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Livro: As festas no Brasil colonial
Autor: Jos� Ramos Tinhor�o
Editora: 34
Ano: 2000
N�mero de p�ginas: 178
Um passado festivo
Historiador analisa mais de 300 anos de festas de car�ter coletivo no Brasil colonial

Cristina Souto

Analisar as festas de car�ter coletivo no Brasil, da carta de Caminha � Independ�ncia, foi o objetivo do historiador Jos� Ramos Tinhor�o em seu novo livro, As festas no Brasil colonial. Trata-se de uma viagem por mais de 300 anos de eventos p�blicos na Am�rica Portuguesa. As festividades se dividem em quatro ciclos cronol�gicos, correspondentes a cada s�culo de coloniza��o. A obra examina diversas manifesta��es criadas durante o per�odo tanto pelo povo quanto pela Igreja e autoridades, como cavalhadas, touradas, prociss�es religiosas ou desfiles de alegorias barrocas.
Ap�s a chegada dos portugueses ao Brasil, as festas se caracterizaram sobretudo pela imposi��o dos valores europeus. "E isso sem qualquer concess�o � cultura preexistente das popula��es ind�genas, ou � que adviria da rica mistura �tnico-cultural branco-africano-crioula ao longo de toda costa e, logo, em pontos distantes do interior", analisa o autor. At� o s�culo 17, as festividades n�o tinham car�ter l�dico: a maioria era promovida pelo Estado ou seguia o calend�rio estabelecido pela Igreja Cat�lica. Os portugueses, rec�m-sa�dos de uma sociedade teocr�tica, contavam com a responsabilidade pessoal diante do pecado para controlar os impulsos pag�os. Pessoas comuns participavam das festividades oficiais como meros espectadores, mas o controle dessa participa��o era menos r�gido do que esperavam os colonizadores.
J� no Brasil do s�culo 17, com a chegada dos negros e a rivalidade entre portugueses e holandeses, as congadas de negros e as cavalhadas de brancos luso-brasileiros tornaram-se as festividades mais representativas. O povo passou ent�o a ter progressivamente maior oportunidade de participa��o em solenidades religiosas. Aos poucos, pessoas de camadas mais baixas deram car�ter coletivo �s cerim�nias com a dramatiza��o de epis�dios b�blicos para propagar o Evangelho. Para o autor, a participa��o popular levou ao deslocamento da diretriz religiosa das festas para objetivos profanos.
Tinhor�o detecta na abund�ncia de festas no calend�rio do Brasil colonial um ind�cio da presen�a do "antigo esp�rito dionis�aco": "Apenas a Igreja contribu�a com cerca de um ter�o dos 365 dias do ano para festividades fora do trabalho." Por�m, nem todos os registros desse esp�rito s�o abundantes: o autor n�o encontrou pistas sobre a m�sica que animou as festas da �poca. "Pode-se afirmar que a mem�ria da m�sica brasileira das ruas coloniais se perdeu", lamenta.
As festas no Brasil colonial, lan�ado pela Editora 34, apresenta ilustra��es (algumas in�ditas) de artistas das diferentes �pocas, como Jean-Baptiste Debret, Frans Post ou Carlos Juli�o. A obra aborda a hist�ria do pa�s sob um novo �ngulo e traz uma importante contribui��o para o estudo da forma��o de nossa cultura.
Ci�ncia Hoje 06/03/2001