A id�ia de desenvolver um projeto de pesquisa arqueol�gica sobre a Rep�blica de Palmares (1) amadureceu quando da visita do Professor Charles E. Orser Jr., da Illinois State University, em 1991, ao Brasil. Orser, pesquisador norte-americano renomado, especialista no estudo da cultura material afro-americana (2), estava interessado em aplicar as modernas t�cnicas do trabalho arqueol�gico ao estudo da cultura africana em liberdade, nos quilombos, e conjuntamente pudemos propor uma Projeto de Pesquisa para o estudo de Palmares. Contando, ainda, com a ajuda do africanista brit�nico Michael Rowlands (University College London), submetemos nosso projeto de prospec��o arqueol�gica da �rea a institui��es cient�ficas internacionais, tendo obtido financiamento para duas etapas de campo, em 1992 e 1993 (3).
O objetivo mais amplo do Projeto Arqueol�gico Palmares, como foi denominado, consiste em adquirir informa��o sobre a vida quotidiana em Palmares, principalmente por meio dos vest�gios materiais. Quase tudo que se sabe sobre Palmares deriva de documentos escritos por aqueles que, de uma forma ou de outra, combatiam o quilombo, o que acaba por gerar uma vis�o distorcida daquela sociedade. At� aquele momento, n�o havia sido efetuada nenhuma pesquisa arqueol�gica na �rea do antigo quilombo. Nada se sabia sobre a cultura material de Palmares e o Projeto Arqueol�gico Palmares procura, em primeiro lugar, obter informa��es detalhadas, e de primeira m�o, sobre os tipos de arfefatos feitos e usados em Palmares. A partir desses dados concretos, pode-se almejar obter informa��es a respeito da organiza��o ideol�gica, social, econ�mica e pol�tica. De in�cio, planejamos realizar duas etapas de campo de car�ter prospectivo, visando localizar s�tios arqueol�gicos em superf�cie e realizar algumas trincheiras e/ou quadr�culas, apenas na Serra da Barriga, �nico local seguramente identificado como parte do antigo quilombo (4).
A Rep�blica de Palmares compunha-se de diversos mocambos, cujos nomes, transmitidos pelos documentos da �poca, possuem etimologia africana, tupi e portuguesa (5). A capital, conhecida, na �poca, como Cerca Real do Macaco ou Serra da Barriga, localiza-se no munic�pio de Uni�o dos Palmares (6). A metodologia da etapa de campo consistiu, basicamente, em um levantamento ou prospec��o pedestre, visando localizar vest�gios materiais arqueol�gicos superficiais. Tendo identificado artefatos na superf�cie, planejamos realizar alguns testes com p�s, a fim de determinar a profundidade e grau de preserva��o do material. Esse procedimentos b�sicos permitiram mapear os s�tios arqueol�gicos e avaliar as possibilidades de trabalhos arqueol�gicos futuros mais extensos e demorados.
Antes de iniciarmos os trabalhos de campo, partimos dos documentos escritos para entendermos como os colonizadores compreenderam e combateram esse estado rebelde (7). J� em 1612, h� refer�ncias a uma comunidade de escravos fugidos na Zona da Mata e em 1640 os holandeses consideram-na um s�rio perigo (8). Baro comandou um ataque holand�s em 1644 que teria vitimado cem pessoas e capturado 31 quilombolas, de um total de seis mil que viviam no principal acampamento (9). A rivalidade entre portugueses e holandeses seguramente contribuiu para o crescimento de Palmares e, com a retirada desse �ltimos, os ataques aos assentamentos, que j� eram nove, intensificaram-se no per�odo entre 1654 e 1667. A partir de 1670 ofensivas quase anuais visavam destruir o Estado rebelde, governado por Ganga Zumba, entre 1670 e 1687 (10). Acusado de colaboracionismo, Ganga Zumba foi morto e sucedido por seu sobrinho Zumbi, rei entre 1687 e 1694, iniciando um per�odo de guerras mais intensas, que culmiram com a expedi��o comandada pelo paulista Domingos Jorge Velho (11). Em fevereiro de 1694, ap�s um s�tio de 42 dias, Macaco foi tomada e Domingos Jorge Velho reivindicou o butim, tendo vitimado 200 quilombolas e aprisionado 500, a serem vendidos fora da capitania (12). Duzentos teriam fugido, entre os quais Zumbi, capturado e morto em 20 de novembro de 1695.
