Desde o seu in�cio, o governo do general Geisel (1974-1979) se prop�s a realizar a abertura pol�tica do regime militar, colocando-o em um caminho que o conduziria ao seu final. Para Geisel e seu grupo, que assumiam o poder ap�s dois governos da linha dura das For�as Armadas � Costa e Silva (1967-1969) e M�dici (1969-1974) � o regime militar padecia de uma contradi��o interna.
Quando grupos de esquerda se definiram pela luta armada como �nica forma de derrotar o regime e passaram a atuar na clandestinidade fazendo assaltos a bancos e seq�estros, os militares da linha dura se viram amparados para implantar um esquema repressor que eliminasse os opositores ao regime. Foi no fim do governo Costa e Silva que a repress�o come�ou a se institucionalizar dentro do Estado, com a cria��o da Opera��o Bandeirantes (OBAN) e com os DOI-CODI (Destacamento de Opera��es e Informa��es e Centro de Opera��es de Defesa Interna). Os grupos de luta armada n�o resistiram � organiza��o e aos m�todos de terror dos grupos de repress�o e em cerca de dois anos foram desbaratados. No entanto, a for�a dos grupos de repress�o escapou do controle das autoridades do Estado, produzindo um problema de hierarquia. Oficiais de patentes inferiores com a informa��o em suas m�os tinham o poder de vida e morte sobre membros da sociedade civil, independentemente das decis�es de seus superiores. Essa quebra da hierarquia, algo t�o caro aos n�veis mais altos do comando militar, assustava Geisel e o seu chefe da Casa Civil, o tamb�m general, Golbery do Couto e Silva, que tamb�m por isso, procuraram promover a distens�o do regime militar.
Mas o governo Geisel n�o se pautou apenas em promover a abertura pol�tica. O governo Geisel foi o respons�vel pelo Pragmatismo Respons�vel, um projeto de pol�tica exterior pelo qual o Brasil procurou ampliar suas rela��es com outros pa�ses, saindo dos limites estreitos das rela��es hemisf�ricas, marcadas pela subordina��o aos Estados Unidos. Sendo assim, era previs�vel, que em algum momento os interesses brasileiros se confrontariam com os interesses norte-americanos, afinal uma pol�tica externa aut�noma de qualquer pa�s latino-americano significa, em �ltima an�lise, um questionamento � lideran�a dos Estados Unidos sobre nosso continente.
Esse choque ocorreu de forma clara durante o governo Geisel com a assinatura do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, quando o pa�s necessitando reorientar sua economia para escapar da vulnerabilidade energ�tica e da depend�ncia tecnol�gica norte-americana procurou a Rep�blica Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental) como parceria para um projeto de transfer�ncia completa da tecnologia nuclear. Esse � o objetivo deste artigo, conhecer um pouco mais o Pragmatismo Respons�vel, como pol�tica externa voltada ao desenvolvimento econ�mico, e especialmente o momento de maior afastamento entre Brasil e Estados Unidos, simbolizado no Acordo Nuclear assinado com a Alemanha Ocidental.
Este texto est� organizado em tr�s partes. Na primeira, tratamos do II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) como op��o do governo Geisel (1974-1979) pelo desenvolvimento econ�mico e do Pragmatismo Respons�vel como pol�tica externa voltada para a consecu��o dos objetivos propostos no plano. Na segunda parte abordaremos de forma retrospectiva as rela��es entre o Brasil e os Estados Unidos a partir do final da 2� Guerra Mundial, mostrando o distanciamento progressivo entre os dois pa�ses que atingiria seu �pice durante o governo Geisel (1974-1979). A �ltima parte, continuamos abordando as rela��es Brasil-Estados Unidos, mas nos concentrando no governo Geisel, com especial enfoque ao Acordo Nuclear Brasil-Alemanha.