I have a dream... Discurso de Martin Luther King (28/08/1963) |
Gilson Gustavo de Paiva Oliveira
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No dia 23 de mar�o de 1968, Martin Luther King proferiu o seu mais famoso discurso, I have a Dream (Eu tenho um sonho), para uma plat�ia com mais de 200 mil pessoas em frente ao Lincoln Memorial, em Washington.
Eu estou contente em unir-me a voc�s no dia que entrar� para a hist�ria como a maior demonstra��o pela liberdade na hist�ria de nossa na��o.
Cem anos atr�s, um grande americano, na qual estamos sob sua simb�lica sombra, assinou a Proclama��o de Emancipa��o. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperan�a para milh�es de escravos negros que foram queimados nas chamas da injusti�a. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda n�o � livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda � tristemente inv�lida pelas algemas da segrega��o e as cadeias de discrimina��o. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha s� de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua pr�pria terra. Assim, n�s viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condi��o.
De certo modo, n�s viemos � capital de nossa na��o para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa rep�blica escreveram as magn�ficas palavras da Constitui��o e a Declara��o da Independ�ncia, eles estavam assinando uma nota promiss�ria da qual todo americano seria herdeiro. Esta nota foi a promessa de que todos os homens, sim, os homens negros, como tamb�m os homens brancos, teriam garantidos os "direitos inalien�veis de vida, liberdade e a busca da felicidade". Hoje � �bvio que aquela Am�rica n�o apresentou esta nota promiss�ria. Em vez de honrar esta obriga��o sagrada, a Am�rica deu para o povo Negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".
Mas n�s nos recusamos a acreditar que o banco da justi�a est� falido. N�s nos recusamos a acreditar que s�o insuficientes os fundos de oportunidade nesta na��o. Assim n�s viemos trocar este cheque, um cheque que nos dar� o direito de reclamar as riquezas da liberdade e a seguran�a da justi�a.
N�s tamb�m viemos recordar � Am�rica dessa cruel urg�ncia. Este n�o � o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o rem�dio tranq�ilizante do gradualismo. Agora � o tempo para transformar em realidade as promessas da democracia. Agora � o tempo para subir do escuro e desolado vale da escurid�o da segrega��o ao caminho iluminado da justi�a racial. Agora � o tempo para erguer nossa na��o das areias movedi�as da injusti�a racial � pedra s�lida da fraternidade. Agora � o tempo para fazer da justi�a uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a na��o negligenciar a urg�ncia desse momento. Este ver�o sufocante do descontentamento leg�timo dos Negros n�o passar� at� termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este 1963 n�o � um fim, mas um come�o. E aqueles que esperam que o Negro, agora estar� contente, ter�o um violento despertar se a na��o voltar aos neg�cios de sempre. N�o restar� tranq�ilidade na Am�rica at� o Negro garantir seus direitos de cidad�o. Os redemoninhos da revolta continuar�o a balan�ar as funda��es de nossa na��o at� o dia brilhante da justi�a emergir.
Mas h� algo que eu tenho que dizer ao meu povo, que se encontra no c�lido limiar que leva ao pal�cio da justi�a. No processo de conquistar nosso leg�timo direito, n�s n�o devemos ser culpados de a��es injustas. N�o vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da x�cara da amargura e do �dio. N�s sempre temos que conduzir nossa luta num alto n�vel de dignidade e disciplina. N�s n�o devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em viol�ncia f�sica. Novamente e novamente, n�s temos que subir �s majestosas alturas da reuni�o da for�a f�sica com a for�a de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou � comunidade Negra que n�o devemos ter uma desconfian�a para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irm�os brancos, como comprovamos pela presen�a deles hoje aqui, vieram entender que o destino deles � amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles � ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. N�s n�o podemos caminhar sozinhos.
E como n�s caminhamos, n�s temos que fazer a promessa que n�s sempre marcharemos � frente. N�s n�o podemos retroceder. Existem aqueles que est�o perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando voc�s estar�o satisfeitos?"
