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Livro: IBM e o Holocausto
Autor: Edwin Black
Editora: Campus
Ano: 2001
N�mero de p�ginas: 624
Sombra do passado
Um novo livro afirma que a IBM, a multinacional americana, ajudou os nazistas a perseguir, deportar e exterminar milh�es de judeus

�Hitler n�o fez tudo sozinho. Ele teve ajuda.� A frase, do jornalista e escritor americano Edwin Black, embute uma acusa��o grave e pesada. Segundo Black, a International Business Machines, nome por extenso da IBM, a gigantesca multinacional americana que � sin�nimo de computador, ajudou a Alemanha nazista a localizar, deportar e exterminar judeus. A IBM � uma ind�stria centen�ria e fabricava, no in�cio do s�culo passado, m�quinas de tabular e perfuradoras de cart�es � os ancestrais do computador. A tecnologia, inventada pelo americano Herman Hollerith, permitia classificar e ordenar objetos e pessoas. Era indispens�vel, por exemplo, para controlar estoques de empresas ou de departamentos governamentais, regular o tr�fego ferrovi�rio e recensear popula��es. Black mergulhou durante tr�s anos numa montanha de 20 mil p�ginas de documentos e de l� emergiu com a certeza de que a IBM esteve envolvida diretamente com o Holocausto e a m�quina de guerra nazista.
A acusa��o est� detalhada no �ltimo livro do jornalista, IBM e o Holocausto, que acaba de ser lan�ado simultaneamente em v�rios pa�ses, inclusive no Brasil. Black tem 45 anos e � judeu. Ele conta que a id�ia de investigar o papel da IBM no genoc�dio surgiu em 1993, durante uma visita que fez com os pais ao Museu de Holocausto, em Washington. O escritor ficou intrigado com a presen�a de uma m�quina antiga da IBM no museu e prometeu aos familiares que encontraria uma raz�o para isso. O livro � a resposta.
Black faz uma ressalva: o Holocausto, no qual morreram mais de 6 milh�es de pessoas, a maioria judeus, teria ocorrido com ou sem a participa��o da IBM. A diferen�a, prossegue o autor, � que o acesso � tecnologia americana permitiu acelerar a �solu��o final� � a pol�tica de exterm�nio de judeus criada pelo III Reich. Quando Adolf Hitler chegou ao poder, em 1933, a IBM dominava 90% do mercado mundial de m�quinas de tabula��o, perfuradoras e classificadoras. A multinacional possu�a uma subsidi�ria na Alemanha, a Dehomag. Foi essa empresa que forneceu o maquin�rio e o know-how na realiza��o dos dois censos encomendados pelo III Reich, em 1933 e 1939. Os recensamentos foram vitais para que o regime identificasse a religi�o e a ra�a dos 70 milh�es de habitantes da Alemanha. Desse modo, descobriu-se quem era e quem n�o era judeu.
Tamb�m n�o � segredo que a Dehomag ajudou os nazistas a programar as ferrovias alem�s � e, portanto, o movimento dos trens empregados no transporte e deporta��o de judeus. Foi a IBM alem�, ainda, que supriu os burocratas nazistas de parte da tecnologia requerida para administrar os campos de concentra��o. �Quando a Alemanha quis identificar os judeus, a IBM mostrou o caminho�, escreve Black. �Quando Hitler quis usar essa informa��o para lan�ar programas de expuls�o social e expropria��o, a IBM forneceu a tecnologia necess�ria. Quando os trens precisavam cumprir hor�rios, entre cidades ou campos de concentra��o, a IBM tamb�m providenciou a solu��o.�
Alguns historiadores e dem�grafos citados pela imprensa americana e europ�ia contestam, no entanto, as conclus�es mais radicais de Black. N�o h� nenhuma prova, por exemplo, de que a dire��o da IBM estaria ciente de que a tecnologia da empresa era utilizada para exterminar seres humanos. O jornalista, em resposta, cita reportagens do jornal The New York Times nos anos 30 que abordam a persegui��o e deporta��o de judeus.
E insinua ser imposs�vel que os executivos da IBM, cuja sede ficava em Nova York, n�o tivessem conhecimento da pol�tica anti-semita do III Reich. � certo que companhias americanas com neg�cios na Alemanha estavam informadas do anti-semitismo dos nazistas. Mas supor, como Black, que a IBM tenha mantido uma parceria ativa com Hitler mesmo sabendo da matan�a de judeus, � provavelmente um erro.
Thomas J. Watson, presidente da IBM, reuniu-se com Hitler na sede do governo alem�o, em Berlim, em 1937. Watson manifestava admira��o por Hitler e Mussolini e chegou a ser condecorado pelo regime nazista. O filho do executivo americano, Thomas Watson Jr., afirma que �o otimismo de meu pai impediu que ele enxergasse o que se passava na Alemanha de Hitler�. O envolvimento de grandes bancos e empresas alem�s e estrangeiras com o nazismo n�o � novidade. O regime de Hitler encampou as ind�strias locais e filiais alem�s e as enquadrou no figurino nazista. Gigantes como Siemens, Volkswagen, Bayer, Nestl�, General Motors e Ford, por exemplo, participaram do esfor�o de guerra e obrigaram milh�es de judeus e n�o-judeus a trabalhar como escravos (leia o quadro na p�gina anterior). A cumplicidade das multinacionais com o nazismo vem sendo exposta h� v�rios anos por organiza��es judaicas. Os primeiros a ter o passado revelado foram os bancos su��os, que lucraram com os dep�sitos de judeus mortos no Holocausto. Sob press�o e para deter a��es judiciais, as corpora��es celebraram acordos nos quais se comprometeram, por exemplo, a indenizar as v�timas de trabalho escravo.
Em julho passado, algumas das multinacionais mais famosas do planeta acertaram com o governo alem�o a cria��o de um fundo de US$ 5 bilh�es. A IBM, a exemplo de outras multinacionais, alega ter perdido o controle da filial alem� durante a II Guerra. Em nota divulgada h� alguns dias, em resposta � publica��o do livro de Black, a empresa manifestou seu rep�dio ��s horrendas atrocidades cometidas pelo regime nazista�. Tamb�m informou que as m�quinas Hollerith alugadas pela Dehomag aos nazistas eram conhecidas desde 1910 e usadas por governos e institui��es de v�rios pa�ses.
� �bvio que m�quinas e tecnologia n�o podem, em si, ser responsabilizados por atrocidades. Tudo depende do uso que se faz delas. Black, contudo, acredita que a IBM se envolveu mais profundamente com os nazistas que qualquer outra multinacional. Uma das provas, segundo o jornalista, seria o relacionamento privilegiado de Thomas J. Watson, o fundador e presidente da IBM, com o III Reich. Carism�tico e autorit�rio, Watson � descrito por Black como um �canalha� insens�vel, determinado apenas a multiplicar os lucros de sua companhia. Watson visitou Berlim durante o nazismo e foi condecorado por Hitler, em 1937, mas quatro anos depois, quando os EUA entraram na guerra, o executivo devolveu a condecora��o.
As den�ncias de Black j� chegaram � Justi�a. No dia 9, em Nova York, cinco sobreviventes do Holocausto abriram um processo contra a IBM no qual acusam a empresa de ter �ajudado, assistido e participado� do genoc�dio nazista. A a��o exige indeniza��o com base nos lucros obtidos pela companhia em seus neg�cios com os nazistas.
�poca 19/02/2001