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Livro: |
Os novos senhores do mundo |
Autor(es): |
John Pilger |
Editora: |
Record |
Ano: |
2004 |
Nº de páginas: |
287 |
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Os atentados de 11 de setembro de 2001 n�o mudaram o mundo, mas aceleraram o fluxo de acontecimentos, servindo como pretexto para a destrui��o da democracia social. Basta ver que, nos �ltimos tempos, v�rias liberdades civis foram suprimidas nos EUA e na Inglaterra, num processo de desintegra��o da democracia, o que tem fortalecido uma gest�o do Estado de ideologia �nica em que os partidos j� n�o se diferenciam � quem manda � o "Estado empresarial".
Para apontar as falhas de um sistema que confunde o poder das megacorpora��es com os do Estado, o australiano John Pilger, um dos mais famosos documentaristas de TV e jornalistas investigativos do planeta, escreveu �Os novos senhores do mundo�, cole��o de quatro ensaios que, em linhas gerais, denunciam a atual ditadura que exercem no mundo o �quarteto� que domina a Organiza��o Mundial do Com�rcio (EUA, Europa, Canad� e Jap�o) e o triunvirato de Washington (Banco Mundial, FMI e o Tesouro americano).
Esses organismos, diz o jornalista, controlam os mais �nfimos aspectos das pol�ticas governamentais nos pa�ses em desenvolvimento, com base num poderio que adveio em grande parte de uma d�vida imposs�vel de pagar, que for�a os pa�ses mais pobres a entregar US$ 100 milh�es diariamente a credores ocidentais. O resultado dessa ditadura do dinheiro tem sido tr�gico para a humanidade: uma elite de menos de um bilh�o de pessoas controla hoje 80% da riqueza mundial, condenando os demais � mis�ria.
Segundo Pilger, os promotores dessa nova ordem mundial s�o as corpora��es transnacionais dos meios de comunica��o, norte-americanas e europ�ias, propriet�rias ou gestoras das principais fontes mundiais de not�cias. Em seu livro, escrito quando o ataque dos EUA ao Iraque era iminente, o jornalista, que nada tem de esquerdista no sentido em que se usava o termo ao tempo da Guerra Fria, tenta explicar essa nova "ordem" em que a informa��o � manipulada para atender aos interesses dos donos do mundo, enquanto o homem ocidental � educado para encarar as outras sociedades de acordo com sua utilidade ou amea�a que representam para o poder hegem�nico do Ocidente.
No primeiro ensaio, "O aluno-modelo", Pilger faz um relato do banho de sangue que conduziu o general Suharto ao poder na Indon�sia em 1965-1966, mostrando, com base em documentos recentemente vindos � luz, que, consumado o golpe, os mais poderosos dirigentes de grandes corpora��es globais fizeram uma reuni�o, em 1967, com o objetivo de repartir entre si a economia indon�sia setor por setor.
Tudo isso depois do massacre de cerca de um milh�o de pessoas, devidamente escamoteado pela m�dia ocidental, que mostrou a ascens�o de Suharto como "a melhor not�cia para o Ocidente nos �ltimos anos". O sil�ncio durou mais de 25 anos, tendo sido rompido apenas pelos gritos em portugu�s das v�timas do governo indon�sio em Timor Leste em 1999, quando ocorreu o segundo genoc�dio promovido com armas vendidas pela Gr�-Bretanha.
Pilger diz que, erroneamente, acredita-se que os "novos senhores" sejam as grandes corpora��es multinacionais, majoritariamente americanas, que dominam o com�rcio mundial, a ponto de, hoje, o poder econ�mico da Ford superar a economia da �frica do Sul e o da General Motors a da Dinamarca. De fato, essa � uma cren�a generalizada entre a milit�ncia contr�ria � globaliza��o, para quem o Estado "evaporou-se", assim como o poder corporativo transnacional tomou o seu lugar e, em conseq��ncia, o do imperialismo.
