Sobre a homossexualidade na Gr�cia Antiga |
Luiz Augusto de Freitas Guimar�es
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Antes de nos aprofundarmos no tema em quest�o, faz-se necess�rio definir o que significa homossexualidade. Recorrendo ao dicion�rio Aur�lio da L�ngua Portuguesa encontramos homossexual como relativo � afinidade, atra��o e/ou comportamento sexuais entre indiv�duos do mesmo sexo. No entanto, a palavra homossexual � origin�ria do s�culo XIX a partir do grego homo (igual) e do latim sexus. Com isso enfatizamos que na Gr�cia Antiga tal express�o inexistia.
Encontramos a pederastia, que para os gregos era o amor de um homem (geralmente com idade acima de trinta anos) por um adolescente (entre os quatorze e dezesseis anos). A rela��o sexual entre pessoas adultas do mesmo sexo n�o era comum e, quando ocorria, era reprovada, principalmente entre dois homens, pois havia a preocupa��o com a quest�o da passividade. Um homem n�o podia ter complac�ncias passivas com outro homem, muito menos se este fosse um escravo ou de classe inferior.
A pr�tica da homossexualidade dentro do contexto da pederastia n�o era excludente. Ou seja, o fato do homem ter sua esposa n�o era impedimento para que se relacionasse com um adolescente. E nem o fato de se relacionar com o adolescente significava o fim do seu casamento. A pederastia dificilmente alterava a imagem do homem perante a sociedade, pois o amor ao belo, ao sublime e o cultivo da intelig�ncia e da cultura n�o tinha sexo. Conden�vel era a busca do sexo pelo sexo.
Al�m do componente et�rio, a rela��o de pederastia inclu�a a quest�o do status social, nesse sentido o homem deveria ter ascend�ncia intelectual, cultural e econ�mica sobre o adolescente. Afinal, ele complementaria a forma��o do jovem, iniciando-o nas artes do amor, no estudo da filosofia e da moral.
Havia toda uma ritualiza��o envolvendo a aproxima��o do homem que estivesse interessado por um adolescente. A �corte� era necess�ria para que a rela��o tivesse o car�ter de bela e moralmente aceita. Os pap�is nesse caso eram bem definidos, o homem (erastes) fazia a corte e o adolescente (er�meno) era o cortejado, podendo deixar-se conquistar ou n�o.
O homem, ao cortejar, presenteava, prestava favores, ia ao gin�sio ver o adolescente se exercitar (e geralmente se exercitava nu) e praticava com ele os exerc�cios f�sicos at� a exaust�o, uma vez que n�o possu�a o mesmo vigor f�sico da juventude. O adolescente, por sua vez, deveria ser gentil e ao mesmo tempo por � prova o amor do pretendente. A conquista era incerta, pois caberia ao jovem a palavra final.
Quando deveria acabar a rela��o de pederastia? T�o logo aparecesse no adolescente os primeiros sinais de virilidade, a primeira barba, que por volta dos 17 ou 18 anos j� era evidente. Permanecer nessa rela��o ap�s o advento da virilidade era reprov�vel, principalmente para o homem, j� que estaria se envolvendo com outro homem.
A rela��o entre pessoas do mesmo sexo teve lugar tamb�m em Esparta, por�m com um sentido um pouco diferente da vista em Atenas. Al�m das rela��es de pederastia, eram estimuladas as rela��es entre os componentes do ex�rcito espartano e tinha por objetivo torn�-lo mais forte. O que levava os comandantes do ex�rcito a estimular esse tipo de rela��o era o fato de acreditarem que um amante, al�m de lutar, jamais abandonaria outro amante no campo de batalha. O Batalh�o Sagrado de Tebas, famoso por suas vit�rias, era formado totalmente por pares homossexuais.
A homossexualidade feminina tamb�m teve seu lugar na Gr�cia Antiga. E, embora a mulher n�o ocupasse lugar de destaque e, por isso, a escassez de registros, � da antig�idade grega que prov�m o termo l�sbica, para indicar a mulher homossexual. Lesbos � o nome da ilha onde viveu a Safo, a famosa poetisa, que n�o escondia sua prefer�ncia sexual pelo mesmo sexo. E, j� que citamos Safo, vale nomear outros nomes conhecidos. Zeus, o deus grego, enamorou-se de tal forma pelo jovem Ganimedes, tal era sua beleza, que o levou para o Olimpo. Teseu seduziu n�o apenas donzelas no labirinto, mas tamb�m os monstros. Os fil�sofos S�crates e Plat�o e o legislador S�lon foram pederastas no sentido aqui explicitado.
Na Gr�cia Antiga, as rela��es entre homens, que hoje nomeamos de homossexualismo, eram quase sempre orientadas para finalidades espec�ficas e ultrapassavam a simples busca do prazer sexual. A pederastia visava a forma��o do jovem, tanto em Esparta quanto em Atenas. No ex�rcito espartano o amor entre soldados fortalecia o ex�rcito. Em nenhum dos dois casos estava exclu�da a rela��o com uma mulher, no presente ou no futuro. � com o advento do cristianismo que essas rela��es passam a ser vistas como pecaminosas.
Bibliografia
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DOVER, Kenneth J. A homossexualidade na Gr�cia antiga . S�o Paulo: Nova Alexandria, 1978.
FOUCAULT, Michel. Hist�ria da sexualidade 2 : o uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
SPENCER, Colin. Homossexualidade: uma hist�ria . S�o Paulo: Record, 1996.
TANNAHIL, Reay. O sexo na hist�ria . Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.
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