Hannah Arendt mostra, de forma surpreendente, os
bastidores judaicos
Leonardo Soares
Nascida
em 1906, em Hannover, Alemanha, Hannah Arendt era de fam�lia judia rica e
intelectualizada. Ingressou na Universidade de Berlim em 1924 e l� foi aluna de
Heidegger e Jaspers, grandes influ�ncias em sua vida e obra. Conseguiu fugir �
tempo da carnificina nazista que precedeu o per�odo da II Guerra Mundial e refugiou-se
nos Estados Unidos em 1941, tornando-se professora da New School for Social
Research, em Nova York. Morreu em 1975.
O
grande m�rito desta incr�vel escritora se d� pelo fato de que, mesmo sendo
judia, manteve-se imparcial a respeito da quest�o judaica, conseguindo, com
isso, o �dio da elite semita.
Em
seu grande sucesso, Eichmann em Jerusal�m, Hannah Arendt coloca como a
elite judaica trabalhou em conjunto com as autoridades nazistas, possibilitando
a morte de milh�es em pretexto da salva��o de alguns. Mostrando o julgamento
de Adolf Eichmann, considerado um grande colaborador da �solu��o final� de
Hitler, visto que era respons�vel pela emigra��o e transfer�ncia dos judeus
entre os guetos, e destes para os campos de concentra��o, Arendt mostra o
logro da justi�a de Israel, a fim de criar um espet�culo para o mundo.
Seq�estrado
num sub�rbio de Buenos Aires por um comando israelense, Eichmann foi levado
para Jerusal�m, para o que deveria ser o maior julgamento de um carrasco
nazista depois do Tribunal de Nuremberg. Mas o curso do processo produz um
efeito discrepante - no lugar do monstro impenitente por que todos esperavam,
v�-se um funcion�rio mediano, um arrivista med�ocre, incapaz de refletir
sobre seus atos ou de fugir aos clich�s burocr�ticos. � justamente a� que o
olhar l�cido de Hannah Arendt descobre o 'cora��o das trevas', a amea�a
maior �s sociedades democr�ticas - a conflu�ncia de capacidade destrutiva e
burocratiza��o da vida p�blica, expressa no famoso conceito de 'banalidade do
mal'. Numa mescla de jornalismo pol�tico e reflex�o filos�fica, Arendt toca
em todos os temas que v�m � baila sempre que um novo mortic�nio vem abalar os
lugares-comuns da pol�tica e da diplomacia.