Filosofia da corrup��o |
Jos� Geraldo Vidigal de Carvalho
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A ess�ncia da corrup��o � uma progressiva desintegra��o de um ser, mediante a a��o de causas internas e externas que conduzem � destrui��o total deste ser. A defini��o nominal mostra que o termo vem do latim corruptio que significa decomposi��o, putrefa��o. Trata-se na natureza de um processo moroso que, inicialmente, n�o � percept�vel, �, por�m, um micr�bio de alta periculosidade, tendo um dinamismo impressionante e alta capacidade de prolifera��o. Uma vez instalado depara no pr�prio ser possibilidades que favorecem sua atividade destruidora. Segundo Arist�teles, o maior dos fil�sofos gregos, "a corrup��o � uma mudan�a que vai de algo ao n�o ser desse algo, e � absoluta quando vai da subst�ncia ao n�o ser da subst�ncia, espec�fica quando vai na dire��o da especifica��o oposta"
Por analogia se pode falar de corrup��o �tica. Neste caso uma consci�ncia corrupta caracteriza um indiv�duo que menoscaba todas as leis e instaura seu modo de viver como a norma de conduta. Torna-se deste modo um elemento pernicioso dentro do corpo social, pois instaura um movimento de decomposi��o. Entretanto, ningu�m se torna moralmente corrupto de um dia para outro. Leibniz, not�vel fil�sofo alem�o, j� dizia: natura non facit saltus - n�o h� movimentos bruscos na natureza, dado que ela n�o d� saltos. Ningu�m nasce terrorista, mas, sem uma filosofia de vida, sem uma reta cosmovis�o, sem uma mundivid�ncia luminosa, aos poucos, eclode tal criminoso. A insensibilidade pode ser de tal modo desnaturada que aquele ser racional passe a agir irracionalmente, seduzido pela riqueza ou para satisfazer frustra��es profundas. Qualquer pessoa pode se tornar maquiav�lica, ou seja, um ep�gono do fil�sofo florentino Maquiavel, segundo o qual o fim justifica os meios. O corrupto n�o tem freios morais nem um m�nimo de respeito pelos direitos alheios. Sua lei vem a ser os seus desejos insaci�veis.
Dentre as corrup��es estudadas pela filosofia moral uma das mais perniciosas � a corrup��o administrativa. Esta se pode definir como o aproveitamento sistem�tico de um cargo p�blico para atender unicamente a interesses pessoais, normalmente de cunho pecuni�rio. Nela est� inclu�do o suborno que � o aliciamento de uma autoridade constitu�da, levando-a para atos culp�veis. No fundo, o m�vel � sempre o enriquecimento il�cito e j� dizia filosoficamente Balzac o not�vel novelista franc�s que "a corrup��o vem com a riqueza". A avareza �, realmente, corruptora da fidelidade, da honradez e de todas as demais virtudes, como j� haviam notado os latinos. At� as almas mais puras podem se deixar levar pela corrup��o, mas diz o axioma que corruptio optimi pessima - a corrup��o do melhor � a pior das corrup��es.
Todas estas considera��es v�m � baila no momento em que o Mandat�rio Supremo do Pa�s denunciou oficialmente que a corrup��o est� "cada vez mais ousada" em plagas bras�licas. O Presidente at� lan�ou um pacote contra os desvios do dinheiro da coletividade, tentando acalmar a indigna��o do povo, repulsa popular justific�vel, tanto mais que aqueles que se apossaram de quantias astron�micas no epis�dio lamentabil�ssimo do TRT de S�o Paulo est�o impunes, bem como os implicados no caso dos bancos Marka e FonteCindam e em outras falcatruas de conhecimento nacional.
Raz�o tem a not�vel jornalista Eliane Catanhede ao afirmar que, no seu discurso, "FHC falou em "cadeia de responsabilidade", mas h� quem prefira mesmo � cadeia para os irrespons�veis que roubam o dinheiro p�blico". Mais do que nunca ecoe por toda parte deste imenso territ�rio brasileiro este veemente clamor: "Abaixo a corrup��o"!
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