Para Pilger, no entanto, os "novos" do t�tulo de seu livro n�o se referem a essas megacorpora��es, mas sim a novas vers�es de um poderio antigo, o dos grandes imp�rios, com os EUA � frente. Para ele, globaliza��o n�o significa a substitui��o do poder do Estado pelo poder das grandes corpora��es, mas a rejei��o pelo Estado de suas fun��es sociais, em favor de fun��es repressivas, do fim das liberdades democr�ticas e da livre atua��o das grandes corpora��es em todo o mundo em busca do lucro a qualquer pre�o.
O autor lembra que a Indon�sia, ao tempo de Sukarno, deposto por Suharto com o apoio ocidental, tinha poucas d�vidas, expulsara o Banco Mundial, limitara o poder das empresas de petr�leo e recusara os cr�ditos dos norte-americanos. Hoje, o pa�s, que j� foi chamado de "aluno-modelo da globaliza��o" pelo Banco Mundial, abriga 70 milh�es de miser�veis e tem uma d�vida externa superior a US$ 262 bilh�es, o que corresponde a 170% de seu PIB.
L�, diz Pilger, os oper�rios da Nike recebem aproximadamente 4% do pre�o de varejo dos cal�ados que produzem, o que seria insuficiente para comprar sequer os seus cadar�os. E ainda assim se consideram sortudos porque t�m um emprego. Mas moram em habita��es amontoadas ao lado de f�bricas, que nada ficam a dever �s favelas cariocas ou paulistas, convivendo com esgoto a c�u aberto, �gua contaminada e mosquitos.
No ensaio �O grande jogo�, Pilger procura mostrar como EUA e Europa geram as condi��es e os privil�gios que protegem os mercados ocidentais e permitem que suas corpora��es intervenham onde bem queiram mundo afora, como fizeram na Indon�sia e no Brasil p�s-64. A prop�sito do atentado de 11 de setembro de 2001, Pilger lembra que a CIA treinou e armou pelo menos 35 mil fan�ticos, que se haveriam de transformar nos ex�rcitos dos talib�s e da Al-Qaeda. Segundo ele, a fam�lia Bush esteve toda envolvida at� o pesco�o com a fam�lia bin Laden: Bush pai era assessor remunerado da fam�lia bin Laden, por meio do Grupo Carlyle, propriet�rio de 64 empresas especializadas em petr�leo, g�s, armas e ind�stria aeron�utica.
Pilger observa ainda que a atua��o do governo americano baseia-se na convic��o de que o suprimento mundial de petr�leo chegar� ao m�ximo em dez anos, declinando em seguida. Ou seja, o mundo aproxima-se perigosamente do esgotamento de sua capacidade global de produ��o petrol�fera e, se a demanda mundial de petr�leo continuar, a escassez poder� reduzir os EUA a uma posi��o de �pa�s pobre em desenvolvimento�.
Um �nico pa�s do Oriente M�dio, segundo relat�rio do Instituto Baker de Pol�ticas P�blicas encomendado pelo governo americano em 2001, teria capacidade de aumentar a produ��o: o Iraque, a segunda maior fonte mundial de petr�leo. Isso explica a raz�o da guerra e por que o argumento de que o regime Saddam Hussein abrigava �armas de destrui��o em massa� nunca passou de um pretexto � agora, desmascarado. Os EUA, que queimam em transporte 66% do petr�leo que produzem e compram, precisam do produto para manter o padr�o atual, um estilo de vida que n�o pode ser negociado, como disse certa vez Bush pai.
O autor n�o deixa nem mesmo de vasculhar a heran�a imperialista de sua terra natal, mostrando a destrui��o do povo abor�gene pela Austr�lia branca, com m�todos que nada ficam a dever � matan�a de �ndios no Brasil, nos EUA e outros pa�ses do Novo Mundo. Enfim, em seus ensaios, Pilger revela as engrenagens do moderno imperialismo, conectando governos, servi�os secretos e diplom�ticos, multinacionais, organiza��es pretensamente humanit�rias e bar�es da m�dia, todos a servi�o da globaliza��o econ�mica. Quem quiser, portanto, conhecer o mundo em que vive � e de passagem as raz�es da Guerra do Iraque � n�o pode deixar de ler este livro.
Adelto Gon�alves
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