Historiador analisa mais de 300 anos de festas
de car�ter coletivo no Brasil colonial
Cristina Souto
Analisar as festas de car�ter coletivo no Brasil, da carta de Caminha �
Independ�ncia, foi o objetivo do historiador Jos� Ramos Tinhor�o em seu novo
livro, As festas no Brasil colonial. Trata-se de uma viagem por mais de
300 anos de eventos p�blicos na Am�rica Portuguesa. As festividades se dividem
em quatro ciclos cronol�gicos, correspondentes a cada s�culo de coloniza��o.
A obra examina diversas manifesta��es criadas durante o per�odo tanto pelo
povo quanto pela Igreja e autoridades, como cavalhadas, touradas, prociss�es
religiosas ou desfiles de alegorias barrocas.
Ap�s a chegada dos portugueses ao Brasil, as festas se caracterizaram
sobretudo pela imposi��o dos valores europeus. "E isso sem qualquer
concess�o � cultura preexistente das popula��es ind�genas, ou � que
adviria da rica mistura �tnico-cultural branco-africano-crioula ao longo de
toda costa e, logo, em pontos distantes do interior", analisa o autor. At�
o s�culo 17, as festividades n�o tinham car�ter l�dico: a maioria era
promovida pelo Estado ou seguia o calend�rio estabelecido pela Igreja Cat�lica.
Os portugueses, rec�m-sa�dos de uma sociedade teocr�tica, contavam com a
responsabilidade pessoal diante do pecado para controlar os impulsos pag�os.
Pessoas comuns participavam das festividades oficiais como meros espectadores,
mas o controle dessa participa��o era menos r�gido do que esperavam os
colonizadores.
J�
no Brasil do s�culo 17, com a chegada dos negros e a rivalidade entre
portugueses e holandeses, as congadas de negros e as cavalhadas de brancos
luso-brasileiros tornaram-se as festividades mais representativas. O povo passou
ent�o a ter progressivamente maior oportunidade de participa��o em
solenidades religiosas. Aos poucos, pessoas de camadas mais baixas deram car�ter
coletivo �s cerim�nias com a dramatiza��o de epis�dios b�blicos para
propagar o Evangelho. Para o autor, a participa��o popular levou ao
deslocamento da diretriz religiosa das festas para objetivos profanos.
Tinhor�o
detecta na abund�ncia de festas no calend�rio do Brasil colonial um ind�cio
da presen�a do "antigo esp�rito dionis�aco": "Apenas a Igreja
contribu�a com cerca de um ter�o dos 365 dias do ano para festividades fora do
trabalho." Por�m, nem todos os registros desse esp�rito s�o abundantes:
o autor n�o encontrou pistas sobre a m�sica que animou as festas da �poca.
"Pode-se afirmar que a mem�ria da m�sica brasileira das ruas coloniais se
perdeu", lamenta.
As
festas no Brasil colonial, lan�ado pela Editora 34, apresenta ilustra��es
(algumas in�ditas) de artistas das diferentes �pocas, como Jean-Baptiste
Debret, Frans Post ou Carlos Juli�o. A obra aborda a hist�ria do pa�s sob um
novo �ngulo e traz uma importante contribui��o para o estudo da forma��o de
nossa cultura.