Atualizado em 14 de mar�o de 2004
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Livros

Livro: Lais de Maria de Fran�a
Autor(es): Antonio L. Furtado (Tradutor)
Editora: Vozes
Ano: 2001
Nº de páginas: 160



Escritos no s�culo XII quando a Europa Ocidental vivia a sua �Renascen�a� e desfrutava a delicada experi�ncia da cortesia, os �Lais de Maria de Fran�a� mostram aos leitores do s�culo XXI um retrato elaborado com finas cores da sociedade medieval e, principalmente, de elementos da cultura celta que est�o presentes em alguns lais.


Esses textos denominados �lai� t�m a sua origem na palavra celta �laid� que significa �canto�. Portanto, essas composi��es na sua origem provavelmente foram cantadas, acompanhadas do ala�de e das flautas, e foram compostas por uma mulher da qual, pouco se conhece da sua biografia (a hip�tese mais prov�vel � que foi mais-irm� do rei Henrique II da Inglaterra). Esses lais carregam em suas linhas elementos importantes para o estudo da cultura e da sociedade celta.


H� tr�s lais que chamam a aten��o quando tratamos dos elementos celtas. S�o eles: �Freixo�, �Dois Amantes� e �Madressilva�. Este �ltimo nos apresenta o epis�dio da madressilva e da aveleira, passagem de Trist�o e Isolda , uma das mais populares narrativas medievais.


O lai �Freixo�, tem o nome de uma frondosa e bela �rvore que na mitologia celta tem car�ter sagrado. O freixo, (Fraxinus Excelsior) � uma �rvore que tem o poder de afugentar cobras e de proteger todos aqueles que est�o sob a sua sombra, segundo a mitologia e as cren�as que surgiram em torno da grande �rvore.


Essa �rvore � respons�vel pela liga��o com o mundo dos deuses ( na mitologia n�rdica o Feixo � Yggdrasil, a �rvore do Mundo) e pela prote��o para os homens. Encontramos narrado nesse lai a hist�ria da menina de origem nobre que � abandonada sob um freixo: � [...] largo e copado, muito espesso e frondoso, dividia-se em quatro ramifica��es. Fora plantado para dar sombra.� �[...] porque fora achada no freixo, Freixo foi o nome que lhe deram e todos a chamavam Freixo.� ( p. 68-69).


Esses s�o elementos importantes para entendermos o car�ter sagrado da natureza e a intera��o entre o mundo sagrado e o humano.


�Dois Amantes� narra uma aventura passada na Normandia (noroeste franc�s, regi�o vizinha � Bretanha, regi�o fortemente marcada pela cultura celta) e a autora nos informa que foram os Bret�es que fizeram um lai para contar essa aventura.


Uma bela jovem filha de um rei ser� dada em casamento aquele que conseguir escalar um alto morro carregando-a em seus bra�os sem parar para descansar.


A donzela conhece um belo jovem e os dois se apaixonam, e para conseguir cumprir a tarefa exigida pelo rei recorrem a uma mulher s�bia, parente da jovem, para que prepare uma po��o que d� for�as ao jovem. Mas, com a donzela nos bra�os esquece a po��o e cai morto no pico do morro. A miss�o fora cumprida. A jovem enlouquecida pela morte do amado joga o frasco com a po��o que se espalha na terra trazendo fertilidade ao lugar e alegria aos seus moradores.


A presen�a de uma mulher, parente da jovem que �[...] tanto praticou a arte da medicina que � muito perita em rem�dios, tanto conhece ervas e ra�zes� (p. 97) mais uma vez nos remete aos celtas: a presen�a da mulher mais velha detentora do conhecimento das artes da cura que se coloca a servi�o do amor entre os jovens.


No lai �Madressilva� que tamb�m � conhecido pelo nome franc�s �Chievrefoil�, nos conta o encontro de Trist�o e Isolda numa floresta.


Desesperado por estar distante de sua amada Trist�o molda um bast�o com um galho da aveleira e escreve a mais marcante frase da narrativa de Trist�o e Isolda:


-Bela amiga, entre n�s � assim:
nem eu sem v�s, nem v�s sem mim�.(p.131)


Escreve isso porque observa o que acontece com a madressilva e a aveleira: quando elas se entrela�am podem viver por um longo per�odo, mas separadas, morrem, uma em seguida da outra.


Esses tr�s lais nos d�o uma mostra do que � poss�vel encontrarmos nas pequenas narrativas escritas por Maria de Fran�a: um mundo envolto em magia, onde ocorrem as metamorfoses de um pr�ncipe em cisne para conquistar sua amada, como acontece no lai �Milun�, ou ent�o, a maldi��o que persegue o pr�ncipe em �Homem-Lobo�.


As mulheres s�o descritas de maneira singular: envoltas nos seus v�us e brocados ocultam as suas estrat�gias para estarem junto dos seus amados.


A natureza est� sempre presente pelas �rvores: freixo, a aveleira e a madressilva que nos remetem ao mundo natural, o que, para os celtas representava o elo de liga��o entre os homens e o mundo sagrado.


Os lais est�o permeados por elementos m�gicos e naturais, o que nos leva a vislumbrar o mundo com os olhos dos celtas, onde o sagrado e o humano vivem em harmonia e colocam as mulheres muitas vezes como interlocutoras entre esses dois universos.


A tradu��o brasileira realizada por Antonio L. Furtado � cuidadosa e oferece ao leitor um texto leve e melodioso, conservando em suas linhas a musicalidades herdada dos celtas. O pref�cio de Marina Colasanti � o convite para um passeio no mundo celta descrito em cada lai.


O p�blico brasileiro � estudioso ou n�o da Idade M�dia - ganhou muito com a publica��o dos �Lais de Maria de Fran�a�, n�o s� pela excelente tradu��o diretamente do franc�s antigo mas por ter em m�os uma obra que oferece uma das chaves para o conhecimento do mundo celta e da sociedade medieval do s�culo XII.


Luciana de Campos


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