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Livro: O assassinato de Tutanc�mon: uma hist�ria verdadeira
Autor: Bob Brier
Editora: Jorge Zahar Editor
Ano: 2001
N�mero de p�ginas: 235
Mist�rio da morte de fara� ganha ares detetivescos
Egipt�logo d� sua vers�o do fim de Tutanc�mon que, segundo ele, foi assassinado por seu vizir

Richard Bernstein

 Alguns anos atr�s, o egipt�logo Bob Brier agitou o mundo da arqueologia com sua teoria de que o fara� Tutanc�mon havia sido assassinado. Num trabalho detetivesco e "paleopatol�gico", baseado em estudos recentes sobre ferimentos infligidos � cabe�a, Brier n�o s� chegou � conclus�o de que Tutanc�mon havia sido v�tima de um crime como, pesquisando pistas antigas, quis determinar a identidade do assassino.
Agora, em O assassinato de Tutanc�mon: uma hist�ria verdadeira, Brier transformou sua teoria em livro, que tamb�m dever� ser motivo de controv�rsias entre seus pares. Diante da escassez de pistas e ind�cios, argumentam os c�ticos, jamais se saber� a verdade sobre a morte de Tutanc�mon. Al�m disso, como o pr�prio Brier reconhece, o destino do poderoso fara� n�o est� entre as grandes preocupa��es hist�ricas da atualidade e n�o � nada que traga conseq��ncias na determina��o dos rumos da humanidade.
De qualquer forma, o mist�rio de 3 mil anos de Brier rapidamente conquista a aten��o do leitor e o transporta para o mundo estranho e ex�tico da egiptologia. Voc� pode ou n�o acreditar na sua vers�o de que o fara� foi morto � trai��o, provavelmente por seu velho vizir. Que, depois, se casou com a vi�va e se tornou fara�. Mas o leitor vai perceber que Brier escreve de forma que sua tese se torna convincente.
Mais ainda, quando terminar de ler esse livro cheio de intrigas e que reconstitui o mundo de Tutanc�mon (incluindo-se o amor entre adolescentes, heresia, a manipula��o da hist�ria e os pedidos desesperados de uma rainha apavorada) , voc� corre o risco de descobrir que se importa com o destino do fara�.
Brier come�a seu livro imaginando como foi a �ltima noite saud�vel de Tutanc�mon neste mundo, uma reconstru��o detalhada demais para quem escreve 3 mil anos depois dos acontecimentos. � imposs�vel dizer, por exemplo, se naquela noite ele foi para a cama sozinho e se as portas do aposento do fara� "abriram-se silenciosamente para dar passagem a um homem, antes de fechar-se �s suas costas". Mas se Brier toma algumas liberdades ao criar o cen�rio para seu mist�rio, logo depois ele se mostra um detetive que avalia o peso das evid�ncias.
Seu estilo � claro e elaborado, embora repetitivo, constituindo uma boa inicia��o � egiptologia para os leitores ainda n�o familiarizados com a ci�ncia. Brier certa vez realizou um embalsamamento eg�pcio para um document�rio e, numa passagem fant�stica de seu livro, descreve exatamente como isso era feito nos tempos dos fara�s.
Quando chega ao tema central de seu trabalho, o autor � obrigado a confiar num n�mero realmente pequeno de evid�ncias, mas parece haver provas suficientes para confirmar sua tese. A come�ar pela situa��o pol�tica na �poca em que Tutanc�mon ascendeu ao trono, por volta de 1334 a. C.
Provavelmente. Embora haja diverg�ncias entre os especialistas, Tutanc�mon era filho de Akhenaton, um fara� incomum, que n�o se interessava por conquistas territoriais, mas pela medita��o religiosa.
Na tentativa de criar um Egito mais gentil e am�vel, Akhenaton entrou em choque com o poder estabelecido de forma que, quando Tutanc�mon subiu ao trono, ainda crian�a, o pa�s vivia na instabilidade e a monarquia enfraquecera. Sob a orienta��o de Aye, Tutanc�mon disp�s-se a reerguer as tradi��es. Casou-se com sua meia-irm�, Ankhesenamen, restaurou os ritos antigos e restabeleceu a pol�tica de domina��o do Egito sobre as na��es vizinhas. Circunst�ncias estranhas cercam sua morte prematura. Ele tinha apenas 19 anos e, segundo Brier, essas circunst�ncias indicam o assassinato cometido por Aye.
O nome de Tutanc�mon foi apagado dos registros oficiais, parte de uma manobra que, de acordo com Brier, tinha como objetivo eliminar da hist�ria tudo o que pudesse ser associado a Akhenaton.
A vi�va Ankhesenamen escreveu uma carta chorosa ao rei dos hititas, Suppiluliuma, dizendo que jamais se casaria com um de seus servos (segundo Brier, numa refer�ncia a Aye) e pedindo que enviasse um de seus filhos para tom�-la como mulher e se tornar o novo fara�. O rei hitita concordou, mas seu filho, um pr�ncipe de sangue real, foi morto assim que cruzou a fronteira com o Egito. Depois disso, Aye e Ankhesenamen casaram-se.
Tudo isso, diz Brier, aponta para Aye como um usurpador ambicioso, que matou o fara� e ent�o obrigou sua vi�va a casar- se com ele e subiu ao trono divino. Al�m disso, an�lises modernas da m�mia de Tutanc�mon, descoberta de forma sensacional em 1922, mostram que ele pode ter levado uma pancada na cabe�a antes de morrer. Esse ind�cio � a principal prova para a tese de Brier e, como ele mesmo admite, esta n�o �, de forma alguma, uma evid�ncia conclusiva.
Se esse golpe matou o jovem fara�, ele pode tamb�m ter sido resultado de uma queda ou de um acidente durante uma ca�ada e n�o apenas o efeito de um golpe desferido pelo homem que o pesquisador descreve entrando nos aposentos do jovem fara�, no primeiro cap�tulo de seu livro. E, mesmo que Aye tenha tramado contra a vida de Tutanc�mon, n�o h� como provar que conseguiu mat�-lo.
Bob Brier acrescenta a seu trabalho um cap�tulo em que imagina um bom advogado levantando d�vidas consider�veis sobre a culpabilidade de Aye, embora de forma nada surpreendente acabe por mostrar que sua teoria continua a ser a mais consistente. Outros especialistas, obviamente, devem ter outras hip�teses para explicar a hist�ria de Tutanc�mon. Mas at� que escrevam seus livros, � preciso agradecer a Brier por mostrar que um mist�rio de 3 mil anos merece ser examinado a fundo.
The New York Times 18/07/1998