Um estudo cl�ssico - e delicioso- sobre o Rio de Janeiro da
�poca imperial
Marcelo Camacho
Quando desembarcou no Rio de Janeiro colonial, em 1808, a fam�lia real
portuguesa encontrou uma cidade que possu�a 71 ruas, 27 becos, sete travessas e
cinco ladeiras. Habitado por 60.000 pessoas (sendo que 30.000 eram escravos), o
Rio era um lugar atrasado, de costumes r�gidos, com�rcio limitad�ssimo e sem
nenhuma vida cultural. A chegada da corte de dom Jo�o VI, que trouxe para c�
12.000 pessoas de uma s� vez, provocou mudan�as radicais na cidade. Um retrato
desse per�odo de transforma��es est� no livro O Rio de Janeiro Imperial, do historiador Adolfo Morales de los Rios
Filho. Lan�ado originalmente em 1946, ele s� agora est� ganhando a sua
segunda edi��o. Dividido em cap�tulos espec�ficos, o estudo aborda assuntos
como a geografia da cidade, as rela��es de trabalho e os costumes sociais de
ent�o. N�o h� grandes reflex�es pol�ticas ou sociol�gicas sobre o per�odo,
mas ainda hoje a obra � prezada pelos historiadores como uma riqu�ssima fonte
de informa��es acerca da vida no Brasil durante a primeira metade do s�culo
XIX.
� curioso observar como alguns h�bitos mudaram rapidamente. At� a chegada da
corte, as mulheres mal sa�am � rua. Quando isso acontecia, eram acompanhadas
por toda a fam�lia: primeiro as crian�as, depois as mucamas com os beb�s, a
seguir mo�os e mo�as, as tias solteironas, a esposa e, por fim, o marido, dono
daquilo tudo. J� na metade do s�culo XIX, no entanto, surgem as chamadas mo�as
janeleiras, jovens casadoiras e bem mais liberais, que, da sacada de suas casas,
se comunicavam com seus pretendentes atrav�s da linguagem das flores. Havia
flor para tudo, cada uma com significado distinto. O bot�o de rosa branca, por
exemplo, dizia que a mo�a queria casamento. Mais curioso era o que expressava a
d�lia escarlate: "�s um portento". E os pobres cavalheiros tinham de
decorar tudo isso.
Morales
de los Rios tamb�m apresenta sua vers�o para o surgimento da capoeira. Segundo
ele, a luta nasceu entre os escravos que trabalhavam no porto, carregando na
cabe�a cestos que tinham o nome de capoeiro. Nas horas vagas, eles brincavam
entre si demonstrando suas habilidades f�sicas. Juntos, os praticantes da
capoeira � negros fugidos ou libertos e tamb�m mulatos e brancos � sa�am
pela rua em bandos, "provocando conflitos, surrupiando coisas, praticando
mil delitos e rasgando, �s vezes, o ventre de pacatos burgueses". E o
carioca que achava que o arrast�o foi inventado nas praias alguns ver�es atr�s...
Tamb�m tinha ares de baderna o Carnaval das primeiras d�cadas do s�culo XIX.
Um dos principais divertimentos era o entrudo, que consistia em jogar nas
pessoas ovos e lim�es de cera cheios de �gua perfumada, al�m de baldes de �gua
suja. Eram tr�s dias de bagun�a e todos participavam, do imperador aos
escravos. Carnaval para todos, como acontece at� hoje.