Adelto
Gon�alves � incans�vel trabalhador das letras e do jornalismo, com uma obra
reconhecidamente de valor no campo da pesquisa hist�rica e liter�ria, da
fic��o e do jornalismo liter�rio. � mestre em L�ngua Espanhola e
Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutorado em Letras na �rea de
Literatura Portuguesa pela Universidade de S�o Paulo. A sua tese de
doutoramento, uma biografia do poeta �rcade Tom�s Ant�nio Gonzaga
(1744-1810), que leva por t�tulo Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 1999), j� est� perto de se tornar um cl�ssico entre
as nossas biografias liter�rias, imprescind�vel para quem quiser conhecer a
fundo a hist�ria do nosso arcadismo e tamb�m da Inconfid�ncia Mineira.
Agora,
Adelto Gon�alves vem de publicar o romance Barcelona brasileira (S�o
Paulo, Publisher Brasil, 190 p�gs., R$ 28), livro que saiu pela primeira vez em
Portugal, em 1999, pela editora Nova Arrancada, de Lisboa. O enredo se passa na
cidade portu�ria de Santos no per�odo que se segue � Primeira Guerra Mundial.
Adelto
Gon�alves nasceu em Santos, no litoral paulista, celeiro de intelectuais e de
pol�ticos, terra onde, em 1695, nasceu Alexandre de Gusm�o, o chamado �av�
da diplomacia brasileira�; Santos, onde nasceu antes o seu irm�o, Bartolomeu
de Gusm�o, o homem que inventou a �passarola�; Santos, onde nasceu, em
1763, nada menos que o Patriarca da Independ�ncia do Brasil, Jos� Bonif�cio
de Andrada e Silva; Santos, onde nasceu em 1866 o �poeta do mar�, o sublime
parnasianista Vicente de Carvalho; Santos, onde nasceu, em 1884, o poeta Martins
Fontes; Santos, a gloriosa cidade fundada por Br�s Cubas; Santos, onde nasceu
em 1951 o escritor Adelto Gon�alves.
J�
na segunda d�cada do s�culo XX Santos era o maior porto do Brasil e da
Am�rica Latina e por ele escoava para a Europa e para os Estados Unidos a
produ��o de caf�, base da economia de uma na��o essencialmente agr�cola. O
caf� era o rei do Brasil, impunha presidentes, nomeava e desnomeava ministros,
abria �reas virgens, instalava estradas de ferro.
O
caf� - em seus m�ltiplos aspectos de produ��o, transporte e exporta��o -
tamb�m era respons�vel pela forma��o de uma classe oper�ria incipiente e
pouco reivindicativa. E a cidade de Santos era uma atra��o internacional como
fonte de emprego, a que acorriam trabalhadores de muitas proced�ncias, dentre
os quais agitadores e anarquistas de todas as latitudes.
Um
deles, na trama ficcional de Adelto Gon�alves, � �ngel Blanco, o Espanhol,
disc�pulo do pensamento do anarquista catal�o Francisco Ferrer i Guardia.
Blanco concebe um projeto de fazer de Santos uma nova Barcelona, centro de
agita��o sindical e anarquista. Conservadores e liberais dos meios
s�cio-pol�ticos da �poca se digladiavam num ambiente contaminado por ideais
que dominavam o mundo de ent�o, no plano internacional por excel�ncia.
O
triunfo da revolu��o russa, a fal�ncia da democracia, as agita��es tamb�m
da direita, os movimentos oper�rios associativos - tudo desfila na atmosfera
santista da �poca num roman � clef para cuja elabora��o o autor
recorreu � consulta de jornais do per�odo para descrever, como fic��o,
acontecimentos que ocorreram na vida real.
�ngel
Blanco, Augusto Alves, o vereador e advogado Heleno de Melo, simp�tico � causa
dos oper�rios, o prefeito Joaquim Ribeiro, o delegado Parsifal Abud, condutor
da luta contra a subvers�o, t�m maior ou menor semelhan�a com personagens
reais. �s vezes, s�o de identifica��o relativamente f�cil para quem conhece
aquele per�odo hist�rico de Santos: o poeta parnasiano Martins Fontes e o
poeta modernista Menotti del Picchia figuram como personagens insinuados pelo
autor.
A
leitura do texto se torna aliciante e sua linguagem � a corrente, muito bem
articulada, deixando claramente ver que o autor � um mestre da l�ngua. Um
romance moderno, sobre um tema social de flagrante import�ncia, vazado em fino
idioma portugu�s, que descreve em excelente contexto o porto, a cidade com seus
h�bitos, seus jardins, seus p�ssaros a pousarem "nos ara��s, nos cambuc�s,
nos amarantos", percebendo-se ao longe "os mastros dos navios que
singravam nas �guas suaves da barra, num amanhecer que se tecia de
ventos..."