Segundo discurso de posse de Abraham Lincoln (04/03/1865) |
Gilson Gustavo de Paiva Oliveira
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Durante o seu primeiro mandato, Lincoln n�o conseguiu acabar com a guerra que amea�ava fragmentar os Estados Unidos e por isso, mesmo sendo indicado pelo Partido Republicano � reelei��o, os analistas pol�ticos n�o acreditavam que ele pudesse vencer uma nova elei��o presidencial. No entanto, as not�cias sobre a conquista de Atlanta pelo general Sherman mudaram a opini�o popular e Lincoln conseguiu uma vit�ria por 212 votos eleitorais contra 21 do general George McClellan.
No dia 04 de mar�o de 1865, Lincoln iniciou seu segundo mandato fazendo um de seus �ltimos discursos, j� que algumas semanas depois seria assassinado por John Wilkes Booth em 14 de abril de 1865.
Neste segundo comparecimento, para prestar o juramento do posto presidencial, h� menos raz�es para um discurso extenso, do que houve no primeiro. No primeiro, uma defini��o, de algum modo detalhada, de um rumo a ser seguido, se afigurou coisa justa e adequada. Agora, � expira��o de quatro anos, durante os quais as declara��es p�blicas t�m sido constantemente exigidas, a respeito de todos os pontos e de todas as fases da grande contenda que ainda absorve a aten��o e consome as energias da na��o, pouca coisa, que seja nova, pode ser apresentada. O progresso das nossas armas, do que tudo o mais fundamentalmente depende, � bem conhecido, tanto do p�blico como de mim pr�prio; e esse progresso, confio eu, � razoavelmente satisfat�rio e encorajador para todos. Com grande esperan�a quanto ao futuro, nenhuma predi��o, relativamente a ele, se aventura.
Na solenidade correspondente a esta, de quatro anos passados, todos os pensamentos se encontravam ansiosamente orientados para uma iminente guerra civil. Todos a receavam - todos procuravam evita-la. Ao mesmo tempo em que o discurso de posse estava sendo proferido, neste pal�cio, inteiramente devotado � salva��o da Uni�o sem guerra, agentes rebeldes se achavam na cidade procurando destruir a Uni�o, procurando dissolver a Uni�o, e dividir efeitos, por via de negocia��o. Ambas as partes desaprovavam a guerra; mas uma das partes seria capaz de fazer a guerra, preferindo isso a deixar que a na��o sobrevivesse; e a outra estava disposta a aceitar a guerra, preferindo isso a ver a Uni�o perecer. E a guerra veio.
Um oitavo de toda a popula��o se compunha de escravos de cor, n�o distribu�dos generalizada e uniformemente pelo territ�rio da Uni�o, e sim localizados na sua �rea sul. Estes escravos constitu�am um interesse peculiar e poderoso. Todos sabiam que esse interesse era, de alguma forma, a causa da guerra. Refor�ar, perpetuar e estender esse interesse, tal foi o objetivo pelo qual os insurretos estariam dispostos a destro�ar a Uni�o, ainda que fosse por meio da guerra; ao passo que o governo n�o reclamou direito algum de fazer mais do que restringir a expans�o territorial desse objetivo. Nenhuma das partes esperava que a guerra tivesse a magnitude, ou a dura��o, que ela j� atingiu. Nenhuma das partes previu que a causa do conflito poderia cessar com o conflito, ou mesmo que a cessa��o do conflito ocorresse. Cada qual andou � cata de um triunfo mais f�cil, e de um resultado menos fundamental e menos assustador. As duas partes l�em a mesma B�blia, e rezam para o mesmo Deus; e cada uma delas invoca a Sua ajuda contra a outra. Deve parecer estranho que homens ousem pedir a assist�ncia de um Deus justo, na tarefa de extrair o seu p�o do suor do rosto de outros homens: todavia, n�o julguemos, para que n�o sejamos julgados. As preces de ambas as partes n�o poderiam ser satisfeitas; e de nenhuma das partes elas foram atendidas plenamente. O Todo-poderoso tem os Seus prop�sitos pr�prios. 'Maldito seja o mundo, devido �s ofensas! porque � preciso por necessidade que as ofensas se pratiquem; mas ai daquele homem por meio do qual a ofensa � praticada!' Se tivermos de supor que a escravid�o norte-americana constitui uma de tais ofensas, que, na provid�ncia de Deus, precisa por necessidade vir, mas que, depois de prosseguir durante o Seu tempo aprazado, Ele agora deseja remover, e que Ele d�, tanto ao Norte como ao Sul, esta guerra terr�vel, como sendo o an�tema devido �queles pelos quais a ofensa foi levada a cabo, n�o deveremos n�s discernir, nisso, nenhum afastamento daqueles atributos divinos, que os que acreditam num Deus Vivente sempre Lhe reconhecem? De todo cora��o esperamos -fervorosamente rezamos - para que esta colossal maldi��o da guerra possa desfazer-se e desaparecer prontamente. Ainda assim, se Deus deseja que ela continue, at� que todas as riquezas acumuladas pelo trabalho incans�vel dos servos, ao longo de duzentos e cinq�enta anos, sejam dissipadas, e at� que cada gota de sangue retirada por meio do chicote, seja paga por outra gota, retirada pela espada, como foi dito tr�s mil anos atr�s, ainda assim se ter� de dizer que 'os julgamentos do Senhor s�o de todo verdadeiros e justos'.
Sem rancor para com pessoa alguma; com caridade para todos; com firmeza no direito, assim como Deus nos d� a faculdade de ver o que � direito, tratemos de esfor�ar-nos, para concluir o trabalho em que estamos empenhados; para pensar os ferimentos da na��o; para cuidar daquele que tiver combatido na batalha, e de sua vi�va, e do seu �rf�o - para fazer tudo o que possa conseguir e acarinhar uma paz justa e duradoura, entre n�s mesmos, e com todas as na��es.
Refer�ncias
WILLIAMS, T. Harry. A mensagem de Lincoln: sele��o de discursos, cartas e outros escritos do grande l�der da democracia. S�o Paulo: Ibrasa, 1964. p.279-281.
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