O negro da chibata, de Fernando Granato, narra a trajet�ria de Jo�o C�ndido
Felisberto, o Almirante Negro, que entrou para a hist�ria por liderar, em 1910,
o levante armado dos marujos contra o uso de castigos f�sicos na Marinha
brasileira. Heran�a militar portuguesa, os maus-tratos eram uma regra entre os
navais. A Revolta da Chibata, observa o autor, � o resultado de uma consci�ncia
pol�tica at� ent�o desconhecida na classe oper�ria do pa�s.
Filho de ex-escravos, Jo�o C�ndido entrou para a corpora��o em 1894, aos
14 anos � �poca em que as For�as Armadas aceitavam menores e a Marinha, em
particular, recrutava-os junto � pol�cia. Este n�o foi o caso de Jo�o C�ndido.
Recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor, logo desponta como l�der
e interlocutor dos marujos junto aos oficiais.
Em 1910, uma viagem de instru��o � Inglaterra alicer�a, entre os
marinheiros brasileiros, as bases para o levante conspirat�rio que poria fim ao
uso de castigos f�sicos na Marinha. Durante a viagem inaugural do Minas
Gerais, Jo�o C�ndido e companheiros tomam ci�ncia do movimento pela
melhoria das condi��es de trabalho levado a cabo pelos marinheiros brit�nicos
entre 1903 e 1906. E, ainda, da insurrei��o dos russos embarcados no encoura�ado
Potemkin, em 1905.
De volta ao Brasil, o estalo das chibatas n�o cessa, e os soldos baixos �
contrastando com o status de maior frota n�utica do mundo, superior at� mesmo
� inglesa � acirra o clima de tens�o entre os marujos. At� que em 22 de
novembro de 1910, a lembran�a das 250 chibatadas recebidas por um marinheiro,
no dia anterior, deflagra o in�cio da revolta. Durante quatro dias, marinheiros
liderados por Jo�o C�ndido e entrincheirados nos navios S�o Paulo, Bahia,
Minas Gerais e Deodoro � ancorados ao longo da ba�a da Guanabara
� lan�am bombas na cidade.
Finda a revolta e tra�dos pelo Governo, que prometera anistiar todos os
revoltosos, Jo�o C�ndido e companheiros acabam presos. A defesa de Evaristo de
Moraes inocenta o grupo. Mas, da� para frente, o Almirante Negro passa a levar,
at� a morte, a fama de l�der subversivo. "N�s quer�amos combater os
maus-tratos, a m� alimenta��o [...] E acabar com a chibata, o caso era s�
este" � declarou Jo�o C�ndido, em 1968, em depoimento ao Museu de
Imagem e do Som.
O
negro da chibata ilumina, ainda, um per�odo pouco conhecido da hist�ria
do Almirante Negro, e que vai da absolvi��o � morte, no Rio de Janeiro, em
1969, aos 89 anos. Aponta que a fama de "perigoso" n�o reflete as
convic��es pol�ticas de Jo�o C�ndido, muito menos encontra respaldo na vida
que passou a levar, ap�s o fim da revolta � �poca marcada pela persegui��o
pol�tica, pela pen�ria e pelas trag�dias pessoais. De marinheiro a pescador,
recluso e doente, teve a pol�cia vigilante at� mesmo em seu enterro.
No come�o da d�cada de 70, Jo�o Bosco e Aldir Blanc homenagearam Jo�o C�ndido
Felisberto com o samba O Mestre-sala dos mares. A hist�ria do Almirante
Negro e da Revolta da Chibata ainda fazia eco nos c�rculos militares e a m�sica
acabou vetada pela censura por trazer � tona um assunto proibido pelas For�as
Armadas.
Fernando Granato � jornalista e j� trabalhou nos principais ve�culos
de comunica��o do pa�s, entre eles a revista Veja e o Jornal da
Tarde e O Estado de S. Paulo.� autor dos livros Esses
jovens escritores, Bonequinhas manchadas de sangue, Sociedade de
ladr�es e Nas Trilhas do Rosa.