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Hist�ria do Brasil:
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Uma amea�a chamada Canudos
Imagens:
* O corpo de Ant�nio Conselheiro
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Os �ltimos momentos do Arraial de Canudos (1897)
gif (49 bytes)O documento abaixo faz parte do livro de Euclides da Cunha, "Os Sert�es", publicado em 1902.  Euclides da Cunha participou da Guerra de Canudos como correspondente do jornal "Estado de S�o Paulo" e escreveu um livro relatando   os horrores dessa campanha militar.

"Canudos n�o se rendeu

gif (49 bytes)Fechemos este livro.
gif (49 bytes)Canudos n�o se rendeu. Exemplo �nico em toda a hist�ria, resistiu at� ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precis�o integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando ca�ram os seus �ltimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma crian�a, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
gif (49 bytes)Forremo-nos � tarefa de descrever os seus �ltimos momentos. Nem poder�amos faz�-lo. Esta p�gina, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e tr�gica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.
gif (49 bytes)Vimos como quem vinga uma montanha alt�ssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem. . .
gif (49 bytes)Ademais, n�o desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos pr�prios lares, abra�adas aos filhos pequeninos...
gif (49 bytes)E de que modo comentar�amos, com a s� fragilidade da palavra humana, o fato singular de n�o aparecerem mais, desde a manh� de 3, os prisioneiros v�lidos colhidos na v�spera, e entre eles aquele Ant�nio Beatinho, que se nos entregara, confiante — e a quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa Hist�ria ?
gif (49 bytes)Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5.200, cuidadosamente contadas.
O cad�ver de Conselheiro
gif (49 bytes)Antes, no amanhecer daquele dia, comiss�o adrede escolhida descobrira o cad�ver de Ant�nio Conselheiro.
gif (49 bytes)Jazia num dos casebres anexos � latada, e foi encontrado gra�as � indica��o de um prisioneiro. Removida breve camada de terra, apareceu no triste sud�rio de um len�ol imundo, em que m�os piedosas haviam desparzido algumas flores murchas, e repousando sobre uma esteira velha, de t�bua, o corpo do "famigerado e b�rbaro" agitador. Estava hediondo. Envolto no velho h�bito azul de brim americano, m�os cruzadas ao peito, rosto tumefato, e esqu�lido, olhos fundos cheios de terra — mal o reconheceram os que mais de perto o haviam tratado durante a vida.
gif (49 bytes)Desenterraram-no cuidadosamente. D�diva preciosa — �nico pr�mio, �nicos despojos opimos de tal guerra ! — , faziam-se mister os m�ximos resguardos para que se n�o desarticulasse ou deformasse, reduzindo-se a uma massa angulhenta de tecidos decompostos.
gif (49 bytes)Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa firmando a sua identidade: importava que o pa�s se convencesse bem de que estava, afinal, extinto aquele terribil�ssimo antagonista.
gif (49 bytes)Restitu�ram-no � cova. Pensaram, por�m, depois, em guardar a sua cabe�a tantas vezes maldita — e, como fora malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca jeitosamente brandida, naquela mesma atitude, cortou-lha; e a face horrenda, empastada de escaras e de s�nie, apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores...
gif (49 bytes)Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multid�es em festa, aquele cr�nio. Que a ci�ncia dissesse a �ltima palavra. Ali estavam, no relevo de circunvolu��es expressivas, as linhas essenciais do crime e da loucura..."
Bibliografia
CUNHA, Euclides da. Os Sert�es. 27.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1968. p.458-459.