Militares e Bispos reuniam-se secretamente
durante a ditadura no Brasil
Reinaldo Cordova
V�rios pesquisadores
analisaram a ditadura brasileira, e um dos momentos que tem grande destaque � o
per�odo em que M�dici foi o presidente, isto por v�rios motivos, pois foi
nesta �poca que ocorreu o �milagre econ�mico� e pelas torturas realizadas
pelos militares, mas um tema que poucas vezes aparece nas pesquisas � a rela��o
entre a Igreja e o Estado.
Esta obra vem tratar
justamente sobre a rela��o entre estas duas institui��es. Para ser mais
espec�fico, Di�logos na sombra trata sobre a comiss�o bipartite, um
grupo que reunia a alta hierarquia da Igreja Cat�lica, as For�as Armadas, e
intelectuais, e isto � interessante, pois enquanto o sistema infligia aos seus
opositores torturas e censuras, este grupo estava reunido secretamente e
informalmente para tentar se chegar a um entendimento.
As reuni�es tiveram in�cio
em novembro de 1970 e fim no m�s de agosto de 1974. O autor afirma que �os
generais queriam a b�n��o dos bispos ao regime, e os prelados queriam a
garantia dos privil�gios e do espa�o doutrinal concedido � igreja, de uma
forma ou de outra, desde o in�cio da hist�ria do Brasil�.
As principais fontes de
pesquisa para Serbin foram os documentos agrupados pelo general Antonio Carlos
da Silva Muricy, o comandante das tropas que invadiram o Rio de Janeiro em 1964
para derrubar Jo�o Goulart. Os documentos s�o as atas das reuni�es,
al�m de uma entrevista dada pelo general no in�cio dos anos 80 e liberada
na d�cada de 90.
V�rios integrantes do
grupo eram anticomunistas, dentre eles � claro, figura o general Muricy, que
era cat�lico praticante e conservador; o chefe titular do grupo
religioso, o cardeal Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre, que tamb�m era presidente interino da
CNBB. O grupo era bastante heterog�neo, o que �
confirmado pela presen�a do ent�o cardeal do Rio de Janeiro, D. Eugenio Sales,
que para muitos era um comunista muito perigoso, mais que D. Helder C�mara, o
�o arcebispo vermelho�, que n�o permaneceu no grupo at� o fim, saindo em
1972, em protesto contra a pris�o de um padre acusado de subvers�o.
Infelizmente, as
diferen�as ideol�gicas entre os militares e os cl�rigos n�o foram
superadas, mas nem por isso o grupo foi desfeito, �os bispos refor�aram sua
den�ncia p�blica contra os abusos�, eles permaneceram questionando as
autoridades a explicarem as pris�es, as torturas e os desaparecimentos.
Outros personagens
surgem neste trabalho, como D. Paulo Evaristo Arns, D. Waldir Novaes,
respectivamente cardeais de S�o Paulo e de Volta redonda, que n�o faziam
parte do grupo, mas tem destaque pelo papel que desempenharam em dois casos
espec�ficos, o assassinato do estudante Alexandre Vanucchi e a tortura e morte
de quatro soldados no 1� Batalh�o de infantaria Blindada, em Barra mansa. Esses casos que foram discutidos pela comiss�o s�o apresentados com riqueza de
detalhes por Serbin.
A comiss�o teve seu
fim quando o novo presidente, o general Ernesto Geisel, passou a privilegiar os
contatos diretos com o Vaticano, deixando assim a hierarquia da CNBB em segundo
plano.
� um trabalho muito
interessante feito por Serbin, que al�m de professor da Universidade da Calif�rnia
� especializado em Hist�ria da Igreja Cat�lica no Brasil, segundo Haroldo
Sereza, ele define este trabalho como �o estudo de uma tentativa de aproxima��o
das duas mais importantes institui��es brasileiras�.