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Livro: |
1789-1808: O Imp�rio Luso-brasileiro e os Brasis |
Autor(es): |
Luiz Carlos Villalta |
Editora: |
Companhia das Letras |
Ano: |
2000 |
Nº de páginas: |
152 |
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A id�ia de na��o estava fora dos horizontes das tr�s conjura��es que marcaram a passagem do s�culo XVIII para o XIX na Am�rica portuguesa. E, portanto, o Brasil s� come�ou a nascer como na��o a partir de 1808, com a chegada da fam�lia real em fuga, depois da invas�o do Reino pelas tropas napole�nicas comandadas pelo general Junot. Em resumo, este � o argumento que fundamenta 1789-1808:O Imp�rio Luso-brasileiro e os Brasis, do historiador Luiz Carlos Villalta, mestre e doutor em Hist�ria pela Universidade de S�o Paulo e professor da Universidade Federal de Ouro Preto.
Pesquisador atilado e de texto claro e enxuto, Villalta j� se havia destacado com estudos sobre livros e bibliotecas do per�odo colonial, especialmente "Os cl�rigos e os livros nas Minas Gerais da segunda metade do s�culo XVIII", publicado na revista Acervo, do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, vol. 8, n� 1-2, janeiro-dezembro de 1995, e o ensaio "O que se fala e o que se l�: l�ngua, instru��o e leitura", que faz parte do volume "Cotidiano e Vida Privada na Am�rica Portuguesa" (Cia. das Letras, 1997). Com este livro, por�m, assinala a sua presen�a de forma ainda mais marcante ao corrigir uma interpreta��o que, durante muito tempo, apontou as inconfid�ncias de Minas Gerais (1789), do Rio de Janeiro (1794) e da Bahia (1798), ao lado da transfer�ncia da fam�lia real para o Brasil, como etapas de um processo cuja culmin�ncia seria a Independ�ncia de 1822.
Da leitura que Villalta faz de documentos e outros livros espec�ficos, o que se conclui � que se, por ventura, alguma daquelas inconfid�ncias tivesse obtido �xito, o Brasil n�o seria o que � hoje, mas sim um territ�rio retalhado em pequenas rep�blicas, como se deu com a Am�rica espanhola. A verdade � que a unidade e a consci�ncia nacionais s� vieram com a presen�a do pr�ncipe regente D. Jo�o, que, escorra�ado da Europa, chegara aqui decidido "a fundar um novo imp�rio".
Para mostrar que esses movimentos n�o tiveram conex�o entre si, Villalta primeiro discutiu o reformismo ilustrado e sua influ�ncia em Portugal e suas col�nias e, depois, analisou as tr�s inconfid�ncias, identificando os projetos e utopias que essas manifesta��es encerravam, al�m de verificar os modelos em que se inspiraram e como lidaram com as Luzes, com as teorias pol�ticas e as tradi��es culturais portuguesas. Por fim, avaliou como a unidade e os projetos foram materializados por D. Jo�o ao instalar a sua Corte no Rio de Janeiro.
Para Villalta, as chamadas inconfid�ncias tiveram natureza, prop�sitos e fontes de inspira��o diferentes. Na verdade, apenas duas delas foram verdadeiramente conspira��es: a de Minas e a da Bahia, pois a carioca n�o passou de concili�bulos e discuss�es est�reis, sem qualquer prop�sito definido de tomada do poder. Antecipando-se alguns meses � Revolu��o Francesa, a Inconfid�ncia Mineira pretendia a liberdade de com�rcio e a conseq�ente elimina��o do monop�lio comercial portugu�s, al�m da extra��o livre dos diamantes.
financiar a revolu��o, os inconfidentes apostavam principalmente no poderio financeiro de antigos arrematantes dos contratos de entradas - Jo�o Rodrigues de Macedo, Joaquim Silv�rio dos Reis e Jos� Pereira Marques -, todos grossos devedores, que, com a ruptura com Lisboa, sonhavam ver-se livres das d�vidas. Todos haviam constru�do fortunas � sombra do poder, colocando na algibeira e aplicando em neg�cios pr�prios os recursos que haviam arrecadado em nome da Coroa. Enfim, seria uma revolu��o de terratenentes e grandes comerciantes e propriet�rios, que ficaria circunscrita a Minas Gerais, se as capitanias de S�o Paulo e Rio de Janeiro hesitassem em segui-la.
J� a Inconfid�ncia Baiana, como mostra Villalta, inspirava-se decididamente na Fran�a revolucion�ria e nas Luzes, cujas id�ias ganharam a forma de estrat�gias e de objetivos para realizar uma revolu��o. Em fun��o disso, contou n�o s� com a participa��o dos "principais" da terra como da "gente ordin�ria", indo de senhores de engenho a mulatos e negros egressos da escravid�o, ou mesmo ainda cativos, numa articula��o nebulosa e fracassada.
Para Villalta, esses movimentos n�o foram conspira��es e reflex�es que se nutriram cada qual das que lhe antecederam, ainda que no Rio de Janeiro se tenham feito refer�ncias � Inconfid�ncia Mineira, e muito menos tiveram como objetivo a independ�ncia da Am�rica portuguesa como um todo. Quando muito, o que propunham era uma ruptura de uma regi�o da col�nia com a metr�pole. Da� v�m "os Brasis" do t�tulo. Sob esse �ngulo, seria uma impropriedade analis�-las como uma seq��ncia que culminaria com a independ�ncia do Brasil.
Sem revolu��es e sem mudan�as bruscas ou sanguinolentas, D. Jo�o, for�ado pelas circunst�ncias, cumpriu a maior parte dos ideais dos inconfidentes, como a abertura dos portos, o fim do exclusivo comercial e, principalmente, a transforma��o da Am�rica em centro do Imp�rio. Ainda que D. Jo�o nem sempre tenha sido tratado de maneira favor�vel pela historiografia, � preciso reconhecer que a cria��o do imp�rio luso-brasileiro na Am�rica foi uma jogada de mestre. Uma bem pensada obra de engenharia pol�tica que, acima de tudo, constituiu uma solu��o vitoriosa numa situa��o de crise. E que valeu � Casa de Bragan�a uma sobrevida de quase um s�culo.
Adelto Gon�alves
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