� pr�tica social conden�vel, mas rotineira exigir-se de certos autores
sempre mais produ��o, e que esta seja de qualidade id�ntica ou
preferencialmente superior �quela que at� ent�o deles se conhece. Isso
acontece sobretudo quando tais autores t�m reputa��o diferenciada -para
melhor- comparativamente a seus pares.
De Francisco Igl�sias o m�nimo que se pode dizer � que poucos como ele
dignificaram a historiografia brasileira, julgamento que parece ser consensual.
Assim poucos como ele estariam qualificados e habilitados para elaborar uma
"Hist�ria da Hist�ria do Brasil" ou uma "Hist�ria da
Historiografia Brasileira", express�o de sua prefer�ncia. Ainda bem
que o fez, pois � not�ria a car�ncia de estudos abrangentes sobre o tema.
Raros s�o os autores que, no s�culo 20, a ele se dedicaram, como Jos�
Hon�rio Rodrigues ou J. R. Amaral Lapa.
O
que se conhece predominantemente entre n�s s�o estudos fracionados ou
focalizando individualmente determinados autores, como, em v�rias oportunidades
e circunst�ncias, operou o pr�prio Igl�sias.
De
qualquer modo, como ele real�a no livro aqui resenhado, o "interesse
crescente por obras do g�nero � sinal seguro de amadurecimento intelectual,
j� com uma ci�ncia social e densa e historiografia digna de nota". Este
livro, realizou-o Igl�sias sob a forma de ensaio, g�nero de sua predile��o e
que superiormente cultivou, se exprimindo mediante elegante estilo, em que a
riqueza e a precis�o vocabulares se aliam � sedutora e escorreita flu�ncia
verbal.
Trata-se
de texto publicado postumamente, declaradamente inconcluso, tendo sido escrito
em duas vers�es e momentos distintos. Por conseguinte, imp�em-se alguns
reparos.
Citem-se
como exemplo o desequil�brio entre as partes e o conte�do dos tr�s
"momentos" com os quais Igl�sias periodizou o objeto-tema abordado
(1550-1838, 1838-1931 e de 1931 em diante). A par das justificativas que
apresenta para a estrutura formal adotada, � flagrante a menor dedica��o do
autor � an�lise da historiografia brasileira posterior a 1931, em especial
aquela por ele denominada "contribui��o da universidade". Nesse
sentido, enquanto o segundo momento compreende 125 p�ginas, sendo que, no
interior delas, Varnhagen mereceu 22, ao per�odo p�s-1931 n�o dedicou mais do
que 5% da obra. Ademais, naquele reduzido espa�o impera a concis�o; a
qualidade anal�tico-interpretativa sofre significativa queda. Em certo momento,
Igl�sias procura explicar as raz�es dessa discrep�ncia. Ainda que se possam
aceit�-las, a frustra��o do leitor n�o diminui.
Fica
patente o ju�zo rigoroso e, por vezes, c�ustico com o qual percebe a
historiografia brasileira. Esta � vista como "entranhadamente conservadora
e n�o recua mesmo do reacionarismo ante a amea�a a qualquer dos privil�gios
do grupo dominante". Ou seja, uma historiografia marcada "pela
apologia do autoritarismo e da nega��o de qualquer direito popular". Por
outro lado, se a obra de Varnhagen subsiste, � "pelo oficialismo da
c�tedra e das institui��es que n�o se renovam (...), pela pregui�a de
quantos dominam a cena". Al�m disso, para atermo-nos a um �ltimo exemplo,
na �tica de Igl�sias os cursos superiores de hist�ria "ainda hoje (...)
s�o prec�rios, n�o encontraram seu caminho e n�o t�m a estrutura
requerida".
Diante
de tantas ressalvas, � natural (e louv�vel) que Igl�sias tenha inserido em
sua an�lise autores que, n�o sendo "historiadores por profiss�o ou
of�cio", cultivaram o g�nero e para ele contribu�ram decisivamente, como
S�lvio Romero, Euclides da Cunha, Celso Furtado e Raymundo Faoro. A esses e a
outros "autores de maior significado" concedeu "espa�o igual ou
superior a gente de obra menos qualificada, pelo fato de ser pouco ou mal
conhecida: caso de Manoel Bonfim, por exemplo".
Assinale-se
tamb�m a preocupa��o de Igl�sias em anteceder a an�lise da historiografia
por meio de admir�veis introdu��es hist�ricas aos per�odos e aos autores
que passaria a considerar. Fica patente seu cuidado em fazer com que tais
an�lises se realizem � luz da contemporaneidade dos autores. Com isso,
implicitamente, induz o leitor a ter aten��o ao (para o historiador)
imperdo�vel pecado do anacronismo.
Esses
s�o alguns dos pontos salientes do livro em pauta. Intelectual multifacetado,
erudito e refinado, Igl�sias alargou os horizontes da ci�ncia que nele teve um
de seus expoentes. Entendia -e bem- que a hist�ria n�o � ci�ncia
especializada; s� adquire sentido na sua rela��o interdisciplinar. Assim, o
conceito iglesiano de historiografia, lato na ess�ncia, incorpora "a
id�ia de ser a ci�ncia social uma totalidade, (em que) a interdisciplinaridade
se tornou comum, beneficiando a historiografia".
Na
produ��o gr�fica do livro notam-se algumas gralhas: n�o se estampa a
apresenta��o do texto, de autoria de Fernando Novais, anunciada pelos editores
� p�g. 14; no �ndice onom�stico, Lu�s da Cunha Meneses � tido como
visconde de Barbacena; nesse mesmo �ndice, h� duplicidade de entradas para
Manoel Bonfim, Joaquim Jos� da Cunha Azeredo Coutinho e Jos� Maria da Silva
Paranhos J�nior.