Mesmo
para os que n�o valsaram nos sal�es da Ilha Fiscal, em nove de novembro de
1889, aquele baile ficou na mem�ria. N�o apenas pelas propor��es monumentais
da festa em homenagem � esquadra de guerra chilena, e cuja verba �
comentou-se na �poca � fora desviada dos flagelados da seca no Cear�. � que
foi nesta noite que D.Pedro II trope�ou e, ao se reerguer, comentou: "Como
v�em, a Monarquia escorregou, mas n�o caiu". Seis dias depois, a
Rep�blica � instaurada e o baile entra no imagin�rio coletivo como o evento
que cerrou as portas do imp�rio no Brasil.
Esses
e outros fatos e personagens pertencentes ao per�odo oitocentista est�o entre
os 406 verbetes do Dicion�rio do Brasil Imperial (1822-1889), que d�
seq��ncia ao aclamado Dicion�rio do Brasil Colonial, editado pela
Objetiva em setembro de 2000, hoje obra de refer�ncia. Neste novo volume, o
historiador Ronaldo Vainfas e sua equipe nos apresentam um saboroso mosaico dos
usos e costumes p�blicos e privados do nosso passado imperial.
Metade
dos verbetes � dedicado aos personagens em cena no Brasil de ent�o. Da realeza
aos escravos, de pol�ticos a cientistas, de artistas a jornalistas, de esposas
a amantes, de padres a pais-de-santo, ajudam-nos a compor o retrato do que foi o
Brasil entre a chegada da corte portuguesa, em 1808, � Proclama��o da
Rep�blica, em 1889.
Passeando
pelos verbetes, encontramos, entre outros, com dom Oba II, negro livre que
andava como um lord pelas ruas do Rio, tinha livre acesso ao
"beija-m�o" do Imperador, uns diziam que fora rei na �frica, outros
que era louco. E com Liberata, que ganhou alforria entrando com uma "a��o
de liberdade" contra o seu senhor.
Ao
lado destes, encontramos: Machado de Assis, Frei Caneca, Anita Garibaldi,
Joana Ang�lica, Chiquinha Gonzaga, Debret, Marquesa de Santos... Personagens
cujas hist�rias pessoais esbarram na hist�ria de revolu��es populares, como
a da Farroupilha, a Balaiada e de guerras, como a do Paraguai, a mais violenta
de todas, em solo latino-americano.
Os
verbetes do DICION�RIO DO BRASIL IMPERIAL est�o dispostos em ordem
alfab�tica, independente da mat�ria tratada. Os autores, no entanto, operaram
com quatro categorias de vocabul�rio:
- Conceitos ou estruturas hist�ricas desde os mais gerais, como imp�rio,
�queles mais espec�ficos, como candombl�, capoeiras, lundus e batuques, ou de
express�es que funcionaram como "janelas" para flagrar costumes ou
tipos sociais da �poca: imigrantes, folcloristas, caramurus.
- Institui��es ligadas ao governo, � religi�o, � educa��o, �s artes e �
cultura oficial, optando-se sempre, para respeitar a inten��o anal�tica dos
verbetes, pelas institui��es mais abrangentes.
- Eventos, a come�ar pela chegada da Fam�lia real, em 1808. Ainda: os fatos
ligados � pol�tica e ao Imp�rio, como a invas�o da Guiana Francesa; as
revoltas de v�rios tipos e que colocaram em xeque a ordem imperial, tanto as
rurais, como a dos Mucker, no sul, quanto �s urbanas, como a do Quebra Quilos.
- Person�lia variad�ssima, transitando desde os imperadores e membros
destacados da fam�lia imperial at� personagens que s� recentemente foram
retirados do anonimato pela pesquisa historiogr�fica. Ainda: a pl�iade de
intelectuais, cientistas e artistas do per�odo. Os
populares tamb�m est�o presentes, lideres de rebeli�es e de quilombos, como
Preto Cosme, do Maranh�o. De forma quase in�dita, revela personagens fisgados
por historiadores preocupados com a hist�ria dos vencidos ou an�nimos, como o
pai-de-santo carioca, Juca Rosa.
Ronaldo
Vainfas � idealizador e coordenador do Dicion�rio do Brasil Colonial e do
Dicion�rio do Brasil Imperial. Professor
titular de Hist�ria Moderna na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde
ingressou em 1978. Obteve o Mestrado na mesma universidade e o Doutorado na
Universidade de S�o Paulo em 1988. Especialista em hist�ria colonial
ibero-americana, ministrou v�rios cursos e confer�ncias e participou de
in�meros congressos no Brasil e no exterior. Entre seus livros, destacam-se Ideologia
e Escravid�o, Tr�pico dos Pecados e A Heresia dos �ndios.
� supervisor t�cnico dos livros de Eduardo Bueno da Cole��o Terra Brasilis.
Coordenou o Dicion�rio do Brasil Colonial.
A equipe que trabalhou no dicion�rio � formada por:
- L�cia Bastos Pereira das Neves, doutora em Hist�ria Social pela USP e professora de Hist�ria Moderna e
Contempor�nea na UERJ
- L�cia Paschoal Guimar�es, doutora
em Hist�ria Social pela USP e professora titular de Historiografia da UERJ.
- Martha Abreu, doutora em Hist�ria pela Unicamp e professora de Hist�ria da Am�rica da
UFF.
- Hebe Maria Mattos, doutor
em Hist�ria pela UFF e professora de Hist�ria do Brasil na mesma universidade.
- Sheila Siqueira de Castro Faria, doutora
em Hist�ria Social pela UFF e professora de Hist�ria do Brasil na mesma
universidade.
- Magali Engel, doutora em Hist�ria pela Unicamp e professora de Hist�ria do Brasil na
UFF.