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Livro: Republicanos e Libert�rios: pensadores radicais no Rio de Janeiro-1822
Autor: Renato Lopes Leite
Editora: Civiliza��o Brasileira
Ano: 2000
N�mero de p�ginas: 332
Independ�ncia: a luta entre conservadores e republicanos
Os pensadores radicais republicanos sabiam que a perman�ncia do pr�ncipe regente no Brasil implicaria a sobreviv�ncia de um regime mon�rquico absolutista

Adelto Gon�alves

Ao concentrar o foco de seus estudos sobre a Independ�ncia, os historiadores tradicionais privilegiaram dom Pedro I e seu ministro Jos� Bonif�cio, deixando de lado a atua��o dos parlamentares brasileiros eleitos para as Cortes Constituintes em Lisboa e daqueles pol�ticos que, por meio das p�ginas de ef�meros jornais que circularam no Rio de Janeiro, nas prov�ncias e at� mesmo na Europa, combateram n�o s� em favor da separa��o como se opuseram ao retorno do absolutismo mon�rquico.
Nos �ltimos meses, por�m, tr�s pesquisadores vieram jorrar luz sobre uma zona escura de nossa Hist�ria em que por quase 200 anos tem predominado uma vis�o monol�tica, parcial e elitista da Independ�ncia: primeiro, M�rcia Berbel com A Na��o como Artefato: Deputados do Brasil nas Cortes Portuguesas-1821-1822; depois, Isabel Lustosa com Insultos Impressos � a guerra dos jornalistas na Independ�ncia � 1821-1823 e, agora, Renato Lopes Leite com Republicanos e Libert�rios: Pensadores Radicais no Rio de Janeiro-1822. Os tr�s livros erguem um imenso painel das aspira��es que motivaram a separa��o do Brasil de Portugal e as lutas pol�ticas que se seguiram.
H� muito de mistifica��o na hist�ria da Independ�ncia e o estudo de Renato Lopes Leite serve para mostrar que o epis�dio do �Fico� n�o foi uma unanimidade nem o Sete de Setembro teve � �poca a import�ncia que lhe � atribu�da pela historiografia da Independ�ncia. Pelo contr�rio. Foi a convoca��o da Constituinte brasileira a 3 de junho de 1822 que teve maior relev�ncia, porque deixava claro que os portugueses deste lado do Atl�ntico n�o estavam mais dispostos a aceitar o que as Cortes de Lisboa tentavam impor. esta seria a verdadeira data a ser comemorada.
Por que, ent�o, comemora-se o Sete de Setembro e n�o o Tr�s de Junho? Ora, porque quem escreve a hist�ria s�o os vencedores. O Tr�s de Junho foi um movimento que escapou ao controle do pr�ncipe regente, depois Pedro I, e daquelas for�as que se agrupavam em torno dele e defendiam o absolutismo mon�rquico, Bonif�cio � frente. N�o foi, enfim, um ato da vontade do regente, mas conseq��ncia da interven��o da imprensa republicana. Como a hist�ria oficial mostra que a Independ�ncia nasceu de um ato volunt�rio de Pedro I, vencedor do embate entre as for�as pol�ticas, o Sete de Setembro acabou imposto e ficou no imagin�rio brasileiro.
� �poca, o que se entendia por republicanismo era o movimento que se contrapunha � monarquia absolutista, ou seja, aquilo que os pap�is daquele tempo chamam de �governo constitucional representativo� ou governo misto estabelecido por uma Assembl�ia Constituinte. Em outras palavras: pouco tem a ver com a Rep�blica militarista proclamada em 1889 por Deodoro ou com o caudilhismo das rep�blicas hispano-americanas. H� uma diferen�a entre o conceito de rep�blica do s�culo 20 e o que se pensa do republicanismo no s�culo 18 e in�cio do 19. Em 1822, Jo�o Soares Lisboa, Cipriano Barata e frei Caneca, os principais art�fices do republicanismo da �poca, manifestaram-se publicamente favor�veis � monarquia, desde que constitucional e representativa.
Os pensadores radicais republicanos n�o apoiaram o �Fico�. Sabiam que a perman�ncia do pr�ncipe regente no Brasil implicaria a sobreviv�ncia de um regime mon�rquico absolutista. Agiram para fazer com que o regente retornasse a Portugal, abrindo espa�o para a constitui��o de uma federa��o brasileira. Para d. Pedro I e seu ministro Jos� Bonif�cio, a Constituinte de Lisboa era respons�vel pela dissemina��o do republicanismo no Brasil. Como exemplo, citavam o apoio de uma parte das Cortes portuguesas � junta governativa da Bahia, que amea�ava cortar os v�nculos com o �centro do sistema�, ou seja, com a monarquia do Rio de Janeiro. O g�nio pol�tico de Jos� Bonif�cio reside na habilidade que teve para canalizar a indigna��o provocada pelas Cortes de Lisboa em favor de uma sa�da que contemplasse apenas um governo n�o-constitucional e absolutista.
Para Jos� Bonif�cio, a preserva��o do territ�rio da ex-possess�o colonial, depois da independ�ncia, s� seria poss�vel com a presen�a de um governo forte, o que significaria a manuten��o de poderes discricion�rios nas m�os de d. Pedro e, por extens�o, nas suas. A import�ncia deste livro est� em provar que houve um pensamento republicano no Brasil da Independ�ncia.
Jornal da Tarde 20/01/2001