Nas duas campanhas de prospec��o, em 1992 e 1993, foi poss�vel identificar 14 s�tios arqueol�gicos na Serra da Barriga, apenas um deles posterior ao quilombo dos Palmares (13). Os outros s�tios puderam ser datados pela presen�a de maj�lica ou cer�mica vidrada, caracterizada por um brilho opaco que cont�m �xido de estanho. A localiza��o dos s�tios n�o parece ser fortuita pois, � exce��o do s�tio 11, datado do s�culo XIX, os s�tios restantes situam-se na parte superior ou na face sul, com um poss�vel alinhamento de s�tios de observa��o nos costados a sudeste. Os s�tios 10, 13, 8, 6, 9, 7 e 5 formam uma linha leste/oeste, ao sul da Serra, defronte ao rio Munda�. Ainda que seja prematuro aventar hip�teses sobre a funcionalidade dos s�tios, cuja densidade de ocupa��o ainda n�o � poss�vel determinar, os futuros trabalhos poder�o melhor relacionar esse alinhamento e a estrutura geral do assentamento quilombola.
A cer�mica vidrada encontrada no s�tio pode ser enquadrada no amplo espectro denominado de maj�lica. A maj�lica foi, provavelmente, introduzida na Pen�nsula Ib�rica pelos mouros, tornando-se popular apenas com a Reconquista, a partir do s�culo XIII (LISTER; LISTER, 1976, p.1-2). Cer�micas relacionadas s�o as faian�as francesas, holandesas e inglesas (delft). Os fragmentos provenientes da Serra da Barriga n�o podem ser considerados compar�veis � maj�lica fina da �poca, devendo ser encarada como um material utilit�rio e derivado (14). Um dos fragmentos apresenta duas faixas paralelas avermelhadas, com fundo verde amarelado, enquanto outras pe�as, de diferentes formas, possuem um vidrado que varia do amarelado ao esverdeado. Este tipo cer�mico, associado � cer�mica comum encontrada na Serra da Barriga, confirma a ocupa��o da �rea no s�culo XVII (15).
De um total de 2.448 artefatos coletados, mais de noventa por cento s�o objetos de cer�mica (16). Um grande vaso, encontrado enterrado h� 15 cent�metros de profundidade, merece alguns coment�rios. Hav�amos tra�ado dois transeptos, ou linhas norte/sul e leste/oeste, e test�vamos, a cada dez metros, com uma p�, a �rea imediatamente � frente dos monumento a Zumbi, quando encontramos, no teste de 40 metros norte, um grande vaso enterrado em �poca colonial (17). No topo do vaso, em sua parte exterior, encontramos dois machados l�ticos com seus fios para baixo, apoiados nas bordas do vaso. Ambos encontravam-se in situ e n�o apresentavam sinais de uso, o que sugere um car�ter ritual ou apotropaico. Na parte superior interna do vaso, encontramos um segundo vasilhame, fragmentado mas completo, escuro, de paredes finas (0,54 cm), com di�metro, na boca, de 36 cm. No fundo do grande vaso encontramos 31 fragmentos diminutos de cer�mica.
A interpreta��o desse achado n�o � simples. Uma primeira hip�tese poderia relacionar o vaso aqueles de tipologia tupinamb� (18). Poderia tratar-se, seguindo uma tradi��o de cemit�rios ind�genas pr�-cabralinos, de uma urna funer�ria, na medida em que toda a �rea circundante apresenta abundantes vest�gios superficiais de vasos desse tipo. Entretanto, a presen�a dos machados, do vaso no topo e dos fragmentos cer�micos no fundo sugerem outras possibilidades. Poderia tratar-se de um dep�sito de gr�os ou outros materiais, o que explicaria o vaso no topo e os fragmentos ao fundo (19). Os machados serviriam, nesse caso, para proteger o vaso e seu conte�do. A pr�pria forma do vaso pode ser relacionada � �frica, pois os Mbundu, em Angola, utilizam recipientes muito semelhantes (20). Talvez fosse poss�vel aventar a hip�tese de que as �ndias tivessem produzido esses vasos, usados no assentamento quilombola, segundo sua t�cnica tradicional tupinamb�, mas cuja forma n�o era estranha aos africanos e cujo uso poderia ser mais pr�ximo dos costumes b�ntus do que amer�ndios (21). De qualquer forma, a presen�a de cer�mica ind�gena em assentamentos coloniais n�o devia ser excepcional e o caso da cidade espanhola de Santa F� La Vieja, no nordeste da Argentina, ocupada de 1573 a 1660 parece indicar que uso de cer�mica local n�o-hisp�nica, de tipo tupi-guarani, era bastante difundida. N�o se estranharia tend�ncia semelhante no quilombo de Palmares (22).
