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Livro: Oreste Ristori: uma aventura anarquista
Autor: Carlo Romani
Editora: Annablume e Fapesp
Ano: 2002
N�mero de p�ginas: 307
Uma aventura anarquista

Adelto Gon�alves

Imigrante italiano e anarquista exaltado, Oreste Ristori tornou-se figura conhecida no movimento oper�rio brasileiro das primeiras d�cadas do s�culo XX, depois de uma vida tumultuada j� como militante das lutas libert�rias da regi�o da Toscana, na It�lia, ao final do s�culo XIX. Nascido no vilarejo de San Miniano, na Toscana, em 1874, esse militante do ideal anarquista, depois de uma r�pida passagem por Buenos Aires, desembarcou em 1904 no porto de Santos, estabelecendo-se na cidade de S�o Paulo, onde seu nome, em breves anos, tornou-se uma lenda entre os oper�rios.
� a vida desse imigrante que Carlo Romani, professor universit�rio e ex-pesquisador do Museu da Imagem e do Som, de S�o Paulo, tra�a em seu livro Oreste Ristori: uma aventura anarquista, originalmente uma disserta��o de mestrado apresentada � Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1998. Uma vida sem gl�ria, que ficara esquecida nos jornais e velhos documentos que repousam em arquivos t�o distantes uns dos outros, como os de Campinas, S�o Paulo, Rio de Janeiro, Montevid�u, Buenos Aires, Roma, Mil�o e Empoli - todos consultados por Romani - e na mem�ria de alguns raros remanescentes daquelas lutas que o autor ainda p�de encontrar.
Por isso, o que o leitor encontrar� neste livro � a reconstru��o da vida de Oreste Ristori, desde os primeiros embates em sua terra natal, a longa viagem de navio at� Buenos Aires, as palestras apaixonadas que fez em pequenas cidades do interior argentino, a sua fuga para Montevid�u, onde se apaixona por Mercedes, aquela que seria a sua companheira de toda a vida, at� a sua deporta��o pelo Estado Novo de Get�lio Vargas e o ex�lio for�ado na It�lia - se � que se pode chamar de ex�lio o retorno � terra natal.
Ao recuperar a hist�ria de vida de Ristori, Romani, com sua extensa pesquisa, traz � luz tamb�m as rela��es tecidas pelo movimento anarquista entre diversos pa�ses, as formas de solidariedade e de amizade constru�das por homens e mulheres devotados � causa, as alian�as pol�ticas como maneira de sobreviv�ncia, o ex�lio como �nica sa�da para escapar ao encarceramento em pris�es abjetas, ao lado de criminosos comuns e totalmente desprovidos de qualquer ideal.
Romani recupera ainda hist�rias saborosas de Ristori, como aquele epis�dio que se deu por ocasi�o das festas da vit�ria da Revolu��o de 1930, quando o tenente Jo�o Alberto e Oswaldo Aranha compareceram ao Teatro Colombo, no Largo da Conc�rdia, em S�o Paulo, no bairro oper�rio do Br�s. Naquela noite, Ristori, aos 56 anos, um tanto afastado dos embates pol�ticos, depois que todos os oradores j� haviam falado, apoiado em sua insepar�vel bengala, levantou-se da plat�ia, enquanto na outra m�o segurava entre os dedos o seu indefect�vel chap�u coco.
Como o chap�u era redondo e inteiramente negro, semelhante a uma bomba de dinamite, a plat�ia come�ou a se levantar e a correr para os fundos do teatro. Ristori, ent�o, ergueu os bra�os e pediu: Posso falar? Refeita a calma, subiu o anarquista ao palco e, em meio aos risos da plat�ia, come�ou o seu discurso.
A uma �poca em que, em companhia de Mercedes, parecia caminhar para uma velhice tranq�ila, depois de uma vida incans�vel, sempre divulgando o ide�rio anarquista, fundando jornais, fomentando greves, atuando em muitas frentes de combate � explora��o capitalista, quando se iniciava o processo de industrializa��o do Brasil e, mais especificamente, da capital paulista, Oreste Ristori n�o se cont�m e volta a atuar decisivamente, aliando-se a outras for�as da esquerda, como o Partido Comunista Brasileiro e a Alian�a Nacional Libertadora, na tentativa de impedir a aproxima��o do governo de Get�lio Vargas aos pa�ses do Eixo.
Assim, pouco depois da pris�o de Lu�s Carlos Prestes, o principal l�der comunista, em mar�o de 1936, � a vez de Ristori de voltar � pris�o, em abril. Ao mesmo tempo, sai uma portaria do Minist�rio da Justi�a e Neg�cios Exteriores determinando a sua expuls�o do pa�s. Na pris�o, os comunistas quiseram fili�-lo ao Partido com o objetivo de lhe garantir um salvo conduto internacional para que pudesse desembarcar em algum porto livre, mas o libert�rio incorrig�vel n�o se deixou submeter a uma doutrina t�o r�gida como a do PC.
Assim, em 5 de junho de 1936, Ristori, do conv�s do vapor Augustus, de bandeira italiana, olhava a mesma paisagem exuberante que vira pela primeira vez quando chegara ao porto de Santos, trinta e dois anos atr�s. Menos de vinte dias depois, j� estava em G�nova, seguindo para Empoli. L�, pediu para mudar-se para Livorno, onde dizia ter maiores possibilidades de empregar-se em alguma f�brica tintas, of�cio que aprendera no Brasil. Mercedes ficaria em S�o Paulo e nunca mais o reencontraria.
A mem�ria de alguns velhos conta que Ristori participou da Guerra Civil na Espanha, embora o autor admita que essa possibilidade n�o foi confirmada por nenhum documento. O que se sabe � que Ristori em 1937 foi para Paris, talvez pensando num retorno ao Brasil. Desde que sa�ra do pa�s, n�o deixara de se corresponder com Mercedes, que, de alguma forma, sempre encontrava um meio de socorrer-lhe com dinheiro. Mercedes admitiu at� a possibilidade de embarcar para a Europa a fim de se juntar ao marido, mas nada deu certo. A �poca era de incertezas, com o crescimento no nazismo na Europa. Logo, em fun��o da Guerra, at� as correspond�ncias internacionais seriam bloqueadas.
Sem possibilidade de retornar ao Brasil, Ristori voltou para Empoli, onde decidiu reconstruir a vida, morando perto do local onde nascera. Moraria em Empoli at� ser preso na manifesta��o ocorrida logo ap�s a queda de Mussolini, em julho de 1943. Em dezembro, seria fuzilado em Floren�a por hordas fascistas. Mercedes, uma uruguaia pequenina, de vontade f�rrea, morreria em S�o Paulo em 1949.
NetHist�ria 30/03/2003