grave do que pode parecer�. A prece de muitos adesistas: �Deus salve o Rei� n�o foi atendida, possivelmente, porque a li��o do Ser Supremo � esta: �Ajuda-te, cidad�o brasileiro, que o c�u te ajudar�. Portanto, que as elei��es de 2002 sejam uma demonstra��o vibrante do aut�ntico protesto que n�o pode ficar restrito a passeatas ou outras manifesta��es, mas que deve levar ao triunfo do povo nas urnas. Esta, sim, n�o ser� uma vit�ria de Pyrro!






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