Renascer mais uma vez ou de volta ao come�o |
Stela Moura
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Mais um ciclo solar se inicia e a P�scoa, mais uma vez, vem nos lembrar da celebra��o ancestral desta "passagem".
Primitivamente, a P�scoa, ou Pessach, pode ser entendida como uma conex�o com nosso passado an�mico, pois simboliza a Luz do Sol, s�mbolo m�ximo de vida para as primeiras tribos humanas do norte, vencendo o ciclo das esta��es e dando in�cio a mais um per�odo de fertilidade, semeadura, plantio e colheita.
A volta da for�a � luz do Sol, a primavera do hemisf�rio norte, � de um valor simb�lico muito especial. De 21 de mar�o, in�cio da primavera, a 21 de dezembro, data que marca a chegada do inverno no norte, per�odo onde e natureza entra em repouso, s�o 9 meses de vida, trabalho e armazenamento de alimentos para o inverno, per�odo onde o sol praticamente n�o vai aquecer nem estar� presente gerando vida.
Da� a import�ncia da observa��o cuidadosa dos movimentos celestes, da trajet�ria do sol, e todos os corpos que marcam os ciclos terrestres. Para os eg�pcios, a posi��o da estrela S�rius por exemplo, indicava o per�odo de cheia do Nilo, fonte de vida e poder para esta civiliza��o.
Pela mesma raz�o encontramos at� hoje monumentos neol�ticos, verdadeiros calend�rios de marca��o desta trajet�ria dos corpos celestes, pois de uma observa��o precisa do c�u dependia a continuidade da vida.
Com o tempo, este ritual de reinicio das atividades cotidianas de sobreviv�ncia foi sendo incorporado pelas v�rias civiliza��es que foram se formando, nos mais diferentes lugares.
Dentro de nossa perspectiva tropical talvez n�o tenhamos a exata no��o do significado desta simbologia, pois por aqui o sol brilha o ano todo, e portanto n�o deixa t�o marcante assim seus ciclos de expans�o e retra��o.
Uma das fontes prim�rias da hist�ria ocidental pode ser o Antigo Testamento dos Hebreus, e como todo documento, algumas coisas podem ter sido acrescentadas e outras retiradas, conforme a corrente pol�tica que detinha o poder no per�odo e o que lemos hoje pode ser uma mera sombra do que foi realmente relatado em sua origem. � claro que isso n�o desqualifica sua import�ncia e a cren�a em sua validade pelo car�ter livre e pessoal que cada cren�a tem.
Um exemplo bem atual sobre essa quest�o � a destrui��o das est�tuas pelo Taleb�. Como a hist�ria da religi�o Afeg� poder� ser contada daqui h� alguns s�culos? Se n�o h� evidencia, n�o h� nada a ser contado... e suplantando o Budismo, o Taleb� poder� reescrever sua hist�ria religiosa contando o que melhor lhe convier...( ! ) O tratamento cr�tico das fontes � de fundamental import�ncia em qualquer an�lise hist�rica.
Como excelentes observadores do c�u, pois dependiam fundamentalmente dele para a sobreviv�ncia no deserto, n�o seria exagero dizer que a P�scoa judaica acontece em um momento "calculado" por Mois�s. A hist�ria relata que o Juda�smo comemora esta data desde que Mois�s, junto com o povo hebreu libertado do Egito faz a travessia (passagem) do deserto.
A Pessach ou P�scoa, sempre ocorre na Lua Cheia em data pr�xima ao Equin�cio da Primavera no hemisf�rio norte, com a entrada do Sol no signo de �ries, e dura oito dias onde hoje � comemorado n�o s� �xodo do Egito, mas tamb�m a Independ�ncia nacional do Estado de Israel.
A P�scoa Judaica comemora a liberta��o da opress�o, e reafirma seu car�ter de tribo escolhida pelo Ser Divino, a passagem de um momento de pris�o e humilha��o para um antigo e caro ideal de liberdade e autonomia.
De sua parte, a Igreja Cat�lica que j� tinha assimilado grande parte da simbologia e cosmologia judaica, 17 s�culos depois de Mois�s, no Conc�lio de Nic�ia em 325 fixou para a data da P�scoa crist� "o primeiro domingo ap�s a primeira lua cheia que ocorre ap�s ou durante o Equin�cio da Primavera boreal ". Assim como fez com tantas outras celebra��es pag�s, a Igreja Cat�lica incorporou mais essa data � seu calend�rio eclesi�stico.
Para os crist�os P�scoa tamb�m representa renova��o, ressurrei��o, vit�ria sobre a morte, e da luz sobre a sombra. Todos s�mbolos primitivos das antigas pr�ticas de adora��o do Sol, como s�mbolo m�ximo da vida.
A simbologia do signo de �ries, per�odo onde � comemorada a P�scoa, mostra o in�cio e o princ�pio vital, a for�a bruta da vida que est� contida nos come�os, a vit�ria do dia sobre a noite, do calor sobre o frio. � o princ�pio do Eu Sou atendendo ao chamado da vida. Acabado o degelo a vida tende novamente a manifestar-se e reproduzir-se.
Para a Alquimia a Lua cheia � o momento em que o Sol apresenta a possibilidade m�xima do seu brilho � noite, refletindo na Lua o que s� poderia ser visto durante o dia, ou seja, mostrando que mesmo em sua presen�a virtual sua for�a � poderosa.
Essas observa��es nos mostram que nossa origem at�vica � muito mais forte que qualquer ideologia, seja ela religiosa, pol�tica ou cultural. Nosso s�mbolos ficam guardados e encontram formas de se manifestar, quer tenhamos consci�ncia deles ou n�o.
A Antropologia nos diz que somos seres simb�licos por natureza. Ent�o, que a P�scoa possa reacender em nosso cora��o aquela chama de renascimento que teima em n�o se apagar.
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