N�s nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for v�tima dos horrores indiz�veis da brutalidade policial. N�s nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, n�o puderem ter hospedagem nos mot�is das estradas e nos hot�is das cidades. N�s n�o poderemos estar satifeitos enquanto nossas crian�as forem despidas e roubadas de sua dignidade por sinais como "somente para brancos". N�s n�o estaremos satisfeitos enquanto um Negro n�o puder votar no Mississipi e um Negro em Nova York acreditar que ele n�o tem motivo para votar. N�o, n�o, n�s n�o estamos satisfeitos e n�s n�o estaremos satisfeitos at� que a "justi�a e a retid�o rolem abaixo como �guas de uma poderosa correnteza".
Eu n�o esqueci que alguns de voc� vieram at� aqui ap�s grandes testes e sofrimentos. Alguns de voc� vieram recentemente de celas estreitas das pris�es. Alguns de voc�s vieram de �reas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das persegui��es e pelos ventos de brutalidade policial. Voc� s�o o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a f�, que o sofrimento imerecido � redentor. Voltem ao Mississippi, voltem ao Alabama, voltem � Carolina do Sul, voltem � Ge�rgia, voltem a Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situa��o pode e ser� mudada. N�o se deixem caiar no vale de desespero.
Eu digo a voc�s hoje, meus amigos, que embora n�s enfrentemos as dificuldades de hoje e amanh�, eu ainda tenho um sonho. � um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho, que um dia esta na��o se levantar� e viver� o verdadeiro significado de seus princ�pios: "N�s celebraremos estas verdades e elas ser�o claras para todos, que os homens s�o criados iguais".
Eu tenho um sonho, que um dia das colinas vermelhas da Ge�rgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poder�o se sentar junto � mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho, que um dia, at� mesmo no estado de Mississipi, um estado sufocado com o calor da injusti�a, sufocado com o calor de opress�o, ser� transformado em um o�sis de liberdade e justi�a.
Eu tenho um sonho, que minhas quatro pequenas crian�as v�o um dia, viver em uma na��o onde elas n�o ser�o julgadas pela cor da pele, mas pelo conte�do de seu car�ter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho, que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os l�bios gotejando palavras de interven��o e nega��o; nesse justo dia, no Alabama, meninos negros e meninas negras poder�o unir as m�os com meninos brancos e meninas brancas como irm�s e irm�os. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho, que um dia, "todo vale ser� exaltado, e todas as colinas e montanhas vir�o abaixo, os lugares �speros ser�o aplainados e os lugares tortuosos ser�o endireitados e a gl�ria do Senhor ser� revelada e toda a carne estar� junta".
Esta � nossa esperan�a. Esta � a f� com que regressarei ao Sul. Com esta f� n�s poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperan�a. Com esta f� n�s poderemos transformar as disc�rdias estridentes de nossa na��o em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta f� n�s poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para cadeia juntos, defender a liberdade juntos, sabendo que seremos livres um dia. Este ser� o dia, este ser� o dia quando todas as crian�as de Deus poder�o cantar com um novo significado: "Meu pa�s, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, de qualquer lado da montanha, deixe o sino da liberdade tocar!"
E se a Am�rica � uma grande na��o, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim tocar� o sino da liberdade nas extraordin�rias montanhas de New Hampshire.
Tocar� o sino da liberdade nas poderosas montanhas de Nova York.
Tocar� o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Tocar� o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve do Colorado.
Tocar� o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Calif�rnia.
Mas n�o � s� isso: Tocar� o sino da liberdade na Stone Mountain da Ge�rgia.
Tocar� o sino da liberdade na Lookout Mountain do Tennessee.
Tocar� o sino da liberdade em todas as colinas e montanhas do Mississipi.
Em todas as montanhas, o sino da liberdade tocar�.
E quando isto acontecer, quando n�s permitimos o sino da liberdade soar, quando n�s deixarmos ele soar em toda moradia, em todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, n�s poderemos acelerar aquele dia quando todas as crian�as de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e cat�licos, poder�o unir m�os e cantar nas palavras do velho spiritual negro, 'Livres afinal, livres afinal. Obrigado, Deus todo-poderoso, n�s somos livres afinal'.
Bibliografia
The Martin Luther King Jr. Papers Project. Dispon�vel em: http://www.stanford.edu/group/King/.
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