Os resultados preliminares das prospec��es arqueol�gicas na Serra da Barriga indicam que o tema crucial para a compreens�o do quilombo relaciona-se com a etnicidade dessa comunidade. Stuart Schwartz (1987, p.84-86) talvez tenha sido o historiador que melhor tenha desenvolvido a tese de que Palmares era uma sociedade muito claramente africana:
As tradi��es de Angola claramente predominaram. Os residentes referiam-se a Palmares como angola janga (pequena Angola) [...] O ki-lombo, uma sociedade a qual qualquer homem podia pertencer por meio do treinamento e inicia��o, servia �quele prop�sito. Encontra-se, pois, uma institui��o designada para a guerra, a qual podia incorporar grande n�mero de estranhos desprovidos de ancestrais comuns a um poderoso culto guerreiro [...] Uma figura fundamental no ki-lombo era o nganga a zumba, um sacerdote cuja responsabilidade era tratar com o esp�rito dos mortos. O ganga zumba de Palmares era provavelmente o detentor desse cargo. [...] Devemos considerar os aspectos africanos de Palmares n�o como "sobreviventes" desincorporados de seu meio cultural original, mas como um uso muito mais din�mico e talvez intencional de uma institui��o africana na forma especificamente designada para criar uma comunh�o entre povos de or�gens d�spares e fornecer uma organiza��o militar eficiente. Certamente os escravos fugidos do Brasil adequam-se a essa descri��o".
Essa interpreta��o segue uma tradi��o de associar-se os costumes de Palmares com aqueles de Angola (BOXER, 1973, p.140). Contudo, a assimila��o do ki-lombo angolano com o quilombo de Palmares parece, � luz dos estudos de africanistas, insustent�vel. De fato, o termo quilombo s� foi usado no Brasil em 1691, segundo Schwartz, estando ausente dos documentos anteriores que se referem a Palmares. O ki-lombo angolano, por sua parte, foi um movimento guerreiro muito espec�fico e ef�mero, datado do segundo quartel do s�culo XVII (23), posterior, portanto, ao in�cio de Palmares. Por outro lado, John Thornton tem ressaltado que os contatos culturais, na pr�pria �frica, entre europeus e africanos era muito mais intensos do que se costuma admitir (24) e sugere que, nas Am�ricas, "os escravos n�o eram militantes culturamente nacionalistas, que procuravam preservar tudo que fosse africano mas, ao contr�rio, mostravam grande flexibilidade para adotar e mudar sua cultura" (THORNTON, 1992, p.206). Em geral, portanto, pode afirmar-se que os africanos, na Am�rica, passavam a forjar culturas especificamente americanas, diversas das africanas (GLASSMAN, 1991, p.278 et passim).
Nesse contexto, n�o � de se estranhar as refer�ncias ao catolicismo em Palmares, nem � presen�a de mouros, brancos e �ndios no quilombo, presen�as cuja inser��o no ki-lombo imbangala seria impens�vel. Segundo diversos estudiosos, as persegui��es coloniais fariam com que Palmares pudesse atrair uma pletora de grupos marginalizados pela ordem vigente (25). O trabalho arqueol�gico em Palmares, embora ainda muito inicial, j� demonstra que, apenas a partir da cer�mica, pode supor-se que ali conviviam pessoas de diversas origens �tnicas e culturais. Este car�ter multi�tnico deriva, em parte, da situa��o hist�rica e estrat�gica de Palmares. Os quilombos estabeleceram-se em uma regi�o circundada por nativos, a oeste, por moradores e fazendeiros, na costa e, entre 1630 e 1654, os holandeses a nordeste. Os mocambos sobreviveram n�o apenas em confronto com esses grupos como, necessariamente, em intera��o. Na verdade, faziam parte de um contexto internacional ainda mais amplo, pois a pr�pria escravid�o colonial era o resultado do capitalismo mercantil europeu (NOVAIS, 1991, p.11-56).
