Atualizado em 05 de dezembro de 2003
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Livros

Livro: Da materializa��o � legitima��o do passado
Autor(es): Clara Em�lia Sanches Monteiro de Barros Malhanoi
Editora: Lucerna / Faperj
Ano: 2002
Nº de páginas: 294

Normalmente, os funcion�rios do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), que escrevem trabalhos acad�micos ou n�o, por for�a do v�nculo, acabam enaltecendo n�o s� a institui��o como os arquitetos e intelectuais modernistas. Clara Em�lia Sanches Monteiro de Barros Malhano, autora do livro "Da materializa��o � legitima��o do passado: a monumentalidade como met�fora do Estado (1920-1945)", embora funcion�ria do Iphan, n�o se sentiu na obriga��o de seguir a tradi��o louvaminheira. Pelo contr�rio: o que faz � uma desmitifica��o do discurso dos modernistas como formuladores das pol�ticas do patrim�nio.


Mestre em Hist�ria da Arte-Antropologia pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela atuou no Iphan como pesquisadora no of�cio de historiadora at� 1995, produzindo a sua pesquisa para o doutoramento em Hist�ria Social pelo Instituto de Filosofia e Ci�ncias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em seguida, pediu aposentadoria proporcional. �O Iphan n�o estimula ningu�m�, justificou-se, desiludida.


Clara Em�lia, que hoje atua no Arquivo P�blico do Estado do Rio de Janeiro, faz, em seu "Da materializa��o � legitima��o do passado: a monumentalidade como met�fora do Estado", um retrospecto do movimento neocolonial no Brasil, lembrando que essa tend�ncia teve in�cio em S�o Paulo, por interm�dio do engenheiro portugu�s Ricardo Severo, que, numa confer�ncia intitulada "A Arte Tradicional no Brasil", tratou da arquitetura do s�culo XVIII, conclamando os jovens arquitetos brasileiros a uma nova era de renascen�a brasileira do estilo neocolonial. Mas ressalta que antes, em 1914, Ara�jo Viana, numa s�rie de cinco confer�ncias no Instituto Hist�rico e Geogr�fico Brasileiro, j� elogiara a arquitetura do s�culo XVIII, destacando Aleijadinho e Mestre Valentim como os melhores artistas daquele s�culo.


Na pr�tica, por�m, quem deu in�cio ao movimento foi Victor Dubugras, expoente do movimento art nouveau no Brasil, que, por encomenda de Washington Lu�s, ent�o prefeito de S�o Paulo, realizou, em 1919, o primeiro projeto neocolonial: as escadarias do Largo da Mem�ria. Depois, em 1922, criou monumentos comemorativos ao centen�rio da Independ�ncia � margem da Estrada de Santos, hoje conhecida como Estrada Velha e fechada ao tr�fego de ve�culos.


Embora reconhe�a todos os m�ritos de L�cio Costa, Clara Em�lia admite que ele e outros conhecidos modernistas acabaram com edifica��es e documentos sobre a arquitetura dos estilos neocolonial e neocl�ssico. Para a historiadora, a verdade � que esses ditos modernistas �oficializaram� o estilo barroco e ofuscaram outros estilos, permitindo, inclusive, a destrui��o do Pal�cio Monroe e do Palacete Monjope, no Rio de Janeiro.


A autora lembra que a �nica obra de Ricardo Severo que sobrou no Rio de Janeiro, de acordo com suas pesquisas, � a fachada do Clube de Regatas Vasco da Gama, onde fica o est�dio de S�o Janu�rio, que, at� a constru��o do Maracan� para a Copa do Mundo de 1950, era o de maior capacidade da antiga capital da Rep�blica, tendo sido, inclusive, palco de v�rios acontecimentos c�vicos � �poca da ditadura de Get�lio Vargas (1930-1945).


