Sangue, suor e honra |
Leonardo Humberto Soares
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�De todos os espartanos e th�spios que combateram com bravura, a maior prova de coragem foi dada pelo espartano Dienekes. Dizem que antes da batalha um nativo da Tr�cia lhe disse que os arqueiros persas eram t�o numerosos que, quando disparavam seus arcos, a massa de flechas bloqueava o sol. Dienekes, no entanto, completamente impass�vel diante da for�a do ex�rcito persa, simplesmente comentou: - �timo. Combateremos, ent�o, � sombra".
Her�doto, Hist�ria.
Na Europa Medieval, os grandes cavalheiros seguiam certos "c�digos" que os conduziam a honra e mediavam sua virtude no campo de batalha. No Jap�o, entre o fim do per�odo Sengoku e no in�cio do shogunato Tokugawa, foi escrito o �Bushido� - um c�digo guerreiro semelhante que determinava o modo de vida e de morte dos samurais. Mas entre tantos signos de honra, gl�ria e coragem destaca-se na Antiguidade as �Leis de Licurgo�, seguidas com paix�o suprema pelos lacedem�nios, ou como s�o mais conhecidos, os espartanos.
Forjados durante anos com �rduo treinamento, eram submetidos a diversas t�cnicas para controlar seu Phobos (medo) e adquirir resist�ncia f�sica e mental para seu derradeiro ato, morrer em batalha.
Diferente do solipsismo encontrado nas demais ordens guerreiras, o lacedem�nio lutava n�o somente por si, mas por seu companheiro e pela sua polis. O hoplon (escudo feito de carvalho e bronze) da falange existia para proteger a vida que estava ao seu lado e n�o a sua, e caso seu companheiro perecesse diante de uma batalha era seu dever lan�ar-se ante ao inimigo e resgatar o corpo para um sepultamento digno.
O escudo, al�m de ser um instrumento de defesa, era um objeto simb�lico de grande import�ncia. Muitos eram passados de gera��o a gera��o e era a representa��o do poderio da falange hoplita.
| Este � meu escudo.
Em combate, eu o levo a minha frente, mas ele n�o � s� meu.
Protege o meu irm�o � minha esquerda.
Protege a minha cidade.
Nunca deixarei o meu irm�o fora de sua prote��o nem minha cidade sem o seu resguardo.
Morrerei com meu escudo a minha frente enfrentando o inimigo.
(Poema Lacedem�nio) |
Diante de uma batalha, o hoplita que perdesse sua armadura ou seu elmo n�o seria punido, pois deste modo ele estaria expondo a sua vida, o que at� certo ponto era uma atitude que demonstrava coragem, mas, caso ele perdesse seu escudo, seria punido com a morte, pois estaria colocando a vida de seu companheiro em perigo.
Seu equipamento completo, incluindo a pan�plia (armadura e escudo) pesava cerca de quarenta quilos. Utilizavam como armas uma lan�a de dois metros e meio e uma espada bastante curta, chamada xiphos e apesar do grande peso dos utens�lios que utilizavam eram bastante h�beis e r�pidos no campo de batalha.
A contagem dos mortos era feita de maneira peculiar: tra�avam em seus bra�os braceletes improvisados de galhos aonde escreviam seu nome de modo a distinguirem seus corpos, caso fossem de algum maneira mutilados, a ponto de n�o serem reconhecidos (utilizavam madeira por n�o ter nenhum valor como saque para os inimigos), faziam o mesmo com outro peda�o de galho e os colocavam, ent�o, em uma cesta. No final da batalha, todos deveriam ir buscar na cesta o galho com seu nome, os galhos que sobrassem seriam, ent�o, pertencentes aos mortos na batalha.
Apesar de toda esta coragem viril (chamada tamb�m de andrea) os espartanos choravam. Era comum ver ap�s a batalha centenas de homens ajoelhados no ch�o, tremendo e chorando, sem for�as para se levantar. Chamavam este momento de hesma phobou (extravasando o medo) e n�o era considerado afeminado aquele que se encontrasse nesta situa��o.
Guerreiros supremos ou assassinos sem piedade, foram um povo singular na hist�ria da Gr�cia Antiga, e podemos visualizar sua gl�ria nos monumentos levantados em Term�pilas, local de sua mais importante batalha:
| O xein angellein Lakedaimonios hoti tede Keimetha tois keinon rhemasi peithomenoi
Digam aos espartanos, estranhos que passam, Que aqui, obedientes a lei, jazemos. (Simonides - Poeta Grego) |
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