A continuidade do trabalho arqueol�gico na Serra da Barriga, prevista para os pr�ximos anos, permitir� passar das proscpe��es, efetuadas nas duas primeiras etapas de campo, para escava��es. Os primeiros resultados indicam que h� ainda muito a fazer, mas as perspectivas s�o, tamb�m, bastante amplas. O interesse por Palmares, tanto no Brasil como no exterior, tem sido acentuado, em parte gra�as �s prospec��es arqueol�gicas (26). Seu prosseguimento dever� trazer dados in�ditos que permitam repensar esse grande Estado rebelde.
Notas
* Texto publicado na Revista USP, 28, 6-13, 1996.
(1) O nome "rep�blica", utilizado nos documentos do s�culo XVII � uma tradu��o, ao vern�culo, do termo latino ent�o corrente, res publica, usado para designar qualquer Estado; cf. �dison Carneiro, O Quilombo de Palmares, S�o Paulo, 1988, p.33. Termos de origem africana, como mocambo e quilombo, foram introduzidos posteriormente, em geral com conota��es pejorativas. Nos documentos que se referem a Palmares, o assentamento rebelde � chamado de mocambo, "esconderijo", segundo KENT, R.P., Palmares: an African State in Brazil, in PRICE, R. (Org), Maroon societies, Baltimore, 1979, p.174.
(2) Ver o volume organizado por Orser, Historical Archaeology on Southern Plantations and Farms, Ann Arbor, 1990, com bibliografia anterior.
(3) Obtivemos fundos da Illinois State University, National Geographic Society, National Science Foundation, Joint Committe on Latin American Studies of the Social Science Research Council, American Council of Learned Societies, National Endowment for the Humanities, Ford Foundation e apoio institucional do N�cleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de Alagoas, Museu Th�o Brand�o (Macei�), da prefeitura de Uni�o dos Palmares e do Estado de Alagoas; a participa��o, na etapa de campo, de Michael Rowlands foi financiada pelo British Research Council.
(4) A localiza��o dos outros mocambos ou aldeias n�o � segura, como fica claro ao compararmos os mapas apresentados por D�cio Freitas, Palmares: A Guerra dos Escravos, Porto Alegre, 1984 e por Zezito de Ara�jo, Serra da Barriga: Exposi��o de Motivos para o Tombamento, Macei�, 1985.
(5) KENT, op.cit., pp.180-1 relaciona os nomes Aqualtene, Dombrabanga, Zumbi, Andalaquituche a idiomas b�ntus; Subupira e Tabocas s�o top�nimos tupis, segundo Teodoro Sampaio, em seu dicion�rio O Tupi na Geografia Nacional, S�o Paulo, 1987; a capital, Macaco, conhecida nos documentos da �poca como Oiteiro da Barriga (hoje, Serra da Barriga), pode ser portugu�s ou uma m� interpreta��o do termo b�ntu mococo; Amaro � de origem portuguesa.
(6) A Serra da Barriga localiza-se, aproximadamente, a 9 graus 10'00" Sul e 36 graus 05'00" Oeste, medindo cerca de 4.000 metros de leste a oeste e 500 a 1.000 metros de norte a sul. A altitude varia de 150 a 560 metros acima do n�vel do mar; cf. ORSER JR. Charles E., In: Search of Zumbi: Preliminary Archaeological Research at the Serra da Barriga, State of Alagoas, Brazil, Normal, Illinois State University, 1992, pp.14-15 et passim.
(7) Sempre levando em conta que "toda sociedade deixa registros que procuram apresentar suas pr�prias vis�es e respostas que se ajustem a um ambiente pol�tico espec�fico", segundo John Thornton, "The Correspondence of the Kongo Kings, 1614-35, Problems of Internal Written Evidence on a Central African Kingdom", Paideuma, 33, 1987, p.420.
