Jacobinos
e jacobinismo livro do historiador franc�s Michel Vovelle, especialista
m�ximo na hist�ria da Revolu��o Francesa e um dos principais historiadores
deste s�culo, foi lan�ado originalmente em 1998. A edi��o brasileira
publicada pela Edusc - Editora da Universidade do Sagrado Cora��o, em 2000,
conta com pref�cio elaborado pelo professor Jos� Jobson Arruda, da USP, que
situa a obra no quadro das suas refer�ncias hist�ricas, muitas vezes
familiares apenas a especialistas.
O
texto apresentado a seguir foi especialmente preparado pelo professor Jobson
Arruda para a edi��o da Edusc de Jacobinos e Jacobinismo: destina-se a
leitores enfronhados com a gram�tica das revolu��es e a sintaxe dos
radicalismos pol�ticos. � o fruto maduro de incompar�vel historiador, um dos
pioneiros na travessia da ponte entre a hist�ria de fundamenta��o marxista e
a nova hist�ria das mentalidades, no cen�rio da hist�ria da cultura cujo
�mpeto se redobra nos anos 70.
Sem
abandonar a tem�tica das conspira��es, revolu��es, contra-revolu��es,
Michel Vovelle adentra o campo do imagin�rio, das atitudes diante da morte,
buscando uma s�ntese pr�pria, em que an�lise e descri��o se entremeiam, em
que t�cnicas e m�todos s�o refinados na tens�o da pesquisa concreta. Seu
estudo cl�ssico, Ideologias e mentalidades, publicado em 1986, consagra a
reflex�o te�rica sobre esse procedimento metodol�gico.
�
este historiador referencial que incursiona agora, de modo espec�fico, por um
tema nevr�lgico da hist�ria propriamente pol�tica: a a��o das sociedades
pol�ticas, o jacobinismo hist�rico e trans-hist�rico, levando-nos a uma
viagem desde o dec�nio revolucion�rio at� os dias atuais. Quem foram os
jacobinos? Qual foi sua heran�a? Quem foram seus herdeiros? S�o quest�es que
Vovelle busca responder, numa trajet�ria que se recusa pensar o jacobinismo
como uma bolha radical na hist�ria, um acidente, retra�ando suas origens nas
redes de confrarias de devo��o, das quais � tribut�rio singular.
Percorre
a di�spora ecum�nica do jacobinismo, suas m�ltiplas filia��es e
configura��es, ancorando-as em suportes sociais concretos, baseadas em
acuradas elabora��es estat�sticas, at� os mais remotos confins, onde se
encontrariam os filhos perdidos da aventura revolucion�ria, a exemplo dos
sapateiros da Bahia, em 1798.
Partindo
da no��o de "m�quina pol�tica" constru�da por Michelet,
estabelece os fluxos e refluxos das vis�es e contra-vis�es a partir da
hist�ria, da historiografia, da m�dia e da literatura, especialmente a
romanesca, com sua poderosa carga de representa��o simb�lica coletiva.
O
rejuvenescimento do jacobinismo no s�culo XX, atrelado � revolu��o
socialista, em sua identifica��o com o bolchevismo, s� tem paralelo na
desconstru��o empreendida no contexto da crise do socialismo, especialmente
por historiadores que foram outrora comunistas, como Fran�ois Furet, membro
ativo da c�lula Saint-Just da Sorbonne.
A
trajet�ria de pol�ticos franceses recentes que n�o recusam a heran�a
jacobina, como Jean-Pierre Chev�nement, completa o quadro de sua an�lise.
Persist�ncias long�nquas do jacobinismo surgem na coincid�ncia entre
franceses que disseram n�o a Maastricht e os locais onde preponderavam os
clubes jacobinos. Por que voltar ao tema do jacobinismo? Seria a indigna��o
frente � mesmice da hist�ria aplastada pela avassaladora hegemonia
norte-americana? S� a leitura desta obra inquietante responder�.
Michel
Vovelle � professor em�rito da Universidade de Paris�I. Ex-Diretor do
Instituto de Hist�ria da Revolu��o, � o autor de numerosas obras, entre as
quais La D�couverte de la politique (A Descoberta da Pol�tica), Recherche sur
la R�volution (Pesquisa sobre a Revolu��o), Les Colloques du Bicentenaire (Os
Col�quios do Bicenten�rio) e L'�tat de la France sous la R�volution (O
Estado da Fran�a sob a Revolu��o).