De fato, para L�cio Costa, o movimento neocolonial foi simplesmente �um equ�voco agravado pelo desconhecimento das verdadeiras caracter�sticas da arquitetura tradicional e a conseq�ente incapacidade de lhe saber aproveitar convenientemente aquelas solu��es e peculiaridades de algum modo adapt�veis aos programas contempor�neos�.


Assim, ao assumir a dire��o da Escola das Belas Artes, ainda jovem, convidado pelos vitoriosos da Revolu��o de 1930, L�cio Costa passou a trabalhar contra os adeptos do movimento neocolonial. Estava influenciado pelas id�ias do arquiteto russo Gregori Warchavchik, que viera para trabalhar na Companhia Construtora de Santos, dirigida pelo industrial Roberto Simonsen. Mais tarde, solidificaria seus ideais modernistas com os trabalhos do franc�s Le Corbusier.


Ao passar para a dire��o do Servi�o do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Sphan), primeiro nome do Iphan, L�cio Costa voltou-se contra a arquitetura do s�culo XIX, investindo contra o conservadorismo acad�mico e valorizando apenas a produ��o art�stica contempor�nea. Em outras palavras: o descaso do Sphan foi decisivo para o desaparecimento de uma s�rie de edif�cios emblem�ticos daquele per�odo.


Apesar desse �crime� cometido contra o patrim�nio art�stico nacional, resultado das pol�micas da �poca, L�cio Costa construiu uma carreira de sucesso como arquiteto, como atesta o edif�cio do Minist�rio da Educa��o e Sa�de, de 1938, cujo projeto, inspirado nas id�ias de Le Corbusier e seu grupo, consagrou a arquitetura moderna brasileira no exterior, tendo sido considerado em exposi��o do Museum of Modern Art (MoMa), de Nova York, o mais belo edif�cio governamental do hemisf�rio ocidental. Sem contar que, mais tarde, seria um dos idealizadores de Bras�lia, a nova capital.


� claro que o livro de Clara Em�lia n�o trata apenas dessa guerra entre arquitetos conservadores e modernistas. Vai mais al�m. Seu livro constitui tamb�m uma rica fonte de consulta para quem pretende estudar a hist�ria da forma��o das pol�ticas de patrim�nio na Europa - com �nfase na Fran�a, principal fonte inspiradora das pol�ticas patrimonialistas no Brasil - e as desenvolvidas pelo Iphan, como observa no pref�cio o arquiteto Nireu Oliveira Cavalcanti, da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, doutor em Hist�ria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.


O livro conta ainda como foram os prim�rdios da cria��o do Sphan, tra�ando perfis de seus membros-fundadores: Rodrigo Melo Franco, fundador e primeiro presidente; M�rio de Andrade, formulador do esbo�o do anteprojeto do Sphan; Afonso Arinos de Melo Franco, participante da estrutura��o do pensamento preservacionista no Brasil, e L�cio Costa, principal arquiteto que trabalhou no �rg�o.


Para Clara Em�lia, a atua��o do Sphan foi caracterizada por um modernismo contradit�rio formado por um nacionalismo brasileiro e um modernismo internacional. A monumentalidade como met�fora do Estado - um Estado autorit�rio que pretendia construir uma na��o de moderniza��o conservadora -, diz a autora, foi sendo concretizada atrav�s do tombamento dos bens, principalmente dos monumentos que, como s�mbolos nacionais, viabilizaram o reconhecimento de sua hist�ria.


Tamb�m alfaias, ret�bulos, pinturas e mobili�rio, preservados por pareceres do Sphan, que glorificam o s�culo XVIII, constatam a sagra��o do barroco. Dessa maneira, a op��o pelo tombamento de edifica��es do s�culo XVIII, consagrando o barroco, facilitou, no Brasil, o desaparecimento gradual de numerosos pr�dios n�o s� de estilo neocl�ssico como ecl�tico que reunia v�rios elementos do neogrego, neo-romano, neobarroco, renascentista italiano e segundo Imp�rio franc�s.



Adelto Gon�alves


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