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Livro: Brasil, segredo de Estado: incurs�o descontra�da pela hist�ria do pa�s
Autor: S�rgio Corr�a da Costa
Editora: Record
Ano: 2001
N�mero de p�ginas: 398
A hist�ria de uma frustra��o

Adelto Gon�alves

Que Pedro �lvares Cabral n�o foi o primeiro portugu�s a colocar os p�s em terras que mais tarde seriam chamadas do Brasil � hip�tese, para al�m de fascinante, bastante plaus�vel e fact�vel. Depois de se ler alguns documentos da �poca e colocar a cabe�a para funcionar - condi��o sine qua non para um bom historiador -, n�o h� como deixar de imaginar que o segredo era a �nica arma que o pequeno reino de Portugal dispunha para preservar as conquistas de seus navegantes.
Essa � a id�ia que permeia o ensaio Brasil, segredo de Estado que d� t�tulo ao livro que Sergio Corr�a da Costa, historiador e membro da Academia Brasileira de Letras, lan�ou com trabalhos de pesquisa que come�ou a desenvolver h� mais de meio s�culo, quando, aos 17 anos, iniciou sua carreira no Minist�rio das Rela��es Exteriores. S�o, por�m, trabalhos que foram interrompidos em fun��o das exig�ncias de uma carreira que o levou a embaixador em Londres e Washington, a representante permanente nas Na��es Unidas e, em determinada �poca, at� a chanceler (interino) do governo brasileiro.
Eis aqui a quest�o: a interrup��o dos estudos. N�o � � toa que o autor confessa ter imaginado para esta colet�nea de ensaios o t�tulo Cr�nica de uma frustra��o, sentimento que o diplomata, agora reformado, tem ainda a esperan�a de superar lan�ando-se, quem sabe, a pesquisas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro ou mesmo voltando a revirar a documenta��o do Arquivo do Itamaraty, como tamb�m � conhecido o Minist�rio das Rela��es Exteriores do Brasil. �, de fato, o que falta a este e a outros ensaios que completam o livro, como o pr�prio ensa�sta admite de maneira impl�cita em sua conclus�o e at� mesmo na bibliografia que relaciona - na maioria, livros impressos, alguns raros, e poucos documentos de arquivo.
� verdade que documentar a hip�tese de que o "achamento" n�o foi manobra casual em nada vai tirar o m�rito de Cabral nem substitu�-lo por outro navegador nem tampouco fazer com que o Brasil deixe de reverenci�-lo como o seu descobridor. Mas h� demasiados fios soltos que est�o a merecer quem os una a outros que, com certeza, est�o nos pap�is de arquivo. Afinal, se as vidas de muitos poetas dos s�culos XVIII e XIX ainda est�o t�o mal pesquisadas e tantas balelas s�o ainda repetidas de livro em livro impunemente h� tantos anos, o que dizer de fatos que ocorreram nos s�culos XV e XVI?
O dif�cil � achar quem se disponha - e, sobretudo, tenha compet�ncia - a tanto. E o embaixador Sergio Correa da Costa � um desses poucos literatos munidos de conhecimento na �rea, assim como Synesio Sampaio G�es Filho, ex-embaixador do Brasil em Portugal, outro diplomata que se tem aventurado nas �guas da Hist�ria, cujo livro Bandeirantes, navegantes, diplomatas (1999) � bastante citado em Brasil, segredo de Estado.
De fato, � um mist�rio que Dom Jo�o II tenha recusado a proposta de Crist�v�o Colombo que, pouco depois, seduziria os reis cat�licos de Espanha. Mas o que se pode imaginar � que o tenha feito porque sabia que, navegando a Ocidente, n�o se iria chegar �s �ndias em t�o pouco tempo, mas topar, isso sim, com algumas ilhas do Atl�ntico e talvez at� com o continente de Sete Cidades, que o rei, seis anos antes, tinha dado em concess�o ao governador da ilha Terceira, Fern�o de Ulmo.
N�o � s� este ensaio que pode interessar ao leitor. H� outros sobre assuntos relacionados a Portugal. Um deles � a miss�o do conde de Pa�o D�Arcos como ministro da monarquia portuguesa junto ao primeiro governo republicano no Brasil. Ler a documenta��o deixada por Pa�o d�Arcos, liberada por seus descendentes apenas em 1974 e reproduzida em parte por Sergio Corr�a da Costa, � descobrir como foram aqueles dias de indecis�o vividos pelo Brasil sob nova forma de governo, uma �poca tamb�m de transi��o em que o afrouxamento da autoridade central e o surgimento de centros de poder competitivos nos Estados deram lugar a preocupa��es s�rias quanto � integridade nacional.
N�o apenas em S�o Paulo, j� ent�o a unidade mais auto-suficiente do Pa�s, mas nos Estados do Sul, a id�ia separatista chegou a ter adeptos fervorosos, como muito bem observou Pa�o d�Arcos dois meses antes do golpe de Estado do marechal Deodoro, num per�odo em que uma restaura��o mon�rquica s� n�o se tornaria poss�vel por falta de pessoa competente e estimada na fam�lia imperial. Em sua correspond�ncia para Lisboa, Pa�o d�Arcos dizia que a princesa Isabel era "mal vista e mesmo odiada por muitos, quer pelo nome de seu marido (o conde d�Eu), quer pela liberta��o completa dos negros", admitindo que a alternativa seria a proclama��o de um dos pr�ncipes, sob a reg�ncia de Silveira Martins e outros, o que, por�m, julgava pouco vi�vel.
Fosse como fosse, deve ter chegado aos ouvidos do governo brasileiro a pouca conta em que o representante portugu�s o tinha. Tanto que, depois de dois anos e meio (junho de 1891 a novembro de 1893), em raz�o de reclama��o do governo republicano do Brasil, o ministro passava a chefia da lega��o de sua Majestade Fidel�ssima, voltando �s pressas para Lisboa. Viajaria sem saber que j� estava destitu�do.
NetHist�ria 11/08/2002