(8) Gaspar Barleus, em seu Hist�ria dos feitos recentemente practicados durante oito anos no Brasil, Belo Horizonte, 1974 (originalmente publicado em 1647), p.253, refere-se a que "certo Bartolomeu Lintz vivera entre eles para que, depois de ficar-lhes conhecendo os lugares e o modo de vida, atrai�oasse os antigos companheiros".
(9) � dif�cil avaliar a veracidade desses n�meros, que poderiam estar inflados. De qualquer forma, dos 31 quilombolas capturados, sete eram �ndios e alguns crian�as mulatas.
(10) H� muitas evid�ncias da religiosidade associada ao poder, tanto na �frica como em Palmares. O t�tulo nganga era usado para designar "sacerdote", tanto nas religi�es tradicionais b�ntus como no catolicismo africano, segundo Jean Nsond�, "Christianisme et religion traditionelle au pays Koongo aux XVII-XVIIIe. si�cles", Cahiers d'�tudes Africainnes, 128, 23, 4, pp.705-711. A import�ncia da liga��o entre o exerc�cio do poder e o controle do sagrado na �frica b�ntu tem sido ressaltada por Michael Rowlands, "From Tribe to State in West Central Africa", Symposium at Cascais on Critical Approaches in Archaeology: Natural Life, Meaning, and Power, manuscrito in�dito, p.29 e Michael Rowlands e Jean Pierre Warnier, "Sorcery, Power, and the Modern State in Cameroon", Man (NS), 23, 1992, pp.118-132. Sobre o t�tulo nzumbi, ver Tulu Kia Mpansu Buakasa, "Croyances et connaissances", em Th�ophile Obenga e Sim�o Souindoula (orgs), Racines Bantu, Libreville, 1991, p.179.
(11) O termo nzumbi possui conota��es militares e religiosas a um s� tempo.
(12) Segundo o preceito romano reconhecido � �poca: iuste possidet, qui auctore praetore possidet.
(13) S�tio n�mero 11, com maj�lica, creamware, pearlware, whiteware, stoneware, material datado entre fins do s�culo XVIII e in�cio do XIX; cf. Charles E. Orser Jr., In: Search of Zumbi, The 1993 Season, Normal, 1993, pp.3-6 e Pedro Paulo A. Funari, "The Archaeolgy of Palmares and its Contribution to the Understanding of the History of African-American Culture", Historical Archaeology in Latin America, 7, 1994, p.30.
(14) Os fragmentos podem associar-se � maj�lica portuguesa ou, talvez mais provavelmente, �quela holandesa, pois a semelhan�a da colora��o com o material daquela proveni�ncia, encontrado na Am�rica do Norte, pode ser observada; cf. Charlotte Wilcoxen, Dutch Trade and Ceramics in America in the Seventeenth Century, Nova Iorque, 1987, prancha 5 et passim). Compare-se com a maj�lica contempor�nea em �frica, em James Kirkman, Fort Jesus: A Portuguese Fortress on the East African Coast, Oxford, 1974, pp.119-121.
(15) Pr�-historiadores, tanto no Brasil como no exterior, t�m dificuldade em admitir a presen�a concomitante, em s�tios hist�ricos, de cer�micas de tipo ind�gena misturadas com cer�mica colonial. H� quem proponha tratar-se de duas ocupa��es sucessivas, pr�-hist�rica e colonial. Essas hip�teses revelam, contudo, desconhecimento das caracter�sticas dos s�tios coloniais, cuja cultura material apresenta elementos europeus, ind�genas e mesclas, associados. Desconhecem, tamb�m, os documentos hist�ricos que se referem aos s�tios coloniais e que, se lidos, permitem constatar que artefatos "pr�-hist�ricos" eram usados nos assentamentos coloniais. Estas considera��es surgiram de conversas com Susan Alcock e Carla Sinopoli a respeito da rea��o de alguns pr�-historiadores quando de uma palestra sobre os trabalhos na Serra da Barriga, em agosto de 1995, em Simp�sio organizado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de S�o Paulo. Infelizmente, as caracter�sticas da Arqueologia Hist�ria ainda s�o largamente desconhecidas pelos pr�-historiadores, induzindo a erros crassos de julgamento.
(16) 91% cer�mica comum, 4,5% cer�mica trabalhada, 1,3% l�ticos, 0,6% vidro, 0,1% metal e 1,9% outros materiais variados.
(17) O objetivo desses transeptos era averiguar os danos arqueol�gicos causados pelo uso de um trator, por alguns anos sucessivos, a fim de "limpar" a �rea, tornando-a um local mais apraz�vel para os festejos do dia da consci�ncia negra, 20 de novembro. Como era esperado, toda a �rea (s�tio 1) diante do monumento foi muito afetada pela remo��o dos vest�gios.
(18) Cf. Jos� Joaquim Justiniano Proenza Brochado, An Ecologial Model of the Spread of Pottery and Agriculture into Eastern South Am�rica, Urbana, Tese de Doutoramento in�dita, figura 16 et passim.
(19) Merran McCulloch refere-se a tais vasos entre os Mbundu (Ovimbundu), em Angola, em seu The Ovimbundu of Angola, Londres, 1952, p.15.
(20) Wilfred D. Hambly, The Ovimbundu of Angola, Chicago, 1934, p.368 e prancha XIV.
(21) Assim, um vaso de tipo ind�gena poderia ser reapropriado pela popula��o mesti�a do quilombo como um recipiente de armazenamento.
(22) Andr�s Zarankin, "Arqueologia Hist�rica urbana en Santa Fe La Vieja: el final del principio", Historical Archaeology in Latin America, 10, 1995, p.56, figuras 13 e 14; cf. p.94: el sistema espa�ol implantado en America Latina, a diferencia del Brit�nico en Am�rica del Norte, fue relativamente flexible en lo que repecta a la integraci�n de diferentes grupos �tnicos a la sociedad colonial. Ello se refleja en que, desde los primeros tiempos, el colonizador Hisp�nico acostumbr� tomar como servientes, concubinas, o esposas a integrantes de la poblaci�n ind�gena local.
(23) Joseph C. Miller apresenta, em seu Kings and Kinsmen, Early Mbundu States in Angola, Oxford, 1976, pp.160-260 et passim, um estudo detalhado das origens, caracter�sticas e transforma��es do ki-lombo. Sua inser��o no contexto local impossibilitaria sua "exporta��o" para a realidade do mundo colonial americano, dominado pela escravid�o colonial e pelos amer�ndios, inexistentes em �frica.
(24) A respeito do Kongo, ver John Thornton, "Early Kongo-Portuguese Relations: a New Interpretation", History in Africa, 8, 1981, 183-202.
(25) Por exemplo, Jos� Fl�vio Sombra Saraiva, "Silencio y ambivalencia: el mundo de los negros en Brasil", Am�rica Negra, 6, 1993, p.46; Eugene D. Genovese, From Rebellion to Revolution. Afro-American Slave Revolts in the Making of the Modern World, Baton Rouge, 1981, p.62.
(26) No exterior, a m�dia tem dado grande destaque ao trabalho; cf. David Keys, "South America's lost African Kingdom", The Independent, Oct.19th, 1993, p.23; Brian Fagan, "Brazil's Little Angola", Archaeology, July/August, 46, 1993, pp.14-19; Anver Versi, "The Lost Kingdom", Nes African Life, December 1993, p.9; Entrevista de P.P.A. Funari � British Broadcast Corporatiom, 24/10/1993. No Brasil, diversos �rg�o de imprensa tem publicado artigos, entre os quais, Ricardo Bonalume Neto, "O Pequeno Brasil de Palmares", Folha de S�o Paulo, 4/6/95, 5-16; Pablo Pereira, "Arqueologia tenta desvendar vida em Palmares", O Estado de S�o Paulo, 25/6/95, A28.
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Agradecimentos
Devo agradecer a diversos colegas que, de diferentes modos, ajudaram na elabora��o desse artigo, embora a responsabilidade pelas id�ais seja somente minha: Zezito de Ara�jo, Jos� Proen�a Brochado, Jonathon Glassman, Joseph Miller, Charles E. Orser Jr., Michael Rowlands e John Thornton.