Os primeiros tempos da avia��o s�o
registrados nas mem�rias e numa fotobiografia de Santos Dumont
Joana Monteleone
No ver�o de 1901, um elegante bal�o amarelo cruzava o c�u de Paris. Para
espanto dos pedestres, o brasileiro Alberto Santos Dumont tentava dar uma volta
completa ao redor da rec�m-inaugurada Torre Eiffel. Anos depois, em 1906, ele
levantaria v�o num monoplano, o 14 Bis. Inventor genial e pacifista convicto,
Santos Dumont suicidou-se em 1932, aos 59 anos, desiludido com a utiliza��o de
avi�es nos combates, sobretudo da Primeira Guerra Mundial. Poucas vezes o
aviador escreveu sobre a pr�pria contribui��o para a Hist�ria da humanidade.
O recente relan�amento de um volume esquecido recupera o legado de Dumont. O
que eu vi. O que n�s veremos saiu pela primeira vez no ano em que foi
escrito, 1918. Em 1986, o Minist�rio da Aeron�utica lan�ou-o em pequena
tiragem para uso interno. Agora, est� dispon�vel em todo o pa�s.
Com humildade, o autor registrou as aventuras a�reas do tempo em que morava em
Paris. Narrou os suntuosos jantares com a nata da aristocracia da cidade no
Maxim�s. Discorreu com simpatia sobre a amizade com o relojoeiro Louis Cartier.
Mas descreveu sobretudo os primeiros passos da avia��o. A inf�ncia e a admira��o
pelos livros de J�lio Verne (1828-1905), a descoberta dos leves motores a
gasolina e a indescrit�vel sensa��o de conquistar os ares s�o os momentos
mais fascinantes do relato.
O retrato desse homem elegante e destemido pode ser completado com a pequena
fotobiografia da jornalista americana Nancy Winters, tamb�m rec�m-lan�ada. A
autora defende a tese de que foi Alberto Santos Dumont o primeiro a fazer um v�o
documentado. A afirma��o � pol�mica nos Estados Unidos, onde se acredita que
foram os irm�os Wright os pioneiros na avi�o. �Eu n�o quero tirar em nada o
m�rito deles; mas � ineg�vel que, s� depois de n�s, se apresentaram eles
com um aparelho superior aos nossos...�, escreveu o brasileiro em suas mem�rias.
Dumont antevia as contribui��es da avia��o para o futuro da humanidade.
�Prevejo uma �poca em que se far�o carreiras regulares de aeroplano entre as
cidades sul-americanas�, ressaltava. A �nica coisa com que nem sequer ousou
sonhar foi a travessia regular do Oceano Atl�ntico, completada em 1922 pelo
americano Charles Lindbergh